06 de Novembro de 2008 - 15h:55

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Não confie só na previdência, seja previdente também

Por: Renato Bernhoeft

O crescimento do número de contribuintes da Previdência - demonstrado pelas recentes conclusões da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) -, embora seja uma notícia positiva, pode ter um efeito enganoso quando olhado sob a perspectiva de 20 ou 30 anos. Especialmente se considerarmos o aumento da longevidade do brasileiro, que aponta para uma perspectiva de descasamento entre o tempo de contribuição e o do benefício.

Isso quer dizer que, num futuro relativamente próximo, teremos um aumento significativo de beneficiários sem um correspondente acréscimo de contribuintes. 

Considerando-se esses dados, seguem algumas provocações para fazer você pensar. E, mais ainda, agir. 

Alguma vez você já pensou que deveríamos consultar um geriatra desde os primeiros instantes que sucedem o nascimento? Afinal, o envelhecimento se inicia a partir do momento em que chegamos ao mundo. Considerou também que não devemos ir ao consultório médico apenas quando temos uma doença? O importante é visitar o médico na busca de alguém que cuide preventivamente da saúde. 

Refletiu sobre a ilusão de que todo o projeto de um desfrute pleno da vida, que não foi conseguido ao longo da juventude, fase adulta ou meia-idade, deverá se concentrar no período da aposentadoria? 

Confiou que a contribuição para o sistema previdenciário seria uma segurança para tranqüilidade financeira na terceira idade? Não se preocupou em criar fontes alternativas de rendimento ou poupança ? Imaginou que os filhos, no futuro, cuidarão de você? Sempre acreditou que "o futuro a Deus pertence" e procurou viver o presente sem maiores preocupações com o dia seguinte? 

Entregou a gestão da sua carreira a uma organização e confiou que o sobrenome que a empresa lhe emprestava daria prestígio para sempre? Ou até mesmo fez uma bela reserva financeira e iludiu-se que isso seria suficiente para uma tranqüila vida futura com um envelhecimento de respeito, alta auto-estima e permanente consideração dos demais? 

Caso você se enquadre em algumas dessas categorias, saiba que poderá ter algumas surpresas desagradáveis no futuro. Imaginar estar preparado para uma vida tranqüila quando a aposentadoria chegar, baseado exclusivamente no respaldo financeiro, é um equívoco muito comum. Atenção! 

Viver por mais tempo, com qualidade de vida, vai custar bem mais caro. Por isso, o plano de previdência não pode estar centrado no desejo, exclusivo, de ter reservas para manter o padrão de vida de outrora. 

Nossa experiência em orientar programas de pós-carreira indica que existem outros pontos que não podem ser descuidados. Um dos grandes dilemas que as pessoas vivem nessa fase de transição é a perda da auto-estima. Manter uma conduta de cuidados com a saúde ao longo das várias fases da vida produz resultados positivos para esse novo período. Atividades físicas e até certas vaidades apresentarão saldos muito positivos na disposição para enfrentar os desafios do envelhecimento. 

Processos de reflexão, discutir os vários relacionamentos e ter mantido uma certa postura de espiritualidade poderão contribuir de maneira positiva na longevidade com qualidade. Quando temos mudanças radicais em nossas vidas, como é o caso da aposentadoria, uma das áreas em que ocorrem significativas alterações são os relacionamentos sociais. Os colegas e amigos do trabalho nem sempre poderão manter o mesmo tipo de relação da época em que estavam todos na mesma empresa. 

Mas uma das perdas mais significativas, e para a qual as pessoas estão pouco atentas, é a da identidade corporativa que a organização "empresta" temporariamente ao profissional. Na medida em que ele apoiou seu prestígio, exclusivamente, nesse sobrenome, os riscos de perda da auto-estima, e sentido de valor, podem ser muito fortes. Ocorrem processos de depressão ou até suicídio. 

A recomendação é que, ao desenvolver o seu programa de previdência para o futuro, não descuide dessas áreas importantes da vida. 

Estruturar um pecúlio que assegure tranqüilidade financeira não está desvinculado de planejar também ações nos demais campos de uma vida plena. E com qualidade. Ou seja, vincule novas fontes alternativas de rendimento com preservação da auto-estima. Essa é uma ação que deve ser iniciada hoje. Não se iluda imaginando que isso é apenas para quando o futuro chegar... 

Renato Bernhoeft é presidente da Bernhoeft Consultoria, integrante do The Family Business Consulting Group International na América Latina 

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