17 de Outubro de 2008 - 14h:30

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Eucaliptos ganham espaço entre as montanhas

Por: Valor Econômico

O sul de Minas Gerais, tradicional reduto de café do Brasil, está ganhando nova paisagem, ziguezagueada por eucaliptos, que aos poucos começam a "roubar" espaço dos cafezais. Essas árvores, muito altas e magras, matéria-prima para celulose, não chegam a ser uma ameaça ao plantio de café na região, mas se tornaram uma alternativa econômica importante, sobretudo por conta do período de baixa dos preços internacionais da commodity.

"A rentabilidade do café convencional está baixa. Investir em eucaliptos é um bom negócio", diz Gabriel de Carvalho Dias

Gabriel de Carvalho Dias, de tradicional família de cafeicultores, fatiou parte da fazenda Cachoeira para investir em eucaliptos. E ele não é o único. A propriedade, com 417 hectares, está com quase 30% ocupada por eucaliptos. A tendência é que essas árvores avancem mais o território da família Carvalho Dias: eucaliptos altos e magros dividirão cada vez mais área com os pés de cafés, mais baixinhos e bojudos. 

"A rentabilidade do café convencional está baixa. Neste momento, investir em eucaliptos é um bom negócio", diz Dias. Segundo ele, os cafezais hoje estão em uma área de 140 hectares na fazenda. Há dois anos, ocupavam 170 hectares. Carvalho Dias diz que não reduz a área dos cafés especiais, só abre mão dos pés de cafés velhos e com maus tratos culturais. 

Os eucaliptos também estão presentes nas regiões produtoras de café da Alta Mogiana paulista. Com um ciclo longo, de sete anos, como o da cana-de-açúcar (de seis anos), não precisa estar em uma área necessariamente muito plana. Esse detalhe, inclusive, explica em boa parte o fato da cana não ter invadido o sul de Minas. Os canaviais chegam aos poucos à região, mas só não avançaram mais porque os cafezais estão em uma área de maior declividade, o que não facilita a mecanização da cultura. Empresas, como a International Paper, estão próximas a essas áreas, o que também facilita a comercialização da madeira. 

A família Carvalho Dias só não conseguiu resistir à cana na região de Goiás, onde também possui fazendas produtoras de soja e milho. Lá, no sudoeste goiano, arrendaram áreas para o grupo Cosan, que está erguendo três usinas nos arredores de Jataí. "Apesar de quase toda a minha família ser de cafeicultores, fiquei em Goiás até 1994, dedicado à soja. Cheguei em Minas para ajudar um tio e não saí mais." 

Além do eucalipto, a noz macadâmia também tomou um pequeno naco dos cafezais da região sul do Estado, o maior produtor de café do país. A área com café no Brasil ocupa cerca de 2,4 milhões de hectares. 

As fazendas da Astro Café, uma das melhores torrefadoras do país, também não são 100% cultivadas com café. A de Irarema, na região de Poços de Caldas, produz 100% de café tipo bourbon e em outra fazenda, a Rancho Grande, em Espírito do Santo do Pinhal, onde fica a torrefadora do grupo, os cafezais dividem espaço com pomares de laranja. "Na fazenda paulista, o clima favorece o plantio de laranja também. Mas os cafés especiais são nossa menina dos olhos", afirma Raymond Rebetez, diretor-executivo do grupo. O grupo colhe nessa fazenda 200 mil caixas de laranja, que são vendidas para Louis Dreyfus Commodities. 

O grupo controla quatro fazendas, com uma produção de cerca de 25 mil sacas de café de 60 quilos. Em uma de suas fazendas do grupo, a Irarema, em São Sebastião da Grama, a Astro tem como sócio o grupo norueguês Friele, outro acionista da Ipanema Coffees, empresa na qual a Astro também tem participação. 

A tendência é que a cultura do café fica cada vez mais concentrada em suas tradicionais áreas, dividindo espaço com outras culturas mais rentáveis. (MS) 

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