04 de Dezembro de 2008 - 14h:16

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Margen pede recuperação judicial e volta a abater bois

Por: Valor Econômico - Alda do Amaral Rocha

O frigorífico Margen, que entrou com pedido de recuperação judicial no dia 30 de outubro depois de ter paralisado suas operações em setembro, voltou a abater bovinos em duas unidades e planeja reabrir outras quatro até meados de janeiro de 2009. A informação é do diretor administrativo da empresa, Adalberto Silva. 

Enquanto aguarda o parecer do juiz Caio Mendes de Oliveira, da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Fórum João Mendes sobre o pedido de recuperação judicial, a companhia voltou a abater bovinos em Rio Verde (GO) e em Rolim de Moura (RO). De acordo com Silva, inicialmente estão sendo abatidas cerca de 300 cabeças de boi por dia em cada uma das unidades, mas o plano é alcançar 400 diariamente nas duas e em outras quatro: Colina (TO ), Nova Olinda (TO), Barra do Garças (MT) em Ariquemes (RO). 

A crise no setor de carne bovina também fez o Frigoestrela e o IFC recorrerem à recuperação judicial no último mês. Ambos já tiveram os pedidos deferidos. 

Em setembro, o Margen deixou de operar por falta de capital giro num mercado com escassez de boi gordo e restrição de crédito. Também sofria, na ocasião, os reflexos da frustrada tentativa de joint venture com o frigorífico Quatro Marcos. Agora, volta ao mercado comprando gado com prazo de oito dias para pagar e vendendo carne bovina somente à vista no mercado interno, de acordo com Silva. 

O Margen até tentou negociar a venda de unidades depois da paralisação das operações em setembro, "mas não houve interessados porque o mercado estava ruim", disse o diretor administrativo. A empresa conseguiu arrendar Coxim (MS) para a River Alimentos e a unidade de Mãe do Rio (PA) para o frigorífico Eldorado, nos dois casos por um ano com opção de estender por mais três. Também passou para a Arantes Alimentos um centro de distribuição em Alphaville (SP) e uma fábrica de charque localizada na capital paulista. 

Com a reabertura das seis unidades, seguirão fechadas duas plantas no Mato Grosso do Sul, uma em Goiás e duas no Paraná. Segundo Silva, as plantas de Três Lagoas (MS), Goianira (GO) e Paraíso (TO), que eram arrendadas, foram devolvidas para os proprietários. Colina e Nova Olinda, que serão reabertas, também são arrendadas mas foram mantidas por estarem numa região em que há oferta de gado para abate, segundo Adalberto Silva. 

O plano, disse ele, é retomar as atividades nas unidades fechadas, no futuro, à medida em que a empresa conseguir se capitalizar e que a oferta de gado bovino aumentar. "Não estamos mais vendendo as unidades", afirmou. 

Com o pedido de recuperação judicial, que ainda não foi deferido, o Margen tenta obter uma "blindagem" por seis meses, período no qual nenhum credor pode questionar as dívidas ou executar a empresa, disse o advogado que representa o Margen, Cidinaldo Boschini. "É um período para se reestruturar e fazer caixa", observou. 

O pedido de recuperação judicial inclui as empresas Margen S.A, Magna, Ampla, Nova Carne e Água Limpa, todas controladas pelo Margen Ltda, dos empresários Mauro Suaiden e Geraldo Prearo. O valor dos débitos do Margen incluídos na recuperação judicial é de "cerca de R$ 300 milhões", segundo o advogado. Do total, R$ 40 milhões referem-se a dividas com credores quirografários, ou seja, sem garantia real. O restante é com o sistema financeiro (com garantia real), incluída aqui a operação de Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCAs), que tem como credores os fundos Oppenheimer e QVT Fund. 

Entre os sem garantia real estão pecuaristas, para quem o Margen deve R$ 15 milhões. Boschini considera que a dívida com criadores é pequena em comparação com os outros débitos e disse que isso é um ponto a favor da empresa. "Graças ao pequeno endividamento como os pecuaristas, o Margen pôde voltar a operar", afirmou. 

Segundo o advogado, a empresa tem outros débitos, no valor de R$ 30 milhões, com leasing e alienação fiduciária, que não estão sujeitos à recuperação judicial. 

Com a reabertura de unidades, o Margen contratou cerca de mil pessoas, de acordo com Adalberto Silva, parte dos quais já tinha trabalhado antes nas plantas do grupo. A paralisação das operações tinha levado o frigorífico a demitir cinco mil pessoas. 

Falta de capital de giro e de gado não foram os únicos problemas do Margen. As restrições da União Européia à carne bovina brasileira também prejudicaram o Margen, que em 2007 chegou a faturar R$ 1,5 bilhão e a ter capacidade de abate de 10 mil animais por dia em 16 unidades. Analistas do setor apontam ainda má gestão dos negócios para a crise da empresa, que há quatro anos foi alvo de operação da Polícia Federal. Naquela ocasião, sócios e diretores da empresa foram presos - e depois liberados - sob a acusação de sonegação de R$ 150 milhões em tributos federais, estaduais e municipais e em dívidas com o INSS. 

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