03 de Setembro de 2009 - 11h:26

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Pilgrim's seria novo grande desafio para JBS após Swift

Por: Bob Burgdorfer e Roberto Samora - Reuters

Uma eventual oferta do grupo JBS pela companhia norte-americana do setor de frangos Pilgrim's Pride seria um grande desafio para a companhia brasileira, tal como foi o processo de reestruturação da Swift, e permitiria a entrada da empresa no promissor segmento avícola, disseram analistas.

Nesta quarta-feira, o jornal Valor Econômico noticiou que entre as possíveis aquisições avaliadas pelo JBS está a Pilgrim's, empresa que registrou vendas de 8,5 bilhões de dólares em 2008 e está entre as maiores no setor avícola nos EUA e no México, com abates de 45 milhões de aves por semana.

A companhia, no entanto, enfrentou dificuldades financeiras no ano passado, em meio à crise global, e recorreu à recuperação judicial, da qual espera sair entre o final deste ano e o início de 2010.

Pilgrim's e JBS disseram que não comentariam a informação, mas analistas avaliaram a possível negociação como provável, num movimento que seria semelhante ao feito pelo JBS em 2007, quando comprou a norte-americana Swift, na época em condições financeiras precárias - hoje a empresa rebatizada de JBS USA opera com margens positivas.

"Eu acho que seria uma oportunidade fenomenal para eles (JBS)", afirmou o analista Rich Nelson, especialista da Allendale para o setor de carnes, com sede em Illinois (EUA).

"Eles ainda buscam maior envolvimento com a indústria de carne dos EUA e acertariam uma grande jogada, que pode ser o frango", afirmou Nelson sobre o possível movimento do JBS.

A indústria avícola dos EUA continua a se recuperar após um 2008 complicado, quando os custos com ração e combustíveis dispararam e os consumidores reduziram os gastos. As empresas do setor responderam cortando produção e fechando unidades.

BOAS FINANÇAS

Especialistas no Brasil avaliam que o JBS estaria preparado para esse novo desafio. "Tem alguns pontos que ajudam a ter esse tipo de conversa. Um deles é a questão da estrutura financeira do JBS. Estão com geração de caixa mais sólida, vão voltar a fazer aquisições... E tem a história da emissão nos EUA, isso dá mais poder de fogo para fazer investimentos", disse Rafael Cintra, da Link Corretora.

O JBS pediu em julho ao regulador do mercado norte-americano autorização para emitir ações e levantar até 2 bilhões de dólares, e o presidente da empresa, Joesley Batista, afirmou durante a divulgação dos resultados trimestrais que a empresa pretende retomar o crescimento da companhia, por meio de aquisições e expansão orgânica.

"É interessante, carne de frango tem potencial de crescimento maior... Tem a China com problemas de produção, e o JBS tem o know-how de fazer reestruturação, de pegar empresa com problema e torná-la lucrativa", acrescentou Cintra.

O JBS iniciou o trimestre com 2,3 bilhões de reais em caixa e conta com linhas de crédito no exterior de 560 milhões de dólares.

PROTEÍNA DO FUTURO

Para Osler Desouzart, da consultoria OD Consulting, executivo que já atuou na área internacional das brasileiras Sadia e BRF (ex-Perdigão), "inevitavelmente" o JBS deverá seguir uma estratégia para entrar no mercado que ele considera o da "proteína do futuro".

Para Desouzart, a carne de frango deve suplantar a suína como a mais consumida mundialmente em menos de dez anos, mas ele é cauteloso em falar sobre eventual negócio entre a Pilgrim's e a companhia brasileira, que se tornou a maior produtora e exportadora de carne bovina, com operações no Brasil, Argentina, EUA, Austrália e Itália.

"Comprar a Pilgrim's é mais ou menos entrar no ringue e xingar o Mike Tyson. Não é muito prudente. Agora, não significa que não tem um maluco para fazer isso", afirmou.

De acordo com o proprietário da OD Consulting, a forma mais rápida de se adaptar aos desafios do futuro é se antecipar a ele, o que poderia levar o JBS a seguir seu concorrente Marfrig e diversificar as atividades.

A operação seria ainda uma forma de o JBS também ampliar a sua atuação nos EUA, onde disputa a liderança em carne bovina com Tyson Foods e Cargill, depois de o governo norte-americano ter dificultado a compra da National Beef pelo JBS, em fevereiro.

Questionado se o JBS daria um passo muito grande com a Pilgrim's, Cintra, da Link, discordou, opinando que "eles só não entraram no mercado de frango por justamente não terem encontrado um ativo para entrar com porte".

E ele continuou: "Na Pilgrim's, eles entrariam com uma posição de destaque, pode parecer grande, mas eles já mostraram que podem lidar com situações complicadas. Veja o que fizeram com a Swift. Muitos acharam que seria difícil fazer o 'turnaround' (virada), mas eles fizeram".

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