26 de Janeiro de 2009 - 16h:43

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Quais ações comprar diante da queda da bolsa?

Por: Valor Econômico - Luiz Codorniz

Nos últimos anos, os investidores se esbaldaram comprando ações de IPOs (Initial Public Offering, em inglês), de empresas que abriram o seu capital. As compras iniciais de IPOs foram bastante frutíferas, ou seja, o "flipping" - subscrição e venda no primeiro pregão - deu resultados. Porém, os últimos IPOs deixaram um gosto amargo, com perdas substanciais.

BIPO é uma abreviação de "Broken or Busted IPO" e refere-se àqueles IPOs cujos preços atuais estão muito abaixo do preço de lançamento. Essa situação foi criada pela saída intempestiva dos investidores estrangeiros. BIPOs, em mercados desenvolvidos, têm sido uma boa fonte de barganhas. 

Recentemente, conversando com um investidor, ele disse que tinha entregado para os céus sua carteira de ações devido à desvalorização. Comentei que fazer isso tem um custo de oportunidade e que ele precisava manter um distanciamento emocional deste contexto e mudar o foco para o lado racional da situação, isto é, para as oportunidades. Isso não quer dizer que ele precise colocar dinheiro novo em ações, mas realocar os recursos já investidos nas oportunidades mais promissoras do que as ações que estão em carteira. 

É fundamental nessas horas que o investidor não se deixe cair em armadilhas comportamentais como uma extrema aversão a perdas, arrependimento e lamentações. Isto só aumenta o problema e pode a levar a uma venda indiscriminada da carteira ou à paralisia. Investimentos em ações não são um "sprint", mas uma maratona. A respeito disso, o economista e investidor Ben Graham diz: "Aquele investidor que se permite ficar preocupado ou até mesmo apavorado com as quedas de seus papéis na bolsa estará transformando sua maior vantagem em sua maior desvantagem. Para este homem seria melhor que não houvesse qualquer cotação na bolsa, para que ele não se deixasse contaminar pela angústia mental causada pelo erro de avaliação de outras pessoas." 

Houve cerca de 115 IPOs nos últimos quatro anos desde o lançamento da Natura. Investidores estrangeiros, que compraram cerca de 70% do volume financeiro dos IPOs, e locais se beneficiaram da exuberância eufórica das bolsas dos mercados emergentes. 

Isso abriu um "gap" de avaliação muito grande entre as estreantes na bolsa e as empresas mais antigas, o que pode ser visto em um estudo realizado em agosto de 2007, com 95 IPOs, por Paulo Esteves e mencionado no artigo "The Best Buys in Brazil", de Tim Hanson. Baseado no índice P/VPA temos: IPOs 29,7 vezes; Bovespa 2,3 vezes e o S&P 500 com 2,5 vezes. E com base no índice P/L, temos respectivamente: 73,4 vezes; 14,9 vezes e 17,5 vezes. Resumindo, foi pago enorme prêmio pelos IPOs. 

A debandada dos investidores estrangeiros, vendendo a qualquer preço, depreciou enormemente as ações que, em muitos casos, vêm sendo negociadas por valores um pouco acima das aplicações financeiras e/ou capital de giro. Isso ocorreu porque muitas empresas não tiveram tempo de gastar o dinheiro arrecadado no IPO. Agora, elas estão numa posição privilegiada considerando a escassez de crédito e terão oportunidade de comprar os concorrentes menos afortunados. 

Claro que nem todos BIPOs são atrativos, assim como as oportunidades não se limitam a eles. As empresas mais antigas também devem ser consideradas. É possível encontrar pelo menos oito empresas com as seguintes características ideais: cheias de caixa (sem dívidas); baratas - negociadas abaixo do seu valor de reposição, isto é, o mercado está atribuindo erroneamente que não existe nenhuma perspectiva futura; negócio atrativo (possui vantagens competitivas), mesmo com a desaceleração econômica vai gerar caixa. E, a gestão da empresa é razoavelmente competente e alinhada aos interesses dos acionistas. 

Recentemente, Howard Marks, da Oaktree Capital, em "The Limits of Negativism", explicou sua estratégia atual: 1) tenha uma estimativa bem ponderada do valor intrínseco do ativo; 2) compre quando o preço caiu bem abaixo do valor intrínseco; 3) faça preço médio se cair mais; 4) esteja certo sobre o valor intrínseco. 

Algum leitor vai pensar sobre o "timing" da operação. Sobre isso Warren Buffett comenta: "Um argumento usado é que existem muitas incertezas a respeito do futuro próximo e não seria melhor esperar até que a situação ficasse um pouco mais clara? Você conhece a idéia: 'Fique em caixa até que as atuais incertezas sejam resolvidas'. Antes de apegar-se a isso, enfrente dois fatos desagradáveis: o futuro nunca é claro e você paga um alto preço pelo conforto do consenso. A incerteza é amiga do comprador de valor de longo-prazo." 


Luiz Codorniz é gestor de recursos 

E-mail lmcmarco@yahoo.com 

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