29 de Dezembro de 2008 - 12h:24

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Como as empresas irão enfrentar o ano que vem

Por: Valor Econômico - Rafael Sigollo

Contenção de custos administrativos, de treinamentos que não forem considerados essenciais e de viagens. Congelamento de promoções, de contratações e, em alguns casos, medidas mais agressivas como demissões, tanto no nível gerencial quanto no operacional. Soluções emergenciais como estas, que funcionam principalmente no curto prazo, já se fazem presentes em grande parte das empresas no mundo todo. Os principais impactos da crise sentidos até o momento pelas companhias, no entanto, são a contração do crédito e a prorrogação e o cancelamento de investimentos. Essa é a conclusão de uma pesquisa realizada em novembro pelo Hay Group com 40 empresas instaladas no Brasil de diversos setores como químico, elétrico, papeleiro, siderúrgico, farmacêutico, alimentício, varejo e serviços - cada uma delas com faturamento anual entre US$ 100 milhões a US$ 1 bilhão. 

Trinta por cento das companhias, por exemplo, já sentem mudanças no posicionamento de clientes e fornecedores. O resultado disso é o aumento de custos, redução de produção e de vendas. Por esse motivo, cerca de 60% das empresas revisaram o orçamento para o ano que vem para se adaptarem ao novo mercado e conseguirem equilibrar as contas. Na agenda de 63% das empresas pesquisadas está a negociação de preços de matérias-primas e insumos nos próximos 12 meses e quase 25% admitiram que aumentarão os preços de seus produtos e serviços durante esse período. 

Diante destas perspectivas, a maioria (40%) irá adotar uma postura conservadora em 2009 e fará ajustes na receita de apenas 5% acima ou abaixo do nível atual. Como medidas para conter a crise, 76% optaram por postergar investimentos e 39% irão além, cancelando investimentos e até aquisições de outras empresas. Para Vicente Gomes, diretor do Hay Group, alguns setores sofrem mais do que outros e não conseguirão evitar demissões. "Em qualquer movimento da economia, uns ganham e outros perdem. Mesmo as empresas que não foram tão impactadas num primeiro momento, como as que produzem bens não duráveis voltados para o mercado interno, têm tomado diversas providências por precaução. Tranqüilo ninguém está", afirma. Para 63% dos presidentes e diretores de RH que participaram do estudo, a preocupação de seus funcionários e colaboradores com a crise é uma realidade. Novas contratações foram canceladas em metade das empresas, 40% já planejam uma revisão da estrutura organizacional e os cortes estão previstos em 20%.

De acordo com o diretor, é essencial que em um momento de turbulência os gestores saibam identificar e consigam reter os talentos e os executivos de alta performance no quadro de colaboradores. A medida tem por objetivo dar condições para que esses funcionários diferenciados contribuam na otimização de recursos e na produtividade, além de manterem a empresa competitiva mesmo depois da crise. "As organizações estão agindo com o máximo de cuidado, preservando tudo o que for possível dentro da perspectiva de ser eficiente e estar bem condicionado no futuro", garante. 

Ainda que estejam preocupados e sentindo os efeitos da crise, os líderes brasileiros acreditam que a situação é reversível e não deixará grandes seqüelas. Para 80% deles, em no máximo dois anos o mercado estará recuperado e voltará a apresentar números positivos. Embora precisem se adequar ao novo cenário, muitos estão encarando este momento como uma oportunidade e vislumbram até mesmo possibilidades de crescimento. Quase 30% esperam que a receita de sua companhia cresça no ano que vem, sendo que a grande maioria estima que o índice fique entre os 5% e 15% a mais do que em 2008. "Podemos dizer que esse é o lado positivo disso tudo. Até mesmo por uma questão de sobrevivência, muitas empresas estão repensando seu modelo de negócios, colocando em prática inovações, lançando produtos ou serviços e melhorando seus processos internos", ressalta Gomes. 

O diretor do Hay Group afirma que, nos últimos anos, com o cenário econômico favorável, as organizações cresceram muito rápido. Agora, é natural que se busque maior eficiência operacional e o máximo de retorno dos investimentos passados. "É como se as empresas estivessem indo à academia e se condicionando para enfrentar uma maratona", compara. Para Gomes, o futuro dessas organizações dependerá das decisões que forem tomadas agora. "Quem conseguir fazer os ajustes necessários e atravessar esse período sem sofrer muitos desfalques sairá fortalecido."

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