05 de Janeiro de 2009 - 13h:07

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Patrimônio tem crescimento anual de 23% em dez anos

Por: Valor Econômico - Luciana Monteiro

Com resgates acumulados na casa dos R$ 58 bilhões, o ano de 2008 deve entrar para a história como um dos piores para o setor de fundos de investimento. Mas quando se olha a expansão desse segmento nos últimos dez anos o que se vê é um crescimento anual de dois dígitos. Segundo relatório elaborado pelo site financeiro Fortuna, o patrimônio dos fundos de investimento saltou de R$ 146 bilhões no fim de 1998 para R$ 1,2 trilhão em 2008 até o dia 26. Desse crescimento, os rendimentos incorporados ao patrimônio dos fundos representaram R$ 860 bilhões no período, ou 82%. Já os ingressos de novos recursos nos últimos dez anos foram responsáveis por R$ 184 bilhões, ou seja, foram responsáveis por 18% da expansão. 

Boa parte do crescimento do patrimônio foi motivada pelas altas taxas de juros, assim como pela valorização do Índice Bovespa durante cinco anos consecutivos. Conforme os dados do Fortuna, devido às altas taxas de juros praticadas nos últimos dez anos, o patrimônio dos fundos de investimento cresceu a uma taxa média de 19% ao ano no período, apenas pela incorporação dos rendimentos dos fundos. Já a taxa total de crescimento levando-se em conta também as captações foi de 23% ao ano. 

Para 2009, um dos destaques do setor deve ser o fundo voltado ao desenvolvimento da infra-estrutura no país e que poderá receber recursos do FGTS, avalia Marcelo D'Agosto, diretor do Fortuna. O FI-FGTS será um fundo de participação, administrado pela Caixa Econômica Federal, que aplicará em projetos contratados sob a forma de parcerias público-privadas (PPP) para serem destinados aos setores de de infra-estrutura, como energia, rodovia, saneamento e hidrovia. A carteira ainda depende do aval do Conselho Curador do FGTS e a expectativa é que os trabalhadores possam aplicar 10% do total depositado no fundo de garantia nessa carteira. A rentabilidade do FI-FGTS deve ser um atrativo para os trabalhadores, já que o Tesouro Nacional deve garantir uma remuneração mínima da Taxa Referencial (TR) mais 6% ao ano. Esse retorno é o dobro da atual remuneração do fundo de garantia, de TR mais 3% ao ano. 

Entre os desafios para o setor de fundos em 2009 está a retomada dos multimercados. Diante do fraco desempenho de grande parte dos gestores de multimercados, os investidores bateram em retirada dessa categoria de fundos, que, no ano, acumulam resgates de R$ 45,752 bilhões até o dia 26. 

Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset Management, diz acreditar na interrupção do fluxo de saída de recursos no primeiro trimestre e projetar aplicações muito tímidas na categoria. Já no segundo semestre, a partir de maior estabilização dos mercados, queda da taxa Selic, visualização mais clara do cenário de 2010 e processo de "esquecimento do trauma das perdas" de 2007 e 2008, o fluxo voltará a ficar consistentemente positivo para o segmento, avalia. 

Interessante ressaltar a postura dos investidores dos fundos de ações, que, mesmo com a queda da bolsa, mantiveram suas aplicações. De acordo com os números do Fortuna, a categoria apresenta ingresso de R$ 2,824 bilhões até o dia 26, mesmo com a desvalorização de 42,30% do Índice Bovespa no mesmo período. 

Só o fato de não registrar saída de recursos já indica uma indústria de fundos mais madura e investidores mais preparados para lidar com o risco, avalia Otávio Vieira, diretor de investimentos do Safdié Private Banking. "O que se viu em 2008 foi que a pessoa física sustentou a bolsa brasileira, enquanto os estrangeiros venderam fortemente", lembra. Para ele, quando a crise passar e os juros voltarem a cair de maneira que o investidor não tenha um retorno de 1% ao mês, os aplicadores buscarão novamente os ativos mais arriscados. Na avaliação do executivo, o cenário deverá começar a clarear no segundo semestre e, quando o fluxo de recursos retornar para a bolsa, as ações de maior liquidez devem ser as maiores beneficiadas.

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