29 de Dezembro de 2008 - 12h:00

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Revendedor autônomo responde por 47% das vendas

Por: Valor Econômico - Lílian Cunha e Marli Lima

Não é qualquer estabelecimento comercial que supera o faturamento de Maria Romera, uma paulista de 25 anos. Em dezembro, nas semanas que antecederam o Natal, houve dias em que ela vendeu R$ 10 mil em produtos Avon. Nos outros meses do ano, ela chega a faturar R$ 2 mil - não por mês - mas ao dia, trabalhando cerca de 10 horas diárias. "Vendo tanto que até consultores de mercado e analistas de banco que cobrem o setor de cosméticos vêm falar comigo para saber como as empresas estão indo", diz ela, que em 2009 se forma em Direito, mas nem pensa em largar as vendas diretas. "É uma atividade que rende mais do que a bolsa de valores nos bons tempos", diz.

O caso de Maria pode ser extraordinário, mas os 2 milhões de vendedores diretos do Brasil também tem motivos para comemorar, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (Abevd). A produtividade média dos revendedores em atividade cresceu 5% no terceiro trimestre do ano em relação aos mesmos meses de 2007, com movimentação média de R$ 840 ao mês. 

Movido por consultoras de beleza como Maria e representantes de vendas porta a porta de todo o tipo de produto, esse mercado cresceu 12,5% no volume de negócios, registrando um faturamento bruto de R$ 4,9 bilhões só no terceiro trimestre de 2008, o que representa um valor 20% maior que o total movimentado no mesmo período do ano anterior. Já nos nove primeiros meses, o crescimento acumulado de vendas atingiu 13,9%, com um giro de R$ 13 bilhões. No fechamento de 2008, as vendas diretas totais deverão somar R$ 17,5 bilhões, 10% a mais que em 2007, segundo Lírio Cipriani, presidente da Abevd. 

Dentre as categorias que trabalham com vendas diretas, a de cosméticos e cuidados pessoais sempre foi a maior. No ano passado, representou 88% do faturamento total. 

Para a indústria da beleza, as vendas diretas também sempre tiveram grande importância, mas nunca como agora. Do ano passado até novembro, a participação do comércio autônomo aumentou de 37% para 47% de tudo que a indústria produz, vende e fatura. Ou seja, para cada 100 cosméticos fabricados no Brasil, 47 chegam à consumidora por intermédio de uma representante de vendas sem vínculo empregatício, a famosa consultora de beleza. 

Para dar conta do crescimento desse canal de vendas, as empresas estão investindo em novos centros de distribuição. É o caso da paranaense Racco, empresa criada há 21 anos e que, nos últimos seis anos, cresceu em média 50% por exercício, de acordo com a diretora corporativa, Carla Andrade. O novo centro de distribuição da Racco será inaugurado em fevereiro em Curitiba e vai ampliar a capacidade de armazenagem da companhia em seis vezes. A primeira fase do empreendimento teve investimento de R$ 35 milhões e novas obras estão previstas até 2014. 

"O mercado está aquecido", afirma Carla. "Éramos uma pequena empresa de cosméticos, hoje somos de médio porte e, em oito a dez anos, queremos ser uma companhia de grande porte", acrescenta. 

A Avon - a maior do setor, com 1 milhão de revendedoras no Brasil - está investindo US$ 150 milhões em uma nova unidade de distribuição em Cabreúva, no interior de São Paulo, prevista para ser inaugurada em 2010. Esse centro será responsável pela entrega de 70% do volume de pedidos da empresa no país, enquanto os do Ceará e da Bahia complementam a distribuição. 

"A brasileira está se maquiando mais e se cuidando mais e o crescimento do setor de cosméticos puxa o de vendas diretas", diz o diretor de marketing de cosméticos da Avon, Ricardo Patrocínio. Cipriani, que também é diretor da Avon (Fundação Avon), concorda. "Em 2006, éramos o quinto maior mercado do mundo em vendas diretas, agora já somos o terceiro e podemos passar para o segundo a qualquer momento", diz o executivo. A crise, segundo ele, não deve atingir o setor no curto e médio prazo. "Todos estamos cautelosos neste momento mas, ao contrário de outros setores da economia, as vendas diretas ainda não apresentam sinais de impacto diante da crise financeira mundial, talvez pelo fato de não operarmos com base no crédito", analisa. 

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