01 de Dezembro de 2008 - 15h:07

Tamanho do texto A - A+

Com falta de crédito, factoring vira alternativa e operações sobem 50%

Por: Valor Econômico - Altamiro Silva Junior

Com a escassez de crédito bancário, as operações de factoring viraram alternativa de recursos para as empresas de menor porte. Essas operações chegaram a ter crescimento de até 50%, principalmente nos meses de setembro e outubro, no auge da crise. O setor deve movimentar R$ 85 bilhões este ano, um recorde. Em 2007, foram R$ 71,5 bilhões. 

Por meio do factoring (também chamado de fomento mercantil), a empresa antecipa o recebimento de uma duplicata ou cheque pré-datado, com um desconto em relação ao valor que receberia na data de vencimento do documento. Não é uma operação de empréstimo, mas uma antecipação de receita futura, recomendada para quem precisa de dinheiro no curto prazo. 

"Houve uma intensificação da demanda nos últimos 60 dias, com a retração do crédito e o empoçamento da liquidez nos bancos", afirma Luiz Lemos Leite, presidente da Associação Nacional das Sociedades de Fomento Mercantil Factoring (Anfac). "O factoring tem conseguido viabilizar as operações das empresas." 

O crescimento das operações chamou a atenção da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), que resolveu pesquisar o setor e divulga hoje um estudo sobre o fomento mercantil. Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac, constatou aumento de até 50% na procura nos piores momentos da crise. 

"As pequenas empresas são as primeiras a serem cortadas pelos bancos na concessão de empréstimos", diz Oliveira Ele aponta ainda outro fator. Os bancos pequenos e médios, que costumam fornecer crédito para as empresas de menor porte, foram os mais afetados pela crise. Com isso, paralisaram os empréstimos. 

Com a falta de dinheiro na economia, até o custo das operações de factoring chegou a subir, batendo em 4,06% ao mês, segundo o fator calculado pela Anfac. Há um ano, o indicador estava na casa dos 3,5%. Há ainda o valor de 1% (sobre total da duplicata) cobrado como taxa de prestação de serviços. A empresa de factoring que faz a transação assume o risco da operação, por isso, o custo para a empresa que toma o recurso é maior do que uma transação em um banco. Lemos, o presidente da Anfac, lembra que o setor trabalha praticamente só com recursos próprios e não faz alavancagem. 

Daniel Gonçalves, da Cumbica Factoring, conta que por conta do crescimento das operações teve que tomar medidas extras. Uma delas foi pedir que a empresa comunique pelo menos dois dias antes as duplicatas que quer descontar. Antes, isso era feito no mesmo dia. Como começaram a aparecer muitos clientes novos, Gonçalves teve que deixar algumas empresas sem atender. 

A prioridade foi fazer operações para os clientes mais antigos. A procura, segundo ele, subiu 30% nas últimas semanas. "Temos muitos empresas clientes há mais de dez anos, que não têm nenhuma problema, mas não conseguiram crédito no banco", diz ele. Gonçalves está no ramo desde 1993 e já passou por várias crise. "A formatação do factoring é diferente, o custo é diferente, mas não abandonamos empresas em momentos de dificuldade." 

Pequenas e médias empresas são as que mais recorrem ao factoring. Calcula-se que mais de 135 mil companhias fazem o desconto de duplicatas e outros recebíveis. O líder em operações é o setor metalúrgico (26% do total), pela própria natureza da produção, que demora mais tempo e exige capital de giro. Mas setores como o gráfico, prestação de serviços e o comércio também têm sido ativos. Em meio à crise, até grandes companhias chegaram a buscar essas operações, diz Oliveira, da Anefac. 

VOLTAR IMPRIMIR