02 de Fevereiro de 2009 - 17h:12

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Empresário tem de encarar a falta de crédito

Por: Estadão - Patrícia Cançado

O empresário Luís Roberto Chiarelli voltou a fumar no fim do ano passado. Há dias em que consome mais de 40 cigarros. Está visivelmente mais ansioso e abatido desde que a Cerâmica Chiarelli, fundada por seu avô em 1936, entrou com pedido de recuperação judicial, no dia 30 de dezembro.

A empresa vinha tendo prejuízo há quatro anos, mas a situação do caixa ficou inviável com o agravamento da crise financeira, que secou o pouco (e caro) crédito que ainda financiava a produção de pisos e revestimentos cerâmicos.

Hoje, quem caminha pelo terreno de mais de 100 mil metros quadrados onde está instalada a sede da Chiarelli, em Mogi Guaçu (SP), não vê mais o entra-e-sai dos operários nem ouve o barulho das máquinas. Na fábrica que funcionou ali, uma das duas da companhia, a produção está parada. O lugar será vendido.

O plano de recuperação, entre outras medidas de corte de custos, prevê a unificação da produção em apenas uma fábrica. "O problema não é só colocar dinheiro; é preciso mudar o modelo de negócios", conta Chiarelli.

Desde dezembro, a empresa demitiu um terço do quadro de funcionários - mais de 100 pessoas, incluindo toda a diretoria. "A recuperação foi exigência das empresas de factoring, que foram os únicos financiadores que sobraram", diz Caio Albino, membro da família convocado em dezembro para tocar a reestruturação. "A produção vai voltar em fevereiro, mas só com produtos que deem lucro."

O drama da Chiarelli não é muito diferente do de outras empresas familiares de pequeno e médio porte que cresceram ou mantiveram os negócios nos últimos anos à custa de dívidas. A crise tornou a situação financeira delas muito mais delicada que a das grandes companhias. Elas precisam disputar com as grandes o escasso dinheiro disponível no mercado. E, nessa briga, não levaram a melhor.

Os bancos de segunda linha, que costumavam financiar suas operações, foram os primeiros da lista a cortar crédito. Da noite para o dia, muitas dessas empresas se viram sem dinheiro no caixa para pagar contas corriqueiras, como salário dos funcionários e dívidas com fornecedores. A alternativa foi quebrar o cofrinho pessoal ou da família e, em último caso, pedir socorro às empresas de factoring. "Acontece que pagar juros de 5% ao mês leva as empresas desse porte à insolvência. Mais dia, menos dia", diz o advogado Euclides Ribeiro, sócio da ERS Consultoria e Advocacia.

Ribeiro está por trás do primeiro caso de recuperação judicial pedido por pessoa física no País. No dia 19 de janeiro, a Justiça de Mato Grosso aprovou o pedido feito por cinco produtores rurais e outras 14 empresas da família. Os irmãos Zulli, que deixaram o interior de São Paulo há mais de uma década para produzir soja e cana-de-açúcar no cerrado, sempre financiaram seu negócio com dinheiro de tradings, bancos e, mais recentemente, factoring.

O grupo acumula dívidas de R$ 150 milhões, sendo R$ 35 milhões em nome de pessoa física. "Como houve aumento no custo de produção e queda no preço do álcool no ano passado, não sobrava dinheiro para pagar juros de 5% ao mês.Não é a toa que temos várias em recuperação judicial atualmente", diz Ribeiro.

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