10 de Novembro de 2008 - 14h:01

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A impossível arte de acertar os momentos

Por: Valor Econômico - Daniele Camba

Entre as diversas estratégias para se investir em bolsa, duas são mais populares. Uma delas consiste na escolha das ações com bons fundamentos e com os maiores potenciais de valorização, ou seja, a boa e velha estratégia fundamentalista de longo prazo. A outra, mais arriscada, que é fazer investimentos bem mais rápidos, tentando acertar o melhor momento de estar dentro da bolsa, aproveitando as altas, e a hora de estar fora, se antecipando aos períodos de queda. Além de exigir sangue-frio e estômago de avestruz por parte dos investidores, a insana volatilidade que tomou conta do mercado nas últimas semanas também mostra como é cada vez mais difícil (para não dizer impossível) tentar acertar a hora certa de entrar e de sair do pregão. O retorno que se pode ter com esse tipo de estratégia nem de longe compensa o enorme risco de o investidor sair bem machucado. Indiretamente, a conclusão que fica é que, por mais lugar-comum que pareça, longo prazo é a melhor forma de garantir que os momentos de valorização irão, na maior parte das vezes, se sobrepor às fases ruins. 

Dois momentos recentes bastante distintos ilustram como o retorno do investidor, em fração de dias, seria radicalmente diferente, dependendo da sua sorte (ou azar) em prever os movimentos. No primeiro momento - de glória -, entre os dias 28 de outubro e 4 deste mês, o Índice Bovespa subiu 36,76%. Já no segundo - de caos -, na quarta e quinta-feira da semana passada, o índice acumulou queda de 9,67%. Se o investidor tivesse muita sorte poderia fisgar os ganhos de mais de 36% e, logo depois, vender as ações, conseguindo se livrar das perdas que viriam em seguida. No entanto, se fosse muito azarado, estaria fora da bolsa na hora em que ela subiu, perdendo um gordo retorno, e ainda por cima teria investido depois, amargando perdas de quase 10%. Já o investidor que teve paciência de ficar na Bovespa o tempo inteiro (entre 28 de outubro e a última quinta-feira), além de evitar uma gastrite, ganhou 23,53%, que foi a valorização do Ibovespa.

"É praticamente impossível conseguir surfar apenas as boas ondas do mercado financeiro, isso se torna uma missão ainda mais impossível em momentos de crise, como é o atual, em que os fundamentos ficam em segundo plano, as ações ficam distorcidas e têm um comportamento imprevisível", afirma o gestor da Rio Bravo Investimentos Mário Fleck. 

Ele lembra que, quanto mais líquida a ação, mais volátil e mais distante ela está agora dos seus fundamentos. "Esses papéis estão sofrendo oscilações bruscas e totalmente sem explicação, conseqüência direta de os grandes hedge funds internacionais os terem vendido para cobrir os prejuízos que tiveram nos países desenvolvidos", afirma Fleck. Os gráficos abaixo ilustram essa montanha-russa vivida entre as principais ações do pregão. Entre 28 de outubro e 4 deste mês, as preferenciais (PN, sem direito a voto) série A da Vale subiram 36,96%, enquanto nos dias 5 e 6 deste mês caíram 10,53%. Já no acumulado desse período, entre 28 de outubro e 6 de novembro, os papéis da mineradora registram alta de 22,53%.


O passado corrobora o presente 

Um levantamento feito pela Rio Bravo Investimentos desde que o Ibovespa foi criado, em 1968, aponta que, durante esses 40 anos, a quantidade de trimestres em que o índice teve variações positivas é superior à dos trimestres em que registrou quedas. Para se ter uma idéia, do total de 160 trimestres, em 92 deles (60%) o Ibovespa teve valorizações. A maior concentração de trimestres (74) está entre quedas de 10% e altas de 20% em dólar do principal indicador da bolsa brasileira. Alguns trimestres, no entanto, foram catastróficos. No primeiro trimestre de 1990, por exemplo, o Ibovespa caiu, em média, entre 60% e 70% na moeda americana. O estudo da Rio Bravo também revela que, nos últimos 30 anos, o Ibovespa ofereceu um retorno médio anual de 13% em dólar. "Essa é a maior prova de que, no longo prazo, as distorções desaparecem e os fundamentos falam mais alto", diz Fleck.  

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