14 de Agosto de 2009 - 12h:47

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Crise cria oportunidade a investidor "abutre"

Por: Mike Spector e Jeffrey McCracken, The Wall Street

A forte recessão criou oportunidades para o investidor abutre como nunca antes. Os dados mais recentes mostram que acordos de aquisição baseados em dívida de recebimento duvidoso - em que detentores de títulos de dívida de difícil recebimento aproveitam a posição de credores para adquirir o controle da empresa em dificuldades - já são quase o dobro do número registrado em 2008. Cerca de 140 desses acordos foram fechados em 2009, ante 102 transações do tipo no ano passado, segundo a Dealogic.
Se combinados, os acordos valem US$ 84,4 bilhões, ante US$ 20 bilhões em 2008. E eles envolvem empresas de praticamente todos os recantos da economia americana, da fabricante de autopeças Delphi Corp. à varejista Eddie Bauer ou à rede hoteleira Extended Stay America.
Nesses casos, os credores não estão interessados em receber pagamentos mensais, mas em usar as aplicações para tentar adquirir o controle das empresas. É o equivalente a um banco que concede um empréstimo a alguém que compra uma casa com o objetivo de executar judicialmente uma hipoteca em atraso. Estratégias como essas sempre existiram e são conhecidas no mundo financeiro como "emprestar para tomar posse" e acordos "abutre". Mas o volume e a velocidade desses acordos nunca foram tão grandes, dizem banqueiros e advogados.
Os credores de hoje em dia são "cada vez mais fundos de hedge de olho numa estratégia de emprestar para tomar posse", disse Barry Ridings, vice-presidente do conselho do banco americano de investimento Lazard Freres & Co. LLC. Em empresas problemáticas que não conseguem quitar suas dívidas, é comum que os conselhos considerem que ceder o controle aos credores "é a melhor maneira de maximizar o valor", disse Ridings. Esses acordos estão mudando a maneira como trabalham os banqueiros e advogados de Wall Street. Ultimamente, os advogados de fusões e aquisições colaboram cada vez mais com o departamento de concordata de suas empresas e as firmas de reestruturação.
A tendência ficou evidente em junho, quando o fundo de hedge Elliott Management assumiu uma fatia ainda maior do empréstimo de concordata da Delphi Corp. - usado pela empresa para continuar operando em recuperação judicial. Isso na prática impediu que outros investidores assumissem o controle da Delphi.
A operadora de parques temáticos Six Flags Inc. fechou um acordo negociado antes de pedir concordata que passaria o controle da empresa aos credores. O plano, negociado com um grupo de firmas de participações como a Silver Point Capital e a Beach Point Capital, envolveria a rolagem de mais de US$ 1 bilhão em troca de novas dívidas e fatia de 92% da empresa quando ela saísse da recuperação judicial.
As oportunidades para esse tipo de acordo devem crescer. O Bank of America Merrill Lynch calcula que cerca de US$ 145 bilhões em dívidas podem entrar em moratória este ano, US$ 130 bilhões no ano que vem e US$ 120 bilhões em 2011. Os índices de inadimplência estão na casa dos 10%, ante 4% em 2008 e menos de 1% em 2007, quando o crédito era fácil e a economia estava forte. "Isso vai continuar por mais três ou quatro anos, com toda a dívida que ainda vai vencer", disse Scott Levy, chefe de fusões e aquisições sob condições adversas do Bank of America Merrill Lynch. "O valor absoluto previsto para as dívidas em moratória é seis ou sete vezes maior" que o da recessão do início dos anos 90.
O movimento maior desse nicho vem ocorrendo no mercado imobiliário. Fundos de hedge e outros investidores estão captando recursos para investir na onda de imóveis comerciais em execução judicial que se espera que chegue ao mercado. Cerca de US$ 123,7 bilhões em imóveis comerciais estão em moratória, execução judicial ou recuperação judicial, segundo a Real Capital Analytics. E, ao contrário dos acordos tradicionais, conduzidos em segredo entre os alvos e os compradores, os tribunais de falência geralmente divulgam as informações sobre seus casos. A Southwest Airlines Co., por exemplo, informou recentemente que iria fazer uma oferta concorrente pela companhia aérea concordatária Frontier, depois de esta ter revelado que tinha recebido oferta da Republic Airways Holdings Inc.
Negócios envolvendo crédito de recebimento duvidoso costumam envolver táticas impiedosas. Este ano, o diretor-presidente da Integra Telecom Inc., Dudley Slater, se reuniu com Michael Leitner, diretor-gerente da Tennenbaum Capital Partners LLC e investidor importante da dívida júnior da firma de telecomunicação. Slater explicou que a Integra continuava lucrativa, mas os lucros não estavam crescendo, e isso levaria a violação das cláusulas de seus empréstimos. Credores sênior queriam juros altos para reestruturar a dívida de US$ 1,3 bilhão da empresa.
Quando detentores de dívida júnior como Leitner levantaram a possibilidade de concordata, "eu fiquei muito chocado", disse Slater. Hoje, Tennenbaum e outros credores júnior estão prestes a assumir o controle da Integra, depois de trocar US$ 700 milhões em dívidas por participação na empresa, dentro de um acordo fechado fora dos tribunais. Passar a empresa para o controle dos atuais credores foi a única escolha da Integra, disse Slater. "A vida é sempre melhor quando você tem opções e, neste caso, não tínhamos opções", disse ele.
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