27 de Novembro de 2015 - 15h:21

Tamanho do texto A - A+

Ramificações do BTG elevam risco à economia

Por: ZH Economia

A prisão do banqueiro André Esteves, personificação do BTG Pactual, oitava maior instituição financeira do país, embute riscos adicionais de contágio para a economia brasileira. As consequências do episódio que envolve um dos mais bem-sucedidos empresários nacionais têm potencial para não se limitarem às operações do banco de investimento e se alastrarem para outras empresas e setores, avaliam especialistas no mercado financeiro. A preocupação é justificada pela vasta ramificação dos negócios do BTG, dono ou sócio de dezenas de companhias.

Para o professor de finanças Gilberto Braga, do Ibmec Rio, o caso colabora para reavivar um ambiente de instabilidade e incerteza.

— O BTG é o maior banco de investimento independente do país e participa de diversas cadeias produtivas. Isso, de alguma forma, coloca um risco sistêmico sobre toda a economia brasileira. É mais um freio em um momento que deveríamos estar tentando sair da crise — entende Braga.

Com cerca de R$ 215 bilhões em recursos administrados, o BTG Pactual atua em diferentes mercados, como em fundos ligados a moedas, ações, commodities, gestão de fortunas e processos de fusões e aquisições. Por meio de suas controladas, participa de negócios que vão do setor de petróleo, passando pela indústria automobilística, academias, até distribuição de água em Barcelona, na Espanha.

— A equipe de profissionais que trabalha com o BTG tem reputação, mas os investidores vão olhar com mais cuidado as operações em que eles estão envolvidos — avalia José Junior de Oliveira, presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais/Extremo Sul (Apimec-Sul).

Um dos possíveis desdobramentos da prisão de Esteves é uma dificuldade maior de reorganização da Sete Brasil e pode respingar no polo naval gaúcho. A empresa, que tem o BTG como maior acionista, foi criada para viabilizar a construção de sondas que depois seria usadas pela Petrobras.

Três delas, originalmente, seriam construídas em Rio Grande. O banqueiro estava na linha de frente das negociações para reestruturar a empresa, com dívidas de US$ 3,6 bilhões. Nesta quinta-feira, no Rio, o estaleiro Brasfels anunciou a demissão de 2 mil trabalhadores. O motivo seria o atraso em pagamentos da Sete Brasil.

Monitorado pelo Banco Central (BC), o BTG enfrentou saques de investidores em seus fundos, mas teria situação financeira robusta. Após derreter 21% na quarta-feira, contagiando a maior parte dos papéis da bolsa brasileira, a ação do BTG recuou 2,86% nesta quinta-feira, mas o índice Ibovespa fechou no azul, com alta de 0,60%, ajudado pelos demais bancos.

As ramificações do BTG

Principais negócios em que o banco de investimento tem controle ou participação

Petróleo, construção naval e combustíveis

É o maior acionista individual da Sete Brasil, criada para contratar a construção e o aluguel de plataformas para a Petrobras. Envolvida na Operação Lava-Jato, tem problema de endividamento. É sócio da Petrobras na PO&G, que explora petróleo na África. Também controla a rede de postos de combustíveis DVBR, que leva a bandeira BR. É ainda minoritário da Bravante, no Rio de Janeiro, estaleiro e dona de frota de navios.

Financeiro

Conhecido como banco de investimentos, o BTG entrou no varejo com a compra do Banco Panamericano, que pertencia ao apresentador Silvio Santos. Foi rebatizado para Banco Pan. No ano passado, concluiu a compra dos bens e direitos do Bamerindus, renomeado Banco Sistema. Também em 2014, adquiriu a gestora de fortunas suíça BSI e 2% do italiano Banca Monte dei Paschi di Siena.

Energia

Tem 5% de participação na Equatorial Energia, distribuidora no Pará e no Maranhão. Como era uma das principais credoras da Eneva (ex-MPX Energia), que entrou em recuperação judicial, passou a ter 49% da empresa.

Farmácias

O grupo Brasil Pharma é outro negócio do BTG com dificuldades financeiras. No início do mês, vendeu a rede de drogarias Mais Econômica, com o maior número de pontos no Rio Grande do Sul. A Farmais é uma das redes da empresa.

Varejo

A rede fluminense Leader marcou a entrada do banco no segmento, em 2012. Hoje, são 93 lojas. Um ano depois a Leader adquiriu a paulista Seller, que soma mais 70 pontos de venda.

Hospitais

É um dos donos da rede fluminense de hospitais D´or São Luiz, com unidades em São Paulo, Rio, Pernambuco e Distrito Federal. Tem 15% do capital da empresa.

Academias

Tem participação minoritária na Bodytech Company, que soma 95 academias em 15 Estados e Distrito Federal.

Indústria automobilística

Desde 2010 é sócio minoritário na Mitsubishi Motors do Brasil, que tem uma fábrica em Catalão (GO).

Internet

Um dos fundos do BTG tem 5,9% das ações do portal de internet Uol.

Cabos submarinos

Em 2013, comprou da telefônica Oi a empresa de fibras ópticas Globenet, dona de uma malha de cabos submarinos com 22,5 mil quilômetros.

Telefonia

Por meio de um de seus fundos, o banco detém 7,7% do capital da Oi. O BTG é ainda protagonista na negociação para a fusão entre a Oi e a Tim.

Estacionamentos

A Estapar é controlada pelo conglomerado de Esteves. Maior empresa do ramo do país, conta com cerca de 900 estacionamentos que somam 360 mil vagas.

Imóveis

Com 35% do capital da BR Properties, uma das maiores do país na aquisição, locação, administração, incorporação e venda de imóveis comerciais, o BTG é o principal acionista da empresa.

Serviços ambientais

Controla a Estre Ambiental, que faz serviços como coleta e tratamento de lixo, limpeza e análise de resíduos e enfrenta dificuldades financeiras.

Saneamento

Na Espanha, tem 39% da ATLL, concessionária responsável pelo abastecimento de água em Barcelona e outras cidades próximas.

Esportes

Divide com a Andrade Gutierrez o controle da SPE Holding Beira-Rio,. responsável durante 20 anos pela a exploração comercial de diferentes áreas e serviços do estádio do Internacional.

VOLTAR IMPRIMIR