28 de Janeiro de 2015 - 15h:22

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Estoques e desvalorização cambial elevam confiança da indústria

Por: Valor Econômico

O aumento de 1,9% do Índice de Confiança da Indústria (ICI) entre dezembro e janeiro, na série com ajuste sazonal, é um indício de que a indústria conseguiu realizar ajustes de produção no último trimestre do ano passado e iniciar 2015 em um tom um pouco menos pessimista. "É um patamar baixo, mas um pouco acima do fundo do poço", avalia Aloisio Campelo, superintendente-adjunto para ciclos econômicos da Fundação Getulio Vargas (FGV). "Desde setembro, quando a confiança ficou no nível mais baixo no período recente, o que piorou no cenário em termos macroeconômicos, como sinalização de ajuste fiscal e pressão de custos, parece ter sido compensado por fim das incertezas ligadas às eleições, câmbio mais desvalorizado e certo ajuste de estoques", afirma Campelo. Para o economista, porém, "o preço da melhora da confiança foi desaceleração da produção" observada entre outubro e dezembro do ano passado. De acordo com a Sondagem da Indústria, a principal melhora se deu nos componentes sobre a avaliação da situação atual da indústria, com alta de 2,1% em janeiro, recuperando em parte a queda de 2,2% vista em dezembro, sempre em relação ao mês anterior. A avaliação da indústria sobre o nível de demanda interna subiu 12% no período, comenta Campelo, enquanto a percepção sobre a demanda externa também teve evolução favorável, com alta de 11,4% em janeiro. Em ambos os casos, comenta o superintendente, a avaliação pode estar relacionada à desvalorização da taxa de câmbio nos últimos meses, com estabilização de patamar em torno de R$ 2,60. "Temos uma melhora na percepção sobre demanda interna que pode ter a ver com processo de substituição de importados, com alguma proteção do real mais desvalorizado", diz. O mesmo vale para a demanda externa. Com taxa de câmbio mais favorável para exportações, os empresários podem estar conseguindo expandir sua carteira de pedidos internacionais. Os entrevistados que consideravam que a demanda externa estava fraca caíram de 27,9% em outubro para 12% em janeiro "Esse número não está necessariamente ligado a uma percepção de economia global mais forte, mas sim de que o câmbio está ajudando mais", comenta. O nível de estoques teve leve piora entre dezembro e janeiro, com alta de 1,1%, diz Campelo, mas boa parte do ajuste já ocorreu no último trimestre de 2014. A indústria ainda considera que os estoques estão excessivos, mas a tendência apontada pela média móvel trimestral ainda é de redução dos inventários. "O desequilíbrio mais forte que temos agora está no setor de bens de capital, já que duráveis está conseguindo melhorar o quadro", observa. Do lado das expectativas, que subiram 1,8% entre dezembro e janeiro, com ajuste sazonal, a melhora ocorreu principalmente no índice de produção prevista para os próximos três meses, que subiu 8,9% e entrou na zona de confiança "moderadamente baixa", enquanto os demais índices seguem mostrando quadro de maior pessimismo. "A indústria parece estar saindo do momento de férias coletivas generalizadas para voltar a ter algum aumento de produção". Ainda assim, observa Campelo, os empresários continuam a sinalizar que estão demitindo e não há indicador que mostre grande virada de percepção dos empresários sobre o futuro. "As incertezas com ajuste fiscal, situação energética e hídrica ainda estão aí e a perspectiva para a situação futura dos negócios nos próximos seis meses teve queda de 9,7%. A melhora em janeiro é insuficiente para construir novo cenário para a indústria", avalia.
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