17 de Dezembro de 2008 - 14h:53

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Previdência em banho-maria

Por: Valor Econômico - Alessandra Bellotto

A crise financeira internacional já provocou mudanças no ritmo de crescimento da previdência privada aberta. Nada comparado aos estragos causados em mercados como o de crédito ou o de fundos de investimento tradicionais, que amargam resgates superiores a R$ 53 bilhões neste ano. Mas os números sinalizam uma desaceleração. No acumulado de 2008 até novembro, os fundos de previdência que recebem recursos de planos PGBL e VGBL registram queda de 18% na captação líquida (aplicações menos resgates) em relação ao mesmo período de 2007, para R$ 8,5 bilhões. Em outubro, um dos piores meses para os mercados financeiros desde o início da crise, o fluxo de recursos para a previdência no ano já estava 11% menor, segundo dados do site Fortuna. 

A freada no crescimento da previdência é conjuntural, avalia o vice-presidente de Vida e Previdência da SulAmérica, Renato Russo. "As incertezas quanto aos impactos da crise financeira na economia prejudicam qualquer visão de longo prazo", afirma. Nesse cenário, diz Russo, os investidores e participantes da previdência tendem a privilegiar alternativas de curto prazo. 

Não se espera uma onda forte de resgates, mas boa parte do dinheiro novo não deve ser direcionado para a previdência, até como uma forma de o investidor se precaver para o caso de precisar dos recursos num curto espaço de tempo. Saques na previdência podem custar caro para o participante, especialmente em prazos curtos e se a tabela de imposto de renda adotada for a regressiva, que começa com uma alíquota de 35% para os primeiros dois anos, chegando a 10% só depois de dez anos. "Acho bem razoável o investidor se comportar assim, ninguém sabe se vai perder o emprego amanhã", afirma Russo. 

O aumento dos retornos pagos nas emissões de Certificados de Depósito Bancário (CDBs) pelos grandes bancos de varejo, com necessidade de recursos para fazer frente à expansão das carteiras de crédito, também teve impacto, ainda que marginal, no ritmo de captação dos fundos de previdência, acrescenta o executivo da SulAmérica. 

Dados divulgados ontem pela Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), relativos a outubro, confirmam a queda no ritmo de expansão do setor. Pela primeira vez na história o saldo da carteira de investimentos, que inclui as reservas técnicas, o capital de seguradoras e outros valores, diminuiu entre um mês e outro, de R$ 140,7 bilhões em setembro para R$ 140,1 bilhões em outubro. Apesar de mínima, a redução deve-se principalmente ao aumento do volume de resgates, aponta o presidente da Fenaprevi, Antonio Cássio dos Santos. A desvalorização dos ativos teve sua parcela de culpa, mas o percentual de renda variável na carteira é muito pequeno, não chegando nem a 10%, estima-se. 

Santos conta que uma pesquisa com clientes de empresas de previdência representativas no mercado mostrou que uma fatia importante dos saques, cerca de 60%, foi motivada por campanhas para a quitação de dívidas. Outros 15% foram resgatados para antecipar as compras de fim de ano. A diferença, de 25%, é de resgates programados. 

Os aportes (sem considerar saques) em outubro somaram R$ 2,3 bilhões, uma redução de 4% em relação aos R$ 2,4 bilhões registrados no mesmo período de 2007 e também em setembro. O VGBL atraiu R$ 1,7 bilhão no mês, abaixo do volume de R$ 1,8 bilhão registrado em outubro de 2007 e em setembro último. O PGBL recebeu R$ 358,9 milhões em contribuições, aumento de 2,4% em relação aos R$ 350,4 milhões de outubro de 2007. O volume também supera os R$ 355,1 milhões do mês anterior. 

No acumulado do ano, até outubro, no entanto, o volume de contribuições (sem considerar resgates) atingiu R$ 25 bilhões, um crescimento de 16,5% em relação aos R$ 21,4 bilhões captados no mesmo período de 2007. 

Contudo, não dá para dizer que o mercado de previdência aberta vive um ano de crise, pondera o diretor do Fortuna, Marcelo D' Agosto. Não só porque o mercado continua com captação líquida positiva, mas, conforme lembra D'Agosto, os fundos do segmento tradicionalmente têm o melhor desempenho em dezembro. Além dos recursos a mais que podem entrar no mercado por conta do 13º salário, muitos clientes aproveitam para abater a contribuição ao PGBL da renda bruta anual na base de cálculo de Imposto de Renda. 

A captação total dos fundos de previdência em dezembro de 2008 pode surpreender positivamente, segundo o diretor do Fortuna. Em dezembro de 2007, a captação líquida foi de R$ 2,7 bilhões, o equivalente a 25% do fluxo anual. A participação relativa de dezembro, no entanto, vem diminuindo. Já chegou a ser 37% em 2005. 

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