20 de Março de 2008 - 12h:57

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Justiça paulista decreta falência da ex-controladora da Parmalat

De acordo com o valor dado à causa, na então recuperação judicial da Parmalat Participações, a dívida da empresa pode chegar a cerca de R$ 2 bilhões.

Por: Valor On Line

A Justiça de São Paulo decretou a falência da Parmalat Participações do Brasil - a ex-controladora da Parmalat Alimentos no Brasil. Com a decisão, os credores da empresa já se preparam para, dentro do procedimento falimentar, questionar a diluição da participação da holding brasileira do grupo italiano na Parmalat Alimentos, que foi vendida a um fundo de investimentos e atualmente está em processo de recuperação judicial. Os credores também querem discutir uma possível responsabilidade dos atuais donos da Parmalat Alimentos por parte do pagamento destes créditos. De acordo com o valor dado à causa, na então recuperação judicial da Parmalat Participações, a dívida da empresa pode chegar a cerca de R$ 2 bilhões.

Os principais credores da holding tentavam há dois anos levar a empresa a um processo de falência, pois não aceitaram os dois planos de recuperação judicial apresentados pela empresa. A esperança deles é que dentro de um processo falimentar seja possível apurar eventuais responsabilidades na diluição da participação da holding na Parmalat Alimentos e ainda ter detalhado e recebido pela massa falida um crédito que existiria contra a Parmalat SpA, a empresa que fica na Itália.

O argumento para se chegar à Parmalat Alimentos é o de que a nova Lei de Falências e de Recuperação Judicial prevê que, dentro de um processo de recuperação judicial, não se pode alienar nenhum ativo. Acontece que o único ativo significativo da holding, segundo advogados dos credores, era a participação de 99% na Parmalat Alimentos. Em 2006, entretanto, também em recuperação, a Parmalat Alimentos foi vendida para o fundo de investimento em participações (FIP) Latin America Equity Partners (Laep). Todos os credores da Parmalat Alimentos aprovaram a venda. Mas a holding, como alegam advogados de credores, não participou do aumento de capital e deixou de ter 99% para possuir apenas 1% do capital da Parmalat Alimentos. Além disso, alegam que em nenhum momento foi lhes relatada a diluição desta participação.

Os argumentos podem tumultuar o processo de recuperação da Parmalat Alimentos, que anda muito bem. O advogado da empresa, Júlio Mandel, do escritório Mandel Advocacia, afirma que não é possível questionar a venda para o Laep, já que ela foi feita dentro dos termos da nova Lei de Falências e de Recuperação Judicial. "Um questionamento sobre este processo só geraria insegurança jurídica", diz Mandel. De acordo com ele, não existe qualquer vinculação entre a holding e a Parmalat Alimentos. "São empresas diferentes", afirma. O advogado lembra que, na época da diluição, não houve qualquer questionamento ou recurso em relação ao procedimento - que vem a ser cogitado agora, com a quebra da holding.

A falência da empresa foi decretada pelo juiz Alexandre Lazzarini, da 1ª Vara de Falências e Recuperação Judicial da Justiça de São Paulo, no dia 13 de março. O magistrado nomeou a empresa Capital Consultoria e Assessoria como administradora judicial da falência. O advogado da holding da Parmalat, Thomas Felsberg, do Felsberg e Associados, diz que ainda não está decidido se a empresa irá recorrer da decisão. De acordo com ele, existe base legal para um recurso contra a decisão da falência, mas diz não saber se há interesse econômico, por parte de seu cliente, em recorrer. "Os créditos devidos são bem superiores aos ativos da empresa", afirma.

Felsberg diz que acreditava na possibilidade de a Justiça vir a determinar a realização de uma nova assembléia de credores. Isto porque, como afirma, durante o processo chegou-se, por meio de uma perícia, à conclusão de que o banco Credit Suisse não seria credor da holding. O banco, de acordo com o advogado, foi um dos principais responsáveis pela rejeição dos planos de recuperação. O pedido de recuperação acabou sendo tumultuado em função desta discussão com o Credit Suisse. Mas mesmo sem a participação da instituição, os demais credores também rejeitaram o plano apresentado pela empresa.
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