26 de Dezembro de 2008 - 19h:09

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Crise deverá passar longe da cafeicultura em 2009

Por: Valor Econômico - Mônica Scaramuzzo

Nem mesmo a turbulência financeira internacional deverá tirar o café de sua rota de alta em 2009. Com a expectativa de menor produção brasileira e problemas climáticos em importantes países produtores, o cenário de oferta e demanda global para o grão será ajustado, com preços atraentes no mercado internacional. 

No mercado interno, o cenário é totalmente otimista. O consumo no Brasil deverá atingir 19,2 milhões de sacas de 60 quilos, um crescimento de 6% sobre os 18 milhões de sacas projetados para este ano, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic). As exportações deverão ficar entre 27,5 milhões e 28 milhões de sacas. Se concretizadas as estimativas, a cafeicultura nacional deverá movimentar entre 46 milhões e 47 milhões de sacas, praticamente os mesmos volumes de produção, um quadro apertado no país. 

Pesquisa realizada pela Interscience, encomendada pela Abic, mostra que a crise global não deverá afetar o consumo de café, segundo Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic. "O que pode ocorrer é uma redução da velocidade do crescimento, mas não queda do consumo", disse Herszkowicz. 

Segundo Herszkowicz, o consumo tem crescido no país a uma média de 5% ao ano. "A população mais jovem e a classe C estão tomando mais café", afirmou. 

Otimista, a Abic mantém a meta de consumo de café acima de 21 milhões de sacas a partir de 2010. Se confirmadas as previsões, o Brasil ultrapassará os Estados Unidos, tornando-se o maior consumidor global de café em dois anos. 

Para o mercado externo, o Brasil deverá embarcar entre 27,5 milhões e 28 milhões de sacas de 60 quilos em 2009, ante um volume de 28,5 milhões e 29 milhões de sacas neste ano, segundo o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). A queda reflete a menor produção brasileira em 2009, por conta da bianualidade (queda na produtividade a cada dois anos) da safra. 

Para 2008, o Cecafé projeta receita entre US$ 4,4 bilhões e US$ 4,5 bilhões, um aumento médio de 17% sobre 2007, quando a receita ficou em US$ 3,8 bilhões. Os volumes embarcados no ano passado foram de 27,3 milhões de sacas, informou Guilherme Braga, diretor-executivo do Cecafé. 

Braga também não acredita que a crise afetará os negócios com café no país e no mundo. "A não ser que haja um agravamento maior da turbulência financeira, aí tudo muda", disse. O Brasil deverá manter sua liderança no mercado internacional, com um market share em torno de 30%. 

Analistas ouvidos pelo Valor acreditam na recuperação dos preços internacionais do café, que recuaram de US$ 1,35 a libra-peso, antes da crise, para US$ 1,10 a libra-peso. "A tendência é de recuperação dos preços. Podemos dizer que o café será uma das commodities que será pouco afetada pela crise", disse Braga. 

Para Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, em Santos (SP), os preços também serão sustentados pela menor produção de países como Colômbia, o terceiro maior exportador, que tem sido atingido pelo clima muito chuvoso. Além disso, a Indonésia, que está entre os principais exportadores do mundo, apresenta problemas na safra de café . "Os produtores de café Vietnã [segundo maior exportador da bebida] estão aplicando menos insumos em suas lavouras por causa dos baixos preços do café [no primeiro semestre]", afirmou. 

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