07 de Novembro de 2008 - 16h:06

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Empresários notam volta do crédito à exportação

Por: Valor Econômico - Raquel Landim

Depois da aguda escassez das últimas semanas, os empresários brasileiros relatam que as linhas de financiamento à exportação começaram a reaparecer, embora os custos continuem muito elevados e os prazos de vencimento curtos. Empresas de médio porte chegam a pagar 20% de juros por ano por Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC). Segundo os executivos, o Banco do Brasil foi o primeiro a destravar o crédito para a exportação, mas bancos privados nacionais e estrangeiros também retomaram o financiamento. A demanda das empresas por ACCs, porém, está bem menor que o usual, já que os clientes postergaram pedidos, preocupados com os efeitos da crise. 

"Houve alguns momentos de muita dificuldade. Agora sentimos que as linhas de financiamento começaram a aparecer, mas o custo ainda está alto", disse o diretor de relações com investidores da Marcopolo, Carlos Zignani. A maior fabricante de ônibus do país, que usualmente contrata ACCs com juros de 2,5% a 3%, está pagando 7% mais Libor. 

Para Zignani, as medidas tomadas pelo Banco Central (BC) e autoridades monetárias de todo o mundo para irrigar o mercado de crédito estão surtindo efeito. Ele afirmou que a retomada é generalizada e que a Marcopolo trabalha com diversos bancos nacionais e estrangeiros. A empresa contrata os financiamentos a medida em que entram os pedidos, já quase 50% de sua receita é obtida no exterior. 

De acordo com José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), dois efeitos colaboraram para a maior disponibilidade de linhas de financiamento à exportação: o início do destravamento do crédito e o menor fôlego das exportações. Embora outubro tenha sido um mês complicado para o mercado, os dados oficiais já apontam melhora. 

Depois de recuar de US$ 292 milhões na primeira semana de setembro para US$ 144 milhões na quarta, a média diária de fechamento de ACCs atingiu o fundo do poço na primeira semana de outubro, quando ficou em apenas US$ 106 milhões. Esse indicador começou a melhorar e chegou a quase US$ 230 milhões na terceira semana de outubro e US$ 173 milhões na quarta. Os números são do Banco Central. 

O leilão realizado pelo BC no dia 20 de outubro que liberou US$ 1,62 bilhão para o mercado ajudou na recuperação dos dados. Desse total, 60% a 65% foi para o Banco do Brasil. "A situação ainda não melhorou, mas agora vai melhorar", disse Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do departamento de comércio exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). 

Segundo o dirigente da entidade paulista, o leilão realizado pelo BC na última quarta-feira será mais eficaz, porque pulverizou a oferta e atingiu 18 instituições. Foram liberados US$ 1,45 bilhão. Dessa vez, a autoridade monetária foi mais flexível e aceitou como garantia os recebíveis de exportação das empresas. "É o que já foi feito várias vezes na história e funcionou", disse Giannetti da Fonseca. 

Danilo Marcon, diretor comercial da Cerâmica Vila Rica conta que as linhas de financiamento para a exportação reapareceram nas últimas duas semanas. "No estouro da crise, os bancos travaram completamente", disse. Ele, no entanto, reclama das taxas de juros, que subiram dos usuais 6,5% a 7% (custo total) para 18% ou 20%. Sediada em Minas Gerais, a empresa exporta azulejos e outras cerâmicas e atende varejistas em vários países. 

"Com esse custo, hoje eu faço o mínimo de ACC possível", afirmou Marcon. Ele ressalta que os importadores também estão com problemas de crédito, o que reduziu as exportações. Em outubro, as vendas da empresa para o exterior recuaram entre 20% e 30%. "O consumidor está com medo. Sem vender, o varejista não renova seu estoque", disse. 

Marcon conta que começou a tomar ACCs com o Banco do Brasil por conta da crise financeira, porque foi o primeiro banco a retomar os financiamentos à exportação. O executivo costumava trabalhar apenas com Bradesco e Itaú, mas apenas o segundo já voltou a ofertar ACCs para a companhia. No Bradesco, as portas ainda continuam fechadas. 

Adilson Rodrigues, gerente de exportação da paranaense Moval Móveis Araponga, reclama dos prazos dos ACCs, que não ultrapassava 120 dias atualmente. "Nesse prazo é quase impossível vender, embarcar o produto e receber o dinheiro", disse. A empresa tradicionalmente tomava os financiamentos com prazos de 180 a 360 dias. 

Ele também confirmou que a disponibilidade de linhas melhorou, mas disse que as taxas de juros estão "exorbitantes". A empresa chega a pagar 18% de juros. Quando atendeu o Valor, Rodrigues estava negociando com um gerente do Banco do Brasil. 

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