23 de Junho de 2009 - 13h:14

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Mafrig anuncia decisão comercial ao governador

Acrimat apoia, mas quer que os nomes de criadores ilegais sejam apontados

Por: Mariana Peres - Diário de Cuiabá

O grupo Marfrig, um dos maiores frigoríficos do Brasil e com boa parte de sua atividade concentrada em Mato Grosso, anunciou ontem, a moratória a bovinos originários do bioma amazônico. Em sua decisão comercial, anunciada ao governador Blairo Maggi, a empresa se propõe a não adquirir, abater ou comercializar de imediato animais da área do ecossistema que tenha sido desmatada. Diretores do grupo reuniram-se com o governador com a presença da organização não-governamental (ONG) Aliança da Terra.

A companhia é uma das maiores exportadoras de carne bovina do Brasil e da América do Sul e tem plantas em nove países diferentes, sendo duas em Mato Grosso. "Assim como já fizemos em outros setores da agricultura que têm relação direta com o desenvolvimento sustentável, buscamos um programa de pecuária legal em Mato Grosso. E o passo dado pela Mafrig, a partir de agora, mostra que estamos no caminho certo", avaliou o governador Blairo Maggi.

Na reunião entre os executivos do grupo e o governo do Estado, ficou acordado ainda que a moratória terá validade até a implantação do programa MT Legal, que prevê a regularização ambiental das 140 mil propriedades rurais de Mato Grosso. "A entrada do produtor no MT Legal significará que, a partir desse momento, ele cumpre com todas as normas ambientais e, portanto, poderá comercializar normalmente sua produção", disse o governador Blairo Maggi. O MT Legal é maior programa de regularização fundiária do país.

De acordo com o presidente da Marfrig, Marcos Molina, a empresa se compromete a trabalhar em parceria com o governo do Estado e com a sociedade brasileira em um programa de garantia de origem dos animais, ao promover a adesão dos seus fornecedores que fazem a engorda dos bovinos.

Com isso, será possível controlar a origem dos animais para abate, na certeza de que os rebanhos não sejam provenientes de áreas embargadas pelo Ibama ou que constem da lista de trabalho escravo do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

MERCADO – O maior rebanho do país, com 25,6 milhões de cabeça, está em Mato Grosso, onde os frigoríficos voltaram a obter resultado financeiro positivo em abril. De acordo com dados daquele mês do Sindicato das Indústrias de Frigoríficos do Estado de Mato Grosso (Sindifrigo), houve recuperação significativa da comercialização do setor em comparação com as quedas constantes verificadas a cada mês no primeiro trimestre. O valor comercializado ao exterior no mês teve aumento de 17,3% em dólar (US$ 39,226 milhões contra US$ 46,012 milhões). Já a quantidade exportada, ampliou para 27,3% (12,655 mil toneladas e 16,109 mil toneladas).

Em 2008, a exportação de carnes e derivados bovinos de Mato Grosso atingiu US$ 698,053 milhões, valor 11,33% maior que os US$ 626,992 milhões registrados em 2007. Nos últimos três anos, as plantas frigoríficas mato-grossenses têm mantido uma média de 13% de participação no volume nacional exportado em dólar.

Mato Grosso dispõe atualmente de 37 plantas frigoríficas, sendo que 15 estão com os abates suspensos por conta de pedidos de recuperação judicial e outras 22 em atividade. Algumas delas pararam abate neste ano justamente em cidades da região amazônica.

ANÁLISE – A decisão do Marfrig segue uma tendência aberta há algumas semanas, quando Pão de Açúcar, Walmart e Carrefour, anunciaram a suspensão de compras de produtos bovinos de 11 empresas frigoríficas do Pará, por não terem garantias de que a carne não vem de áreas desmatadas na Amazônia. Após a publicação de um estudo do Greenpeace sobre os rebanhos na região, deu origem às ações do Ministério Público Federal, e também de retaliação aos animais por parte de grandes varejistas que atuam no Brasil.

Para o coordenador das divisões de análises setoriais, atendimento à mídia e estatística, da Scot Consultoria, Fabiano Tito Rosa, as ações do Ministério Público e da Polícia Federal no Pará e Rondônia têm servido, ao menos, para "bagunçar" o mercado do boi gordo. Ninguém sabe de quem pode comprar e para quem pode vender, levando à retração do ritmo dos negócios e à desvalorização da arroba. “Ao final, todos os pecuaristas saem prejudicados. Sem exceção”.

No decorrer do mês de junho (até dia 19) a Scot Consultoria registrou desvalorização de 0,9% para a arroba do boi gordo, considerando a média de 28 praças pesquisadas. As maiores retrações foram registradas justamente no Pará: -5,6% em Marabá e -7,0% na região de Redenção.

“Logística deficiente, invasões de terra, pressões sócio-ambientais, ações do Ministério Público, ações da Polícia Federal, corrupção deslavada, preconceito, desgaste de imagem. Será que dá para continuar produzindo carne no Norte do Brasil?”, questiona. (Com assessoria)

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