24 de Outubro de 2008 - 14h:37

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Brasil recicla metade das garrafas PET

Por: Valor Econômico - Bettina Barros

Uma informação animadora: metade de todas as garrafas PET consumidas no Brasil retornam à indústria para reciclagem. Agora a má notícia: a ausência de uma política pública nacional continua a travar o setor, permitindo que 200 mil toneladas de plástico terminem em lixões e aterros sanitários das cidades brasileiras. 

O 4º Censo a Reciclagem de PET no Brasil, apresentado ontem na Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), mostra que, no ano passado, o Brasil conseguiu incrementar em 19,1% a reciclagem dessas embalagens. O país fechou 2007 com 231 mil toneladas de garrafas PET destinadas de forma ambientalmente correta, de um total de 432 mil toneladas consumidas no país. 

O principal destino dessas garrafas, após moídas e reprocessadas, foi a indústria têxtil, uma tendência acompanhada em outros países. Cerca de 40% do material foi transformado em fios e fibras de poliéster - duas garrafas de dois litros são o suficiente para fabricar uma camiseta, por exemplo. Mas o produto também foi destinado para fabricação de chapas, cordas, vassouras, filmes e, agora, novas garrafas. Desde março, a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou regulamentação que permite o uso de garrafas recicladas na fabricação de novas no país. 

"Isso vai aumentar ainda mais a pressão sobre a oferta de garrafas PET", afirma Leandro Fraga, consultor químico e diretor da Noûs Consulting, empresa responsável pelo censo. "A angústia certamente irá aumentar". 

Angústia porque apesar do crescimento da reciclagem na última década, o setor ainda opera com capacidade ociosa. "Por incrível que pareça, ainda falta PET para reciclagem no mercado. O maior gargalo é recuperar a garrafa", afirma Auri Marçon, diretor da Associação Brasileira da Indústria PET (Abipet). Pelos cálculos da associação, o setor seria capaz de reciclar imediatamente - sem que novos investimentos fossem necessários - um volume até 30% superior ao atual. 

O setor aponta como obstáculos a falta de políticas que impulsionem a reciclagem. Segundo dados oficiais, menos de 5% dos municípios brasileiros possuem um serviço de coleta seletiva. 

"Crescemos porque o PET é economicamente viável. Ele abastece cooperativas e associações, que tiram sua renda disso. Não porque há política para o setor", diz Marçon. É a geração de renda, diz o diretor da Abipet, que explica porque o Brasil tem hoje taxas mais elevadas de reciclagem que os EUA e a Europa . 

O censo ouviu 468 empresas, entre recicladores e aplicadores - os compradores da matéria-prima para sua transformação. A análise mostra que trata-se de um mercado ainda fortemente concentrado no Nordeste. A grande maioria das recicladoras têm mais de cinco anos de vida, e processam, em média, de 100 a 500 toneladas por mês. 

Em faturamento, a cadeia produtiva como um todo (resina, pré-forma, garrafas e frascos) registrou alta de 5,6%, para R$ 2,9 bilhões entre 2006 e 2007. Só o mercado de resina reciclada teve alta de 10,1%, de R$ 980 milhões em 2006 para R$ 1,08 bilhão, no ano passado. 

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