17 de Setembro de 2009 - 09h:44

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Em dois lances, JBS vira líder global em carnes

Por: Roberto Samora - O Globo

Desembolsando 800 milhões de dólares para comprar uma participação majoritária na norte-americana Pilgrim's Pride, na qual assumiu também dívidas de 2,4 bilhões de dólares, o grupo brasileiro JBS tornou-se nesta quarta-feira a maior empresa global de carnes, entrando finalmente no negócio de frangos.

Se isso não bastasse, a companhia também incorporou nesta quarta-feira a Bertin, segunda maior do setor de bovinos do Brasil, em uma operação que envolveu ações avaliada em 5,2 bilhões de reais e que consolida uma série de aquisições desde 2005, quando a empresa começou a se internacionalizar.

Já a negociação com a Pilgrim's, na qual o JBS USA terá 64 por cento do capital social, foi avaliada em cerca de 2,8 bilhões de dólares.

"Temos de reduzir bastante o endividamento dela, mesmo tirando 800 milhões de dólares de equity, ela ainda fica com a alavancagem no nosso conceito acima do nosso histórico", afirmou o presidente do JBS, Joesley Mendonça Batista, em teleconferência para explicar a operação, que foi bem recebida pelo mercado.

A ação do JBS fechou com a maior alta do Ibovespa nesta quarta-feira, de 8,8 por cento, para 8,65 reais, enquanto os papéis da Pilgrim's nos EUA subiram mais de 10 por cento.

Com os acordos, o JBS agora atua nas principais carnes e estima o faturamento anual das operações combinadas em 30 bilhões de dólares, numa organização com capacidade global de abate de mais de 90 mil bovinos/dia, quase 50 mil cabeças/dia de suínos e mais de 7,2 milhões aves ao dia, contando com unidades nos EUA, Austrália, Argentina, Uruguai, Paraguai, Itália, México e Porto Rico, além do Brasil.

Apenas com as chamadas sinergias internas das aquisições, considerando logística e suprimentos, a empresa espera ter ganhos de 200 milhões de dólares ao ano com a Pilgrim's e de 500 milhões de reais com a Bertin.

"Acreditamos que em 2010 já seguimos firmemente. Lógico, não vai ter todo potencial. Mas em 2011 você já pode considerar todas as sinergias", disse ele.

Apesar do gigantismo da operação, especialmente nos EUA e no Brasil, Batista não prevê problemas com órgãos de defesa da concorrência, que ainda precisam aprovar os acordos.

Ele argumentou que a empresa está entrando em frango só agora nos EUA, e não haveria concentração, e que no Brasil o mercado é pulverizado e as empresas exportam cerca de 50 por cento da produção.

A aquisição da Pilgrim's, que está em recuperação judicial e espera sair do processo até o final do ano, contará ainda com linhas de crédito suficientes para financiar dívida de 1,5 bilhão de dólares, segundo nota do JBS.

O final do ano, por sinal, é prazo em que a companhia brasileira espera ver concluído o negócio com a Pilgrim's.

MAIS RECURSOS

Durante as explicações a jornalistas e analistas, Batista destacou que o acordo para adquirir a empresa norte-americana é "um divisor de águas", assim como o negócio da Bertin, e indicou que precisará de vultosos recursos.

Além dos cerca de 2 bilhões de dólares previstos em um pedido de emissão pública de ações nos EUA (IPO), que devem ser destinados para reforçar uma estratégia global de distribuição, a empresa poderia fazer também uma operação privada, para tentar captar 2,5 bilhões de dólares.

"Estamos considerando um deal publico, que é o IPO, mas... estamos analisando a possibilidade de captar até 2,5 bilhões de dólares em um deal privado", disse Batista, lembrando que, diante dos novos negócios, o pedido de emissão de ações vai ser reenviado à SEC e a operação será postergada

"Mais uma vez a gente propõe algo adequado à estrutura de capital, o deal vai ser suportado por algo como 2,5 bilhões de dólares, e capaz de manter a empresa não só conquistando a liderança global no ramo de proteína, mas com baixa alavancagem e capacidade de seguir investindo."

AVALIAÇÃO DA BERTIN

O presidente do JBS disse ainda que, assim como na Pilgrim's, na empresa formada com Bertin a família Batista terá maioria no Conselho.

E a Bertin deve se transformar em uma marca.

"A JBS SA, companhia brasileira de capital aberto listada na Bovespa, segue o seu curso. Ela incorporará a Bertin SA, que passa a se chamar JBS, sendo uma afiliada da JBS como todas as outras. O Bertin e suas marcas viram uma marca, como Friboi virou uma marca", disse Batista.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com importante participação nas duas empresas e grande impulsionador do setor no Brasil, deve ficar com algo em torno de 23 por cento na nova empresa combinada.

Questionado sobre um valor atribuído à Bertin, de pouco mais de 5 bilhões de reais, com base no acordo acionário, o presidente do JBS disse que isso é difícil de avaliar.

"É um negócio de troca de ações, é um escambo, não tem um valor, se considerar as ações da JBS ao preço que acho que vale, que é 15, 20 reais, acho que paguei caro. Já ele (Bertin) acha que foi barato...", disse.

Veja mais sobre o acordo em:

Após dominar carne bovina, JBS avança em aves JBS se une à Bertin e compra Pilgrim's Com Bertin e Pilgrim's, JBS será a maior em carnes Com IPO e captação nos EUA, JBS busca US4,5bi

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