23 de Setembro de 2008 - 13h:00

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Crise diminui crédito para a soja

Efeito Lehman

Por: A Gazeta - Alexandre Inácio

Se a crise financeira foi boa para os exportadores, por ter provocado valorização do dólar superior a 12% ao longo das três primeiras semanas de setembro, também fez com que os investidores saíssem do mercado de commodities, o que derrubou os preços de praticamente todos os grãos. No mesmo período, as cotações da soja em Chicago recuaram mais de 13%. Na prática, o feito positivo da valorização do dólar foi mais do que anulado pelo resultado negativo da queda das cotações no mercado internacional.

Analistas consideram que o feito da crise financeira nos Estados Unidos não terá tanto impacto sobre os preços da soja, já que eles tendem a ser compensados pelo câmbio. "Quando o dólar sobe, os preços em Chicago caem e vice-versa", afirma o analista da Céleres, Leonardo Menezes. Para ele, a volatilidade das cotações dos futuros e do dólar atrapalha tanto o produtor quanto as tradings na hora da fixação de preços, já que o mercado de uma forma geral fica mais cauteloso.

O efeito prático da crise financeira para o agronegócio brasileiro será sobre a concessão de crédito para o plantio. Cerca de 80% do financiamento da safra brasileira é feita por empresas privadas, sendo que as quatro maiores que atuam no Brasil são multinacionais. "As empresas não conseguem captar no mercado para poder emprestar para os produtores aqui no Brasil, já que o crédito ficou mais restrito para elas também", afirma Marcelo Duarte Monteiro, diretor-executivo da Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso (Aprosoja).

Para ele, as tradings já estavam mais cautelosas na concessão de crédito depois da disparada de preços que a soja teve no início do ano, que levou muitas a empresas a terem que usar caixa próprio para cobrir as chamadas de margem na bolsa. "Com isso, o acesso ao crédito ficou muito mais difícil. O reflexo disso é que o preço do fertilizante, por exemplo, já recuou muito em relação há alguns meses, mas o preço só vale para pagamento a vista", afirma Monteiro.

A expectativa da Aprosoja é de que haja uma queda no uso de tecnologia no plantio da safra 2008/09 e de que a produtividade da safra passada não se repita na que já está sendo plantada em algumas regiões de Mato Grosso. "Não seria nenhuma surpresa se tivéssemos uma queda entre 5% e 10% na produtividade da safra que está sendo plantada".

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