24 de Junho de 2009 - 13h:58

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Com mais de R$ 123 milhões para receber, pecuaristas vão vender gado somente à vista

Por: Kelly Martins - Olhar Direto

Os pecuaristas de Mato Grosso decidiram restringir a venda de gado aos frigoríficos e, a partir de hoje, não venderão mais a prazo. Mediante a dívida do setor industrial junto aos criadores estimada em mais de R$ 123 milhões, a comercialização do boi será feita com pagamento à vista. Além disso, os produtores não venderão mais para os frigoríficos que estão em processo de recuperação judicial e que tenham dívidas com os pecuaristas.

Esse é o objetivo da campanha deflagrada hoje pela Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), que após quase dois meses da crise que assola o setor, começa a se mobilizar e pretende mudar o sistema de vendas, em parceria com as Federações de Goiás e Mato Grosso do Sul.

Mesmo considerado à vista, o recebimento não é de imediato,  a partir da entrega dos animais. Primeiramente, eles são mandados para o abate e depois de alguns dias a indústria terá tempo necessário para o abate e pesagem. Conforme o presidente da Famato, Rui Prado, o novo método de venda será para evitar os “calotes” das indústrias com a venda a prazo, já que tem deixado muitos produtores no prejuízo.

“Não somos financiadores de capital de giro das indústrias, mas sim revendedores. A campanha não preconiza apenas a venda, mas conscientizar os pecuaristas nas negociações com os frigoríficos”, declarou Prado durante entrevista coletiva, hoje pela manhã, para lançamento da campanha. Apesar de as indústrias pagarem o animal à vista com deságio, o presidente acredita que a maioria dos pecuaristas prefere essa redução ao risco de não receber pelo animal entregue ao abate. A intenção é não absorver um crédito para 30 dias.

No entanto, o novo método não servirá para o gado de elite, ou seja, de exposição. Atualmente há 50 unidades frigoríficas no Estado, sendo que três delas (Quatro Marcos, Independência e Arantes Alimentos) estão em situação de recuperação judicial. Somente o Frigorífico Independência tem como dívidas mais de R$ 50 milhões.

O vice-presidente da Associação de Criadores de Mato Grosso, José João Bernardo, informou que a conscientização deverá ser feita por meio de reuniões com os produtores nos municípios e que o trabalho será necessário para que, seja eliminado o risco de inadimplência que rondam os ruralistas. “Estamos em um momento muito ruim para os agricultores. Temos que mudar essa cultura antiga e implantar um novo método”, ressaltou.

Mato Grosso conta hoje com um rebanho de mais de 26 mil cabeças de bovinos e bubalinos, sendo o maior produtor de carne do país com mais de quatro milhões de animais abatidos por ano.


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