09 de Novembro de 2009 - 09h:37

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Fabricante de autopeças Lear sai hoje da concordata

Por: The Wall Street Journal

A fabricante americana de autopeças Lear Corp. planeja sair da recuperação judicial hoje com uma mensagem do diretor-presidente, Bob Rossiter: "Somos uma empresa mais firme, mais enxuta, que nunca mais cometerá alguns dos erros do passado".

A empresa, sediada em Southfield, no Estado de Michigan, fabrica assentos e componentes eletrônicos para automóveis e espera voltar à normalidade após quatro meses de concordata. Apesar dos temores citados no início do ano, de que fabricantes de autopeças como ela não conseguiriam financiamento de concordata, Rossiter conseguiu obter US$ 500 milhões com credores e também trocou bilhões em dívidas por participação na empresa.

A Lear e muitos outros membros importantes da indústria americana de autopeças conseguiram evitar o cenário trágico previsto este ano para a cadeia de produção do setor. Pelo menos 50 fabricantes pediram concordata em 2009, mas muitos deles conseguiram se reerguer rapidamente e evitar a liquidação, mesmo com o setor operando a 46% da capacidade, segundo a Associação de Fornecedores de Peças Originais.

"Houve um progresso significativo nos últimos meses em reconhecer e proteger os (fornecedores) que vão continuar a ser a base de qualquer (montadora) que pretende sobreviver à crise", disse num relatório recente o analista da CSM para cadeia mundial de suprimentos, John Eaton. Bilhões em socorro do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos e a fonte inesperada, embora limitada, de financiamento para recuperação judicial ajudaram a resgatar muitas das maiores fabricantes.

A Lear deve divulgar lucro operacional de US$ 100 milhões e fluxo de caixa positivo de US$ 100 milhões no terceiro trimestre, além de anunciar que sua carteira de novos pedidos para os próximos três anos aumentou 25% desde janeiro, para US$ 1,4 bilhão, segundo um porta-voz.

Para Rossiter, que está no comando da Lear desde 2003, o desafio nunca foi provar que sua empresa tem um núcleo sólido. O verdadeiro desafio é obter crescimento sustentado dos lucros diante da dependência das montadoras americanas, que muitas vezes obrigam as fabricantes a aceitar reduções de preço, absorver reajustes na matéria-prima e se endividar até o pescoço para ganhar contratos de longo prazo.

Foram as dívidas, boa parte delas relacionadas a um negócio que não controla desde meados dos anos 90, que forçaram a Lear a entrar em concordata.

A empresa desmembrou sua divisão de interiores — que obtinha uma margem minúscula com a fabricação de peças de plástico moldado por injeção — ao bilionário investidor Wilbur Ross. Como parte do acordo, a Lear aceitou manter US$ 2 bilhões em dívidas da divisão. "Estávamos carregando US$ 2 bilhões em dívidas que não podíamos compensar com vendas", disse Rossiter ao Wall Street Journal na sexta-feira.

Em novembro do ano passado, depois da crise no mercado de crédito e o declínio brusco das vendas americanas de automóveis, Rossiter disse que ficou evidente que a empresa teria de resolver seu endividamento.

Em vez de esperar pelo dinheiro do contribuinte ou pedir ajuda significativa dos clientes, Rossiter tentou a sorte com a concordata e os credores, deixando claro que "somos mais realistas sobre nossa abordagem (...) e queremos um retorno justo para o que entregarmos".

A Lear espera que sua ação volte a ser negociada na Bolsa de Nova York com o fim da concordata. Rossiter disse que o valor de mercado da empresa, controlada principalmente por credores que apoiaram seu plano de reestruturação, deve chegar a US$ 1,9 bilhão, nível inédito desde meados de 2008.

"Acho que consertamos a empresa e vamos sair (da concordata) com indicadores dignos de grau de investimento", disse Rossiter.

Sob o comando de Rossiter, a Lear transferiu cada vez mais operações para países mais baratos e conquistou clientes fora dos Estados Unidos, como na Ásia e Europa. Sua conquista mais recente foi o contrato dos assentos do novo compacto Fiat 500 que a Fiat SpA planeja fabricar no México e vender nos EUA através de sua aliança com a Chrysler Group LLC.

Mas apesar das mudanças profundas a Lear só teve lucro anual uma vez nos últimos quatro anos fiscais. A Standard & Poor's Ratings Services divulgou sexta-feira suas expectativas para a avaliação de risco da Lear, calculando que 37% das vendas de 2008 dela foram para a General Motors Co. e a Ford Motor Co. Só a GM responde por cerca de 25% das vendas da Lear.

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