13 de Novembro de 2008 - 14h:37

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Em terra de soja, gado e garimpo, a vez do eucalipto

Por: Valor Econômico

Desde sua fundação, no fim do século XIX, Alto Araguaia passou por uma coleção de guinadas nas atividades-chave de sua economia. Pecuária, garimpo e a diversificação da agricultura, com a soja à frente, marcaram essas mudanças. Pois o eucalipto pode inaugurar mais uma dessas reviravoltas. 

Ainda não foram realizados os primeiros cortes das árvores plantadas no território do município, mas já há entre 6 mil e 8 mil hectares com eucaliptos no solo ou, ao menos, reservados para o plantio. Um misto de oportunidade de aproveitamento de pastagens degradadas e de desânimo com o cultivo da soja abriram a oportunidade para a nova cultura no município. Se análises prévias atualmente em curso se efetivarem, outros 40 mil hectares de eucalipto podem ser plantados. 

Em alguns anos, a cultura tem potencial para superar a área atualmente ocupada pela soja, a principal cultura agrícola alto-araguaiense, diz o secretário de Agricultura da cidade, Dimas Gomes Neto. E isso não é necessariamente ruim, avalia. "A diversificação sempre é boa", afirma. 

No Brasil, as florestas de eucalipto destinam-se basicamente à indústria de papel e celulose. Não será a alternativa de aproveitamento em Alto Araguaia. No município, a madeira deverá ter como finalidade principal o abastecimento das agroindústrias, que devem usá-la, com a queima, na secagem da soja ou na geração de energia para o beneficiamento da oleaginosa. 

A receita com o eucalipto chega a ser 2,5 vezes maior que a obtida com a soja. Há que se salientar que o ciclo do grão é anual e o das florestas, de seis a sete anos. O consórcio de eucalipto com pecuária ajuda a contrabalançar essa diferença, segundo técnicos. 

Foi o sistema adotado por Jacson Liendemeier, que já tem 400 hectares com eucaliptos há dois anos, cultivados em parceria com a empresa de projetos agroflorestais Replantar. "A soja está inviável. Com o eucalipto, dá para fazer dinheiro com o gado enquanto a árvore cresce". 

O cultivo de eucalipto pode, com isso, dar um novo fôlego à pecuária no município. "Três anos atrás a cidade tinha 180 mil cabeças de gado. Hoje esse número está em 140 mil cabeças. Muito criador arrendou as terras e deixou de atuar com pecuária aqui", afirma Paulo Serafim, presidente do Sindicato Rural de Alto Araguaia. 

Foi para tocar a vida e o gado que o mineiro João José de Morais, o Cajango, chegou à região de Alto Araguaia, em 1895, quando o território era dominado pelos índios caiapó. Outro forasteiro, o baiano Cezilo dos Santos, chegou 13 anos depois. Joana de Jesus, sua esposa, lavava pratos no rio Cassununga quando avistou uma pedra de diamante. Involuntariamente, criou o ciclo do garimpo, tristemente marcado por disputas sangrentas entre os caudilhos Morbeck e Carvalhinho, na década de 20. 

O plantio de soja floresceu na década de 70, com o desembarque dos agricultores migrantes do Sul do país, especialmente do Rio Grande do Sul. A cultura chegou a ocupar 45 mil hectares, mas está atualmente em 18 mil. 

Com o eucalipto, também o cultivo de braquiária ganhou terreno. A gramínea deverá abastecer as caldeiras da Agrenco, que inaugurou em 2007 uma beneficiadora de soja na cidade. O desenvolvimento da cultura, contudo, aguarda a recuperação da companhia, que está em dificuldades financeiras. (PC) 

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