27 de Novembro de 2008 - 14h:10

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Recompra de ações ajuda a sustentar fluxo comprador na bolsa

Por: Valor Econômico - Ana Paula Ragazzi

Já há alguns meses os analistas observam que o investidor local, tanto o institucional quanto a pessoa física, tem sido responsável pelo fluxo comprador de ações na bolsa paulista, neste momento de saída dos estrangeiros. Mas há um outro agente que tem garantido as aquisições: as empresas domésticas, por meio de programas de recompra de seus papéis. Neste momento, 53 companhias estão com programas em aberto. O volume que pode ser atingido por essas operações é de cerca de R$ 13 bilhões, um valor indicativo, já que as empresas não são obrigadas a recomprar o total anunciado.  

Desde maio, há seis meses portanto, as empresas recompraram, em média, R$ 1 bilhão por mês de suas próprias ações, de acordo com a Bovespa. Isso equivaleria dizer que quase metade do total de recompras em aberto já teria sido realizado. 

"Ainda assim, considerando o volume que pode ser feito e comparando com operações realizadas em anos anteriores, há um montante razoável de ações para ser comprado", afirma Alexandre Gartner, diretor da área de pesquisa do HSBC Bank Brasil. Segundo ele, os números até o momento reforçam que as empresas estão colocando em prática a recompra - no passado, havia rumores de que companhias anunciavam a medida, dando a sinalização de que avaliavam o preço das ações como baixo, mas efetivamente não concretizavam as operações. A recompra pode atingir até 10% das ações em circulação no mercado. 

Ainda conforme Gartner, o grande número de recompras se deve ao fato de que as cotações atingiram baixas históricas para a maioria das ações lançadas nos últimos anos, levando as cotações para preços inferiores aos de estréia na bolsa. "Acreditamos que outras empresas teriam anunciado recompra se não fosse por compromissos anteriores de fluxos de caixa e restrição de acesso a financiamentos", diz Gartner. 

Em tese, o número histórico de empresas com recompra poderia ser de fato ainda maior, observam analistas. Isso porque, pela lei, para fazer as recompras a empresa precisa ter um saldo de lucros e reservas de lucros. A discussão é se esse saldo a ser levado em consideração para balizar o tamanho do programa é o que está descrito no balanço do exercício completo anual da companhia ou o que está nas informações trimestrais (ITRs). 

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está dividida sobre o assunto e duas empresas que tiveram programas de recompra suspensos, São Carlos Empreendimentos e Redecard entraram com recursos na autarquia. Há diretores que entendem que só deve ser considerado o saldo do balanço anual, fechado, outros não vêem problemas no uso do valor divulgado no ITR, apesar de esse poder mudar até o final do exercício. 

Ricardo Mourão, advogado e sócio do Velloza, Girotto e Lindenbojm Advogados Associados, observa que o ponto mais importante da discussão sobre recompra é a responsabilidade que ela pode gerar para os diretores, que executam o programa, aprovado pelo conselho de administração. 

Se a empresa usar o saldo divulgado em 30 de setembro passado, por exemplo, seu resultado ainda não refletia totalmente o agravamento da crise financeira global. "Logo, é possível avaliar, em tese, que, dependendo do caso, os saldos de lucros poderia ser usado para abater um eventual prejuízo no quarto trimestre, por contada desaceleração gerada pela crise", diz. 

"A grande preocupação, em particular com empresas novatas em bolsa, é saber se elas estão avaliando corretamente que o melhor uso dos recursos que têm disponíveis é a compra de suas próprias ações", afirma o advogado. Das empresas que estão com o programa, metade são novatas na bolsa. 

Além disso, afirma Mourão, um acionista que viu um lucro até o fim de setembro e se deparar com perda em dezembro pode questionar também se os administradores fizeram operações de compra adequadamente. "O mercado está muito volátil e pode haver questionamentos se as recompras foram feitas a preços atrativos." 

Do ponto de vista do investidor, a recompra pode significar o aumento dos dividendos que recebe. Quando recompra as ações, a empresa pode optar por cancelá-las ou mantê-las em tesouraria e depois revendê-las. "Se as cancela, a base de ações da empresa diminui e, consequentemente, sobe o dividendo pago para cada ação - se antes a empresa distribuía 25% dos lucros para uma base de 100 ações, agora vai pagá-los para 90, o que eleva o ganho por papel", explica Mauro Calil, educador financeiro do Calil & Calil - Centro de Estudos e Formação de Patrimônio. 

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