10 de Novembro de 2008 - 13h:59

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Balanços atenuam temores sobre consumo e ações reagem

Por: Valor Online - Claudia Facchini e Alexander Ragir

Os resultados positivos divulgados pela Lojas Americanas para o terceiro trimestre ajudaram a dissipar a nuvem negra que pairava sobre as companhias de varejo listadas na bolsa desde meados de setembro, aliviando os temores de que a crise de crédito já teria afetado o bolso dos consumidores. O Grupo Pão de Açúcar também anunciou na semana passada lucros recordes e vendas acima das expectativas entre julho e setembro, o que melhorou o ânimo dos investidores. Na semana passada, enquanto o índice Ibovespa recuou 1,59%, as ações da Lojas Americanas subiram 4,70%, os papéis da Renner avançaram 10,83% e as ações do Grupo Pão de Açúcar se valorizam 3,61%.  
 
No entanto, o cenário para 2009 ainda continua incerto e as varejistas mostram-se mais cuidadosas nos planos de abertura de lojas. O diretor financeiro da Lojas Americanas, Roberto Martins, afirmou que as linhas de crédito, que podiam ser tomadas por algo entre 102% e 105% do CDI no início do ano, hoje custam cerca de 130% nos bancos. 

Esse aumento obrigará a companhia a baixar as despesas com as novas unidades. "As lojas precisam ser mais rentáveis e trazer retorno para os acionistas", disse o executivo. A empresa está "analisando" esses custos para definir os investimentos em 2009. 

No Grupo Pão de Açúcar, o orçamento para o próximo ano já foi traçado pela diretoria da empresa, mas ainda não foi aprovado pelo conselho de administração. Isso deve ser feito nas próximas semanas. "Aqui, costumamos falar que quem diz que sabe o que vai acontecer está mal-informado", afirmou Enéas Pestana, vice-presidente da rede de supermercados, ao ser questionado sobre o que a companhia espera para o futuro. 

Diante de um horizonte mais incerto e com o aumento no custo do capital, as companhias ficarão mais tentadas a deixar o dinheiro no caixa do que a gastá-lo em novas lojas. Uma das primeiras providências tomadas por Claudio Galeazzi ao assumir a presidência do Grupo Pão de Açúcar foi trancar o cofre. 

A varejista deve investir apenas R$ 500 milhões em 2009, uma das mais baixas cifras de sua história. O valor é inferior até mesmo ao prometido por Galeazzi no início deste ano, de R$ 730 milhões. 

Aos analistas, Galeazzi afirmou, na semana passada, que um dos pontos que marcaram sua gestão foi o fortalecimento da estrutura de capital, "com a elevação do caixa mínimo, redução da necessidade de capital de giro e redução no nível de investimento [capex]". 

Atualmente, a varejista possui R$ 1,4 bilhão em caixa e há expectativas de que o grupo volte a investir algo próximo a R$ 1 bilhão em 2009, mas a decisão dependerá do andamento da economia. Segundo Pestana, a empresa traçou diferentes cenários e planos de contingência para cada um deles. De qualquer forma, é esperado que o Grupo Pão de Açúcar não abandone a política de austeridade financeira. 

Durante conferência com analistas, a Renner afirmou que não planeja alterar os planos de abertura de lojas em 2009, quando prevê inaugurar entre 12 e 15 unidades. "Considerando o cenário macroeconômico negativo, estimamos que a companhia seja mais conservadora nas inaugurações", escreveu o analista do banco Credit Suisse, Marcel Moraes. A direção da Renner culpou o frio pelo fraco desempenho das vendas em setembro e não a crise no sistema financeiro. Segundo a companhia, a mudança de ventos no crédito ainda não afetou bens de baixo valor, como vestuário. 

A analista do Goldman Sachs Daniela Bretthauer disse na sexta-feira que o crescimento de 77% no lucro da Lojas Americanas no terceiro trimestre "confirma que não há sinais de uma tendência de desaceleração do consumo e das taxas de crescimento". Após a divulgação do relatório da analista, as ações da Americanas chegaram a subir 10%, mas fecharam o pregão da Bovespa em alta de 4,87%. 

"Os resultados [da Americanas] mostram que o varejo continua forte", disse Saulo Sabba, diretor de investimentos da Maxima Asset Management, do Rio de Janeiro. 

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