30 de Outubro de 2008 - 13h:35

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Copom mantém juros em 13,75%

Por: Valor Econômico - Cristiane Perini Lucchesi

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu ontem por unanimidade manter a taxa básica de juros Selic em 13,75% ao ano, sem viés, confirmando a expectativa do mercado. A justificativa, divulgada em nota, foi a de que: "Avaliando o cenário prospectivo e o balanço de risco para a inflação, em ambiente de maior incerteza, o Copom decidiu, por unanimidade, neste momento manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, sem viés." 

A decisão interrompe o movimento de alta nas taxas básicas, iniciado pela autoridade monetária na reunião de abril deste ano, quando a Selic subiu de 11,25% ao ano para 11,75% ao ano. Nas reuniões do Copom em junho, julho e setembro as taxas Selic também tiveram alta, para serem mantidas nos níveis de 13,75% ao ano agora. Os 13,75% ao ano ainda mantém o Brasil como a economia com os maiores juros reais do mundo. 

Octavio de Barros, diretor do departamento de economia do Bradesco, considerou a decisão do Copom correta. "O momento requer observação", afirmou ele. De acordo com ele, a situação no Brasil mudou muito desde a reunião do Copom em setembro e ainda não é possível saber quais os impactos da crise de crédito internacional na economia brasileira. Foi depois da concordata do banco Lehman Brothers, em 15 de setembro último, que o aperto do crédito chegou com tudo ao país. Começaram a faltar linhas de crédito à exportação e o real sofreu uma maxidesvalorização, com perdas para empresas vendidas.

Octavio de Barros disse que o BC agiu corretamente também ao não sinalizar qualquer viés para a Selic e ao evitar a palavra "pausa" em seu comunicado, de forma a evitar a interpretação do mercado de que isso seria um viés de alta para a reunião de dezembro. "O Banco Central foi prudente, o que é recomendável em meio a uma crise de grande proporções", afirmou o executivo do Bradesco. 

Ele lembra que nos últimos anos o mundo vinha crescendo a "um ritmo bastante superior ao seu crescimento potencial", o que culminou em uma forte elevação dos preços das principais commodities e acabou por provocar grandes preocupações com relação à inflação. Mas, com a crise de crédito internacional, muita coisa mudou e estamos entrando em um período de forte desaceleração global. "Podemos dizer que, com o mundo entrando em recessão, há uma força deflacionária em curso", afirma. Segundo o economista, as preocupações com a inflação começaram a ser dissipadas e o tombo das commodities corrobora tal percepção. 

Clive Botelho, vice-presidente de finanças do Banco Pine, também acredita que o Copom deveria mesmo manter os juros estáveis em 13,75% ao ano. "Não sabemos ao certo qual o impacto da forte freada do crédito para a economia brasileira", afirma. "Nessa situação, é melhor parar para ver", disse. Segundo ele, ainda é impossível saber em que nível o dólar vai se estabilizar. "A volatilidade altíssima torna difícil definir preços de todos os ativos e também da taxa de câmbio", disse o executivo. 

Além disso, a autoridade monetária vem injetando muita liquidez no mercado com a liberação de compulsórios e precisa ver quais os impactos futuros dessas medidas, afirma. Segundo Clive Botelho, há uma grande expectativa do mercado com relação à ata do Copom, a ser divulgada em breve justificando a decisão tomada ontem. 

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