27 de Janeiro de 2009 - 18h:52

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Algumas lições para o investidor aprender com a crise

Por: Valor Econômico - Fábio Carvalho

A crise atual tem elementos que permitem aprender alguns conceitos importantes sobre investimentos. Se não podemos evitar a crise, aproveitemos ao menos para aprender com ela.

A primeira idéia é que para construir riqueza real e de longo prazo é mais importante não perder de forma relevante do que ganhar dinheiro. É sério. Pense na matemática envolvida: se você perder 50% em um investimento, precisará de uma alta de 100% para recuperar o valor inicial. Se você perder 66%, precisará de dificílimos 200% de retorno, apenas para voltar ao patamar inicial. Acredito que seja evidente que ganhar 200% com prudência não é fácil e, mais do que isso, levará alguns anos. 

Ou seja, quem enfrentou perdas desta ordem de grandeza literalmente perdeu diversos anos no seu processo de construção de riqueza e terá no longo prazo um patrimônio muito inferior ao que poderia, caso não tivesse passado por este acidente na fase de acumulação. Sei que isso já foi dito e repetido, mas incrivelmente parece que ninguém compreende a relevância e tantos seguem se expondo a riscos tremendos. 

Cuidado ao investir de forma excessivamente concentrada, ou alavancada, ou em ativos ou fundos misteriosos ou novos, apenas por que estão na moda ou pela empolgação "do mercado". 

Também deveríamos aprender que investidores deveriam procurar retornos diferenciados, descorrelacionados. Ganhar ou perder igual a todos os outros não gera riqueza. Ter liquidez quando outros não têm, ou quando outros perdem não perder, estes sim são elementos que permitem grandes resultados de longo prazo e criação efetiva de riqueza. Ficar na média é confortável, não assusta. Mas não gera riqueza. Não vou me aprofundar nisso, pois exigiria um livro inteiro, mas pense bem no conceito. 

Assim, ter a mesma carteira de investimentos de todos os outros, com bastante renda fixa, algumas ações que todos têm (e que supostamente conhecem "profundamente") ou algum fundo Ibovespa, de pouco adianta em termos de criação efetiva de riqueza, o objetivo principal da maioria. 

Outra lição indispensável os preços das ações caem. Hoje é fácil falar. Mas antes de meados de 2007, tentar fazer os investidores entender e agir adequadamente era tarefa impossível, e com grande chance de sofrer "ofensas" sendo chamando de conservador demais e medroso. Agora, materializada a crise, há muito devida, acredito que este ponto seja mais fácil de entender. A bolsa pode subir por cinco anos seguidos. Isso não significa, porém, que vá subir no sexto ou no sétimo ano. 

Investidores não podem se acostumar com o comportamento da bolsa de curto prazo, simplesmente porque não existem padrões definitivos e imutáveis. A única regra eterna de investimento em renda variável é que ela é imprevisível no curto prazo. Por isso, deve ser feito com conservadorismo e sempre com horizonte de longo prazo, quando a realidade econômica e a racionalidade nos preços dos ativos prevalece. 

Isso também nos leva a outro ponto, talvez o mais importante. Uma questão de finanças comportamentais ainda pouco estudada. O ser humano claramente tem uma enorme dificuldade de enxergar fora do momento atual, de extrapolar para o futuro algo diferente da situação corrente. Quero dizer que sempre que estamos em um momento bom de mercado, de euforia, todos pensam e agem como se aquilo não fosse acabar. 

Por outro lado, no meio da crise, paralelamente, quase todos pensam e agem como se a crise fosse perdurar eternamente, levando ao fim do mundo. Não entender que a economia - e o mercado por conseqüência - sempre funciona em ciclos é o maior problema dos investidores. Mesmo os que dizem entender, não agem de acordo. Sejamos honestos. 

No calor do momento, quando amigos, profissionais e a imprensa só falam de crise, a coisa mais importante não é saber o quão séria todos os palpiteiros acham que a crise será, mas saber que a crise vai acabar e a euforia voltar. Simples assim. E, então, tirar proveito do comportamento de pânico da manada. 

Hoje em dia os ciclos do mercado financeiro são cada vez mais curtos e intensos, com crises sendo superadas por bolhas de euforia e vice-versa. Não faz sentido ser levado pelo momento, variando seu humor e suas visões sobre investimentos ao sabor da mudança de humor do mercado. Certa vez o empresário Bill Gates disse algo, falando sobre novas tecnologias, que se aplica de forma muito importante aos investimentos: "As pessoas superestimam as mudanças nos próximos dois anos, mas em muito subestimam as mudanças dos próximos dez anos." Os ciclos existem e continuarão existindo. Os investidores, perdedores e vencedores, também. 


Fabio Carvalho é sócio da Orbe Investimentos 

E-mail: fabio@orbeinvestimentos.com 

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