02 de Dezembro de 2008 - 12h:54

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Crescem os desembolsos para o setor rural

Por: Valor Econômico - Mauro Zanatta

As ações do governo para garantir liquidez ao setor rural aumentaram em 6,8% os desembolsos de crédito a produtores empresariais e familiares, para R$ 25,9 bilhões, no primeiro quadrimestre do atual ano-safra 2008/2009. Um relatório dos bancos operadores do crédito rural, inclusive BNDES, mostra elevação de 6,1% nas linhas para a agricultura empresarial, o que significa um adicional de R$ 1,3 bilhão na comparação com 2007. Esses números agregados, porém, não refletem as queixas dos produtores e das cooperativas, que alegam que o crédito não está chegando a quem precisa. 

O destaque das estatísticas foi um aumento de 103% nos desembolsos lastreados na poupança rural, chegando a R$ 5,8 bilhões. Uma das ações do governo foi justamente elevar, de 65% para 70%, a parcela de aplicação obrigatória sobre a poupança no setor rural (exigibilidades). Além disso, esse avanço parece refletir o bom desempenho de crédito no Banco do Brasil. 

Balanço fechado semana passada mostra elevação de 35,5% nos desembolsos de custeio do BB para o segmento empresarial e de 14% nos empréstimos a familiares. No total, o BB emprestou R$ 14,22 bilhões ao setor entre julho e novembro - resultado 27,6% superior aos R$ 11,15 bilhões de igual período de 2007. O Ministério da Fazenda estima que suas ações elevaram em R$ 19 bilhões a oferta de crédito ao setor desde o aprofundamento da crise. 

Mesmo com estes desempenhos dos bancos operadores do crédito rural, os agricultores sustentam que os recursos não chegaram às mãos de quem mais precisa. Quem aderiu aos termos da última renegociação das dívidas rurais, anunciada em junho, ficou fora do radar dos bancos, que passaram a assediar aqueles que pagaram suas contas em dia. A questão cadastral passou a ser vital. Os bancos admitem ter ficado mais seletivos e avessos aos riscos embutidos no setor rural. "Estamos atendendo aqueles produtores com bom relacionamento com o banco", diz um executivo de banco. A inadimplência cresceu. Os bancos que atendem às fábricas de máquinas e equipamentos começaram inédito arresto de bens em Mato Grosso, após três anos consecutivos de calote. 

O BB registrou elevação significativa do riscos em sua carteira de R$ 60 bilhões no segmento rural. O índice passou de 13,8 em dezembro de 2007 para 14,5 no segundo trimestre deste ano. Em 2003, os créditos de liquidação duvidosa somavam apenas 3% da carteira. 

O aumento nos riscos da atividade e o nível de inadimplência dos produtores já tinham levado as tradings, agroindústrias e fornecedores de insumos a recuar em seus financiamentos ao setor. A Bunge diz ter US$ 250 milhões em contratos não-cumpridos pelos produtores, informa a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA). Pequenas tradings também deixaram de antecipar recursos via Cédulas de Produto Rural (CPRs) para o custeio da safra. "Vivemos uma situação brutal de aperto no crédito. Quem precisa, não tem. Quem tem, tem demais", resume o presidente da associação dos produtores de soja de Mato Grosso (Aprosoja), Glauber Silveira. 

O BB propôs, e o governo começou a avaliar, uma grande reforma no sistema de crédito rural brasileiro, criado em 1965, para elevar a garantia de preços, indenizar as perdas por problemas climáticos e assumir os riscos e de custo de crédito. O diagnóstico é simples. Os produtores pagam altas taxas de juros porque têm altos índices de risco de crédito. O BB estima que os produtores do Centro-Oeste paguem 21% de juros ao ano para manter suas atividades. No Sul, seriam 15%. 

O crédito oficial prevê uma taxa de apenas 6,75%, mas esse cobertor tem ficado curto demais, e atende hoje a apenas um terço da demanda. A solução é estimular a proteção de renda, com seguro rural e "hedge" em mercados futuros, além de descomplicar o crédito, fixar juros por perfil de produtor e evitar novas repactuações de dívidas. Na última, foram rolados R$ 75 bilhões. 

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