03 de Novembro de 2008 - 14h:52

Tamanho do texto A - A+

Sem cumprir metas e com folga, fundos miram ações

Por: Valor Econômico - Catherine Vieira e Vera Saavedra

Depois de cinco anos consecutivos de ganhos, os dirigentes de fundos de pensão admitem que será praticamente impossível bater as metas em 2008. Mas o colchão de superávit, que era de R$ 76 bilhões no início do ano, embora tenha se reduzido, ainda era de R$ 58 bilhões no fim de setembro, segundo a Secretaria de Previdência Complementar (SPC). O valor certamente vai cair ainda mais em outubro, mas as fundações ainda têm uma folga de caixa e são beneficiadas por não sofrerem com os resgates que os fundos comuns estão enfrentando. Com isso, estão aproveitando a queda generalizada nos preços dos ativos para fazer posições não só no mercado de ações, como no de títulos públicos e privados e mesmo de participações em empresas e projetos. 

Enquanto fundos como a Petros, Valia e Funcef avançam no campo da renda variável e da infra-estrutura por meio de compras em bolsa ou de participações, outros como Previ e Fundação Real Grandeza atacam também no mercado de títulos públicos. 

"Os prêmios subiram muito por que os fundos de investimento tiveram muitos resgates e esses gestores precisaram vender os ativos rápido", explica Fábio Moser, diretor de investimentos da Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil e o que possui maior exposição ao mercado de ações: cerca de 60% da carteira total de cerca de R$ 128 bilhões. Com isso, foi a que mais acumulou superávit nos últimos anos, mas também a que mais deve sentir a oscilação de outubro. 

Moser lembra que CDBs e debêntures de bancos e empresas também ficaram com os prêmios em alta pelos mesmos motivos. "A NTN-B 2045 já teve um cupom inferior a 6% e agora está em 8,5%, o que é um juro real excelente para nós", diz Sérgio Wilson Fontes, presidente da Real Grandeza. 

O presidente da Petros, Wagner Pinheiro, explica que os fundos de pensão não tomam resgates e têm necessidades de ganho no longo prazo, o que permite aproveitar muitas oportunidades em momentos como esse. "Estamos aumentando muitas posições no mercado de ações e aproveitando também para avançar nos projetos de infra-estrutura", diz ele. 

O presidente da Valia, Eustáquio Lott, diz que o fundo está olhando também oportunidades na renda variável. "As ações ficaram muito baratas e estamos fazendo algumas compras de ativos que consideramos promissoras, mas não são grandes movimentos", diz Lott, que prevê voltar para o limite de 30% do patrimônio aplicado em renda variável, nível que caiu para 25% com as quedas da bolsa. "Esse portfólio somava R$ 3 bilhões e agora diminuiu para R$ 2,5 bilhões", completou. A Valia continua também com apetite forte para os investimentos em infra-estrutura, basicamente por meio de fundos de participações. 

Com o aperto de crédito, os dirigentes avaliam que cenário fica muito positivo também para os investimentos esses fundos de investimentos em participações (FIPs), com os quais os fundos de pensão comprometeram aportes, mas só conseguiram aplicar até aqui uma pequena parcela do total em projetos. Na Petros, por exemplo, foram aprovados cerca de R$ 1,5 bilhão em aportes de FIPs, sendo que apenas R$ 330 milhões foram efetivamente aportados. 

Nesses fundos há outros cotistas, como a Funcef, que também destinou R$ 1, 2 milhão, mas apenas pouco mais de R$ 200 milhões já foram usados para aportes em projetos. Conforme estimativa da Petros, os montantes totais nesses FIPs somam cerca de R$ 6 bilhões, dos quais ainda restam cerca de R$ 5 bilhões a serem investidos. 

O novo diretor de investimentos da fundação da Petros, Luís Carlos Afonso, ressalta porém que o controle de risco também aumenta. "Os preços dos ativos ficaram mais atrativos para os fundos de private equity, mas também é necessário aprofundar a análise dos riscos de cada empresa a investir", diz ele, ressaltando que a fundação está fazendo isso para aproveitar o momento e elevar a aposta nos melhores ativos. 

O presidente da Funcef, Guilherme Lacerda, diz que o fundo tem focado nos investimentos em participações. No mercado de ações, não vinha vendendo nem comprando, mas começou a analisar oportunidades recentemente, já que o preço ficou muito atrativo. "Nosso foco tem sido as participações, principalmente em infra-estrutura, e o setor imobiliário, no qual somos muito fortes", diz. Lacerda pondera que embora as metas provavelmente não sejam alcançadas este ano, o impacto para a Funcef será um pouco atenuado pela carteira de imóveis. "Ela representa 7% do total e está com um ganho de 20% no ano", diz. 

VOLTAR IMPRIMIR