29 de Outubro de 2008 - 14h:11

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Crise torna necessário um forte corte na taxa de juros

Por: Valor Econômico - Fernando Meibak

A crise financeira vem provocando grandes dificuldades para a captação de recursos. A falta de liquidez é global e estará afetando de forma importante a economia real, com forte deterioração do risco de crédito de um modo geral. A contração na oferta de recursos é muito significativa.

No Brasil, o mercado de investimentos em produtos de crédito está praticamente paralisado. Debêntures, FIDC´s, CCB´s, CDCA´s e outros instrumentos, que vinham tendo bom espaço junto a investidores profissionais assets, fundos de pensão, seguradoras, bancos, family offices, etc.) praticamente não encontram espaço para a colocação. Empresas corporativas têm um ambiente mais adverso para a captação de recursos no mercado, com linhas mais curtas e mais caras. Não há viabilidade para a captação de recursos via mercado de capitais, com emissão de ações ou outros instrumentos. As empresas terão que rever seus projetos de investimento e se ajustar a esse ambiente negativo. 

Por diversos motivos (preocupação com risco de crédito, elevação das taxas, marcação a mercado dos ativos, perda de patrimônio dos fundos de investimentos, etc.) os investidores profissionais estão mais retraídos na alocação de recursos em risco privado, inclusive bancário. Bancos médios e pequenos, que são fortemente dependentes de linhas de crédito desse conjunto de investidores, têm encontrado grande dificuldade para a captação de recursos em CDB. Felizmente esses bancos são pouco alavancados e têm bons ativos. A perda de depositantes a prazo é um fator preocupante. Essa saída de recursos irá provocar ajustes de caixa: redução da oferta de crédito, venda de ativos e/ou cobrança de carteiras. O prazo médio dos passivos desses bancos é relativamente curto. Como conseqüência dessas dificuldades, há forte impacto nos segmentos em que esses bancos atuam: crédito consignado, "middle market" e financiamento de veículos. 

O segmento de empresas médias e pequenas, estruturalmente muito dependente de capital de giro, está sendo muito afetado. Não há quem substitua essa lacuna. Os grandes bancos, que têm melhores condições de captação, não irão ampliar as linhas de crédito para essas empresas. 

Investidores estrangeiros ou bancos que tinham capacidade de distribuição externa e que vinham adquirindo cotas de FIDC´s e outros instrumentos de crédito também estão fortemente retraídos. 

O custo para a tomada de recursos aumentou substancialmente. Observamos operações com empresas médias na faixa de 4% ao mês, ante um nível de menos de 2% há pouco tempo. O risco de estrangulamento de empresas por falta de capital nesse segmento é considerável. 

A expectativa negativa sobre o futuro leva as pessoas a um processo de conservadorismo nos gastos. Importantes perdas patrimoniais estão ocorrendo, como a forte desvalorização das ações, integrantes de carteiras individuais, de fundos de investimento ou de planos de previdência abertos ou fechados. Os temores quanto ao futuro (emprego, renda, etc) modifica o comportamento das pessoas. O consumo será, portanto, muito afetado. 

As recentes liberações de compulsório têm impactos limitados. Têm um importante efeito, de conter a deterioração das taxas de captação via cessão de crédito, que atingiram patamares acima de 150% do CDI. Algumas carteiras apresentam maior facilidade de negociação, como as de crédito consignado (especialmente INSS) - que tem como fonte pagadora entes federais. Outras carteiras, como financiamento de veículos, têm maior dificuldade, pela necessidade de avaliação da performance da carteira, em geral diversificada. Carteiras de crédito a empresas médias e pequenas são mais complexas, pela natureza do risco. Não será muito elevado o volume de negócios com a utilização desses recursos compulsórios. 

Empresas serão asfixiadas pela falta de crédito, queda de vendas, elevação de custos, ampliação do risco de crédito, uma espiral negativa que se auto-alimentará. A atividade econômica irá sentir os impactos desse processo de forma dramática. 

O Banco Central não deveria se preocupar com inflação nesse momento, dada a forte contração que haverá na atividade econômica - que reduzirá os preços na economia (petróleo, commodities minerais, agrícolas, insumos em geral). Deveria ser ousado e fazer algo agressivo para diminuir o impacto na atividade econômica: um forte ajuste na taxa de juros básica. Um corte significativo na taxa de juros... 

Fernando Meibak é sócio da Sunrise Investments 

E-mail: meibak@sunriseinvestments.com.br 

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