20 de Outubro de 2008 - 14h:43

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Turbulência deve levar setor de fundos à consolidação

Por: Valor Econômico - Angelo Pavini

A crise internacional deve levar a uma consolidação do setor de gestão de recursos no Brasil, reflexo até da própria fusão ou fechamento dos bancos no exterior, afirma Marcelo Giufrida, presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid). Responsável pela BNP Paribas Asset Management, ele assume oficialmente a entidade hoje, em substituição a Alfredo Setubal, do Itaú, de quem era vice-presidente. Leonardo Rodrigues / Valor

Para Giufrida, a consolidação de bancos no exterior deve ter reflexos em suas subsidiárias no Brasil. Além disso, quando a turbulência baixar, os gestores locais devem reavaliar seus negócios e talvez haja consolidação. Especialmente no segmento de independentes, onde os saques elevados de multimercados podem ter inviabilizado economicamente algumas casas. No ano, os multimercados perdem R$ 41 bilhões e os renda fixa, R$ 51 bilhões. 

O presidente da Anbid faz um paralelo com outro período de aversão a risco, iniciado na crise da Ásia, em 1997, e que só acabou em 2002. "Entre 2000 e 2002, tivemos mais de 20 negócios de consolidação de assets, como o HSBC comprando o CCF, o Itaú com o BBA, o Bradesco com o Mercantil de São Paulo e o Deutsche Bank, é um processo normal no fim de um período de aversão ao risco", diz. O próprio BNP assumiu as operações do belga Fortis, que havia ficado com os fundos no exterior (offshore) do ABN Amro no Brasil. 

Para Giufrida, a crise internacional teve efeitos limitados sobre o setor de fundos brasileiro. Mesmo os casos do GWI, fundo de ações alavancado que teve de fechar para resgates depois de fortes perdas, e o Galleas, carteira de ações de governança que fechou para troca de gestor, tiveram efeitos localizados. "Temos 8 mil fundos no Brasil com 5 milhões de cotistas e, mesmo com essa crise toda, apenas esses dois, voltados para públicos específicos, tiveram problemas mais sérios", diz. Por isso, afirma, o investidor em geral não extrapolou esses casos para outros fundos. 

Os saques registrados pelos fundos brasileiros, de R$ 38 bilhões no ano, são relativamente pequenos em relação ao tamanho do setor, de mais de R$ 1,2 bilhão, avalia Giufrida. "Isso dá cerca de 3% do total", afirma. Ele acrescenta ainda que as perdas em outros países foram muito maiores. "Olhando o patrimônio total dos fundos ao redor do mundo, o que inclui rentabilidade, houve uma redução de 11,7% no primeiro trimestre, enquanto o Brasil foi o único que cresceu, 6,37%", afirma Giufrida. Os dados, em moedas locais, são da European Fund and Asset Management Association, e consideram 43 países. 

Já em 2 de outubro, os fundos brasileiros, segundo a Anbid, tinham patrimônio de R$ 1,124 bilhões, para R$ 1,106 bilhões em dezembro de 2007, um crescimento de 1,62% - em grande parte reflexo da rentabilidade das carteiras. Em outros países, a redução do patrimônio foi maior, 9,89% no Japão, 8,88% na Grã-Bretanha e 3,49% nos Estados Unidos até agosto em relação a dezembro. 

Mesmo não sendo um valor gigantesco, os resgates fizeram os gestores brasileiros ficarem na defensiva, diz Giufrida. "Todos aumentaram o total de dinheiro em caixa e não são hoje grandes compradores de CDBs, debêntures ou títulos públicos longos", afirma. O mesmo acontece com o investidor, que procura coisas mais simples. "Por isso ele prefere um CDB, ou fundos de ações ou DI, onde ele tem um referencial da rentabilidade mais claro, e está saindo dos multimercados e renda fixa, onde há volatilidade e o desempenho depende mais do gestor", diz. 

Por tudo isso, Giufrida avalia que o mercado de fundos deve se renovar. "O desafio será atrair de novo o investidor que saiu atraído pelo ganho do CDB, no caso dos renda fixa, ou pela perda de rentabilidade, nos multimercados", diz. 

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