18 de Fevereiro de 2010 - 09h:47

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Fris-Moldu-Car ainda vive indefinições

Por: Leone Farias - Diário do Grande ABC

Em processo de recuperação judicial, a fabricante de autopeças Fris-Moldu-Car, de São Bernardo, comemorou ontem 52 anos de existência. Se para a companhia há motivos para festejar - a empresa projeta expansão de pelo menos 50% nas vendas neste ano frente a 2009, para alcançar R$ 1,5 milhão de faturamento -, para os mais de 400 trabalhadores que tinham débitos a receber dessa indústria, a situação é de total desânimo.

A diretora da Fris, Edna Ortolan, relata que acaba de fechar contrato para produzir componentes de motocicletas para fornecedora da Moto Honda e tem atendido a outras empresas de autopeças, como a Behr e Galuti e a CGE. "Pintamos calotas para Volkswagen (por meio de encomendas feita pela CGE) e injetamos peças de plástico", afirma.

Ainda segundo ela, com o aquecimento da economia, muitas indústrias que têm contratos com as montadoras não estão dando conta dos pedidos e terceirizam parte das encomendas. "Nossas máquinas injetoras são grandes, de 1.600 toneladas e 1.250 toneladas, são antigas mas bem conservadas", destaca.

Edna acrescenta que há atualmente a busca por certificações em programas de qualidade para poder voltar a atender de forma direta as fabricantes de veículos. A Fris-Moldu-Car, até 2006, chegou a ter como clientes seis indústrias automobilísticas.

Há 45 anos no bairro Rudge Ramos, a fabricante foi fundada em 1958 no bairro do Ipiranga, em São Paulo. E foi quando estava na Capital que passou pela empresa um ilustre funcionário: Luiz Inácio lula da Silva. Na época, aprendiz do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), o hoje presidente da República trabalhou na linha de produção por 11 meses.

LEILÃO
A companhia ainda aguarda uma definição da Justiça para deixar o imóvel que ocupa e buscar nova sede, que poderá ser locada. "Estamos procurando, mas as máquinas são pesadas e precisamos de um imóvel alto, com pé-direito de oito metros e boa localização", afirma.

Em agosto do ano passado, como parte do processo de recuperação judicial, a empresa realizou assembleia de credores que aprovou a venda do prédio, localizado na Avenida Caminho do Mar, no bairro Rudge Ramos, para pagamento dos débitos trabalhistas e quirografários (dos bancos e fornecedores). O imóvel foi a leilão no dia 3, e foi arrematado por R$ 13,660 milhões.

A companhia fez acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, definindo que parte desse valor, cerca de R$ 6,2 milhões, iria para os 400 ex-funcionários que têm direito a verbas rescisórias não pagas. Mas, eles ainda não receberam nada, porque não teria sido feito o depósito judicial do valor da venda do imóvel.

Fisco pede sua parte e trabalhador não recebe

Os mais de 400 ex-funcionários da Fris-Moldu-Car que contavam com a recuperação judicial para receber salários e benefícios não pagos pela fabricante de autopeças ainda não receberam nada.

O acordo firmado em 2008 pelos trabalhadores com a companhia estabeleceu que parte do valor obtido com o leilão do imóvel dessa indústria (R$ 6,2 milhões) iria para verbas rescisórias. Segundo o diretor executivo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a dívida trabalhista, se não houvesse esse acordo, já ultrapassaria hoje os R$ 20 milhões.

No entanto, apesar de o prédio ter sido arrematado, não foi feito o depósito judicial. Isso teria ocorrido porque houve conflito de competências, entre a Justiça comum e a Justiça Federal - a Receita Federal havia entrado com recurso para receber as dívidas previdenciárias -, o que levou o processo a ser discutido no Superior Tribunal de Justiça. "O Poder Judiciário não tem prazo para decidir. Não dá para o trabalhador aguardar tanto tempo", afirma o advogado do sindicato, Marcelo Mauad.

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