19 de Novembro de 2008 - 16h:38

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Blairo Maggi vê estouro da bolha agrícola

Por: Rodrigo Vargas - Folha de São Paulo

 O governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), disse à Folha que a agricultura brasileira está diante de "uma das mais graves crises das últimas décadas". Segundo ele, a "bolha do "subprime" agrícola" estourou, com conseqüências graves para o plantio e a colheita.
Para Maggi, a diferença do momento atual em relação às outras crises do setor está na dificuldade de obtenção de crédito, com as tradings ou com as instituições financeiras nacionais e internacionais. "O problema é que o fluxo de caixa, que antes era obtido com o crédito, praticamente secou."
Sem acesso ao crédito para financiar a próxima safra, 70% dos agricultores do Estado (maior produtor de soja do país) deixaram de pagar seus débitos na parcela de R$ 1 bilhão do financiamento de máquinas agrícolas que venceu em 15 de outubro, segundo estimativa da Famato (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso).
Na semana passada, os bancos ligados às grandes montadoras -Case/New Holland e John Deere, por exemplo- começaram a seqüestrar judicialmente plantadeiras, tratores, pulverizadores e colheitadeiras como garantia de pagamento.
Até sexta-feira, somente no cartório de Rondonópolis (220 km de Cuiabá), mais de 70 notificações extrajudiciais já haviam sido protocoladas pelos bancos. Os produtores ainda foram inscritos como inadimplentes em serviços de proteção ao crédito, como a Serasa.
"É o momento do plantio e logo virá a colheita, ou seja, a pior hora para algo assim ocorrer", disse Maggi, um dos maiores plantadores de soja do país.
As primeiras máquinas foram recolhidas na região de Rondonópolis, mas o processo deverá se estender Brasil afora, disse ele. "A bolha do "subprime" agrícola estourou."
"Subprime" são os créditos de alto risco que, concedidos maciçamente nos EUA nos últimos anos, resultaram em uma onda crescente de inadimplência que está no epicentro da crise econômica mundial.
Para Maggi, um cenário semelhante pode ser identificado no campo: dívidas acima da capacidade de pagamento, custos de produção em alta, queda no preço das principais commodities e pouco acesso a crédito.
"Ao produtor não resta alternativa: ou ele paga a conta passada ou planta a safra seguinte. Não se trata de calote", disse.
Para muitos produtores, afirmou Maggi, acaba sendo "mais barato" entregar o maquinário do que pagar o financiamento.
"Há colheitadeiras que hoje não valem a metade do saldo devedor do financiamento. Eu não tiro o direito de os bancos partirem para este caminho, mas as conseqüências serão muito graves para o país."
Segundo o governador, a questão "é de Estado, e não de um ou outro produtor". "É fundamental que haja prorrogação das parcelas deste ano até o ano que vem. É uma questão de bom senso. Mas, até agora, não surgiu nada nesse sentido."
No fim de semana, representantes de entidades do setor produtivo decidiram constituir um "comitê de crise", que se reuniu pela primeira vez ontem em Cuiabá. "Alertamos o governo sobre as graves conseqüências, e nada foi feito para neutralizar os efeitos dos mandados de busca e apreensão das máquinas e equipamentos", disse o presidente da Famato, Rui Prado, membro do comitê.
A expectativa do grupo é que o CMN (Conselho Monetário Nacional) aprove nesta semana a prorrogação da parcela dívida até 2009.
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