29 de Dezembro de 2008 - 12h:19

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Resposta à pergunta: "Qual é o melhor investimento?"

Por: Valor Econômico - Aquiles Mosca

A pergunta que todo profissional do mercado mais ouve é: "Qual é o melhor investimento?" Vamos dar, de uma vez por todas, uma resposta definitiva para a questão. Não existe melhor investimento! Ainda que haja grande apelo e atratividade em imaginar que um único tipo de aplicação possa atender os mais profundos anseios dos investidores, essa alternativa simplesmente não existe. 

Caso você tenha ficado decepcionado com a resposta acima, mantenha calma. Na realidade tal decepção tem origem no fato de estarmos lidando com a pergunta errada. A questão correta que o investidor bem informado precisa fazer não é "qual é o melhor investimento", mas "qual é o investimento, ou conjunto de investimentos, que pode proporcionar a maior chance de atingir meus objetivos financeiros". Para que tenhamos a resposta certa, é necessário em primeiro lugar fazer a pergunta certa. 

Todo investidor pode e deve ter vários objetivos para suas aplicações. Um mesmo indivíduo pode ter como meta guardar dinheiro para trocar de carro em seis meses, acumular recursos para comprar o primeiro imóvel daqui a cinco anos e formar uma reserva para ter uma aposentadoria em 30 anos. Cada um desses objetivos é compatível com um conjunto de investimentos que proporcionará maior chance de atingi-los. 

De maneira geral, se o objetivo, seja ele qual for, encontrar-se em um horizonte de tempo inferior a 12 meses, a recomendação é evitar investir os recursos em ativos de risco. Isto é, em modalidades de aplicação que buscam dar um retorno mais elevado, mas que para tanto embutem obrigatoriamente em seu comportamento fortes flutuações a curto prazo. Esse é o caso de aplicações em ações. Em finanças, risco e retorno andam de mãos dadas. Em nossa avaliação, intervalos de tempo inferiores a 12 meses são incapazes de acomodar as fortes flutuações dos ativos de risco. Se esse é o intervalo de tempo que você dispõe para sua aplicação, privilegie a previsibilidade, aplicando seus recursos em modalidades atreladas às taxas de juros, como fundos DI e CDBs. 

Para o investidor cujo objetivo encontra-se além dos 12 meses, vale a pena considerar a diversificação de aplicações, incluindo modalidades mais arriscadas, como fundos multimercados e de ações, que por meio de diferentes graus de exposição ao risco, irão procurar adicionar retornos extras à carteira e facilitar a concretização do objetivo traçado. 

Nesse aspecto, a próxima questão que devemos responder é: "Quanto devo colocar em cada uma dessas modalidades mais arriscadas para ter maior chance de atingir minha meta?" Desconfie dos questionários que se propõem a responder essa pergunta de maneira taxativa após algumas perguntas. O conselheiro financeiro sensato não deve hesitar em dizer que não há uma forma objetiva de darmos uma resposta a essa questão. Isso ocorre porque estamos tratando de algo extremamente subjetivo: tolerância ao risco. 

Uma abordagem superficial do tema irá propor ao investidor perguntas do tipo: você faz seguro do seu veículo? Se o investidor responder que sim, o questionário irá concluir que se trata de um indivíduo avesso ao risco, uma pessoa precavida e, portanto, um investidor conservador. Isso é uma grande bobagem! Quando se deparar com esse tipo de questionário, simplesmente ignore-o e procure uma fonte melhor de orientação. 

A postura de qualquer pessoa ante o risco é algo muito pessoal. O melhor que podemos fazer é propor ao investidor que faça uma auto-análise. Por exemplo, invista uma pequena parcela de seus recursos (uma quantia que você pode se dar ao luxo de ver flutuar, como 10% daquilo que possui para investir) em um fundo de ações e/ou fundo multimercado e conviva com as oscilações resultantes por ao menos um ano. Caso esteja confortável com os movimentos observados, isso indica que seu apetite ao risco pode ser maior. Se esse for o caso, aumente a alocação nesses ativos de risco para algo como 20% de sua poupança. Se ficar desconfortável, reduza a alocação para 5% ou até mesmo elimine essas modalidades de investimentos de sua carteira. O importante é que, por meio da experiência e do autoconhecimento, cada investidor identifique a alocação ideal e compatível com seu apetite ao risco. 

Para ajudar o investidor nessa jornada de autoconhecimento, há ferramentas virtuais onde, por meio de uma simulação de carteira de investimentos hipotética, o investidor pode analisar como se portaria diante das oscilações do mercado (sem ter que investir seus próprios recursos). Isso permite ao aplicador inferir sua provável postura frente ao risco e, com base nisso, propor exemplos de alocações nas diferentes modalidades de aplicação. Investir certo é investir com objetivo. 


Aquiles Mosca é superintendente de vendas da Asset Management do Banco Real e autor dos livros "Investimento sob medida" e "Finanças Comportamentais" 

E-mail: aquiles.mosca@banco real.com.br 

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