22 de Fevereiro de 2010 - 11h:58

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Shree Renuka compra usinas da Equipav

Por: Mônica Scaramuzzo - Valor

O grupo indiano Shree Renuka concluiu a compra de 50,79% de participação das duas usinas de açúcar e álcool do grupo Equipav, conforme antecipou o Valor. O negócio foi avaliado em R$ 600 milhões. Com a aquisição, a companhia indiana finca os pés em São Paulo, maior Estado produtor de cana no país, e avança seus domínios sobre a região Centro-Sul do Brasil. As famílias controladoras do grupo - Toledo, Tarallo e Vetorazzo - ficaram com a fatia restante do negócio.

A estreia da Shree Renuka no país ocorreu em novembro do ano passado, com a compra de 100% do controle de duas usinas do grupo paranaense Vale do Ivaí. A companhia é um dos maiores produtores de açúcar da Índia, com produção estimada em 1 milhão de toneladas por ano. No Brasil, deverá acelerar a disputa para ficar entre as cinco maiores.

As negociações com as famílias controladoras da Equipav ocorrem desde o segundo semestre do ano passado, mas ganharam força nos últimos dois meses após os indianos perderem a disputa para a Bunge na compra das usinas do grupo Moema, de acordo com fontes familiarizadas com a operação.

Com duas usinas de açúcar e álcool instaladas em São Paulo, os ativos da Equipav estavam entre os mais cobiçados por grandes grupos multinacionais, uma vez que suas unidades são consideradas algumas das mais eficientes da nova safra de projetos sucroalcooleiros. As duas usinas contam com instalações integradas de cogeração de energia a partir da biomassa de 203 megawatts (MW) e capacidade de moagem de cana de 10,5 milhões de toneladas por ano. Essas duas unidades deverão receber novos investimentos da Shree Renuka para elevar a moagem para 12 milhões de toneladas e geração de energia para 295 MW. O grupo indiano se compromete a fazer aporte adicional de R$ 218 milhões para promover essa nova fase de expansão.

Com forte endividamento acumulado nos dois últimos anos, sobretudo como reflexo da crise que o setor sucroalcooleiro enfrentou a partir da safra 2007/08, e investimentos na segunda unidade da companhia, a Biopav, inaugurada em 2008, a companhia teve de ser colocada à venda. No início das negociações, os acionistas não queriam abrir mão do controle da empresa, mas tiveram de ceder porque os potenciais compradores, entre eles a própria Renuka e a Bunge, não concordavam em ser minoritários no negócio. Outros grupos, como Cosan, VREC, Rhodia, São Martinho com a GP Investments também disputavam o negócio, mas saíram do páreo, conforme apurou o Valor.

A atual participação da grupo indiano na Equipav, de 50,79%, poderá aumentar. A transação está sujeita à aprovação de um acordo aceitável de refinanciamento da dívida pelos credores para a companhia. O prazo de fechamento da transação está previsto em 40 dias. A Inspire Capital Partners atuou como assessor estratégico dos acionistas da Equipav. O Santander foi contratado como assessor financeiro exclusivo da Equipav e o escritório Tozzini Freire para assessor jurídico. Do lado dos indianos, atuaram na assessoria financeira o banco Itaú BBA e Motilal Oswal I.A..

Com oito usinas de açúcar e três destilarias de álcool na Índia, a Shree Renuka Sugars, com operações desde 1999, também gera energia a partir da biomassa, com capacidade 173 MW em seu país de origem. A companhia, que tem duas refinarias na Índia, é uma das maiores importadoras de açúcar VHP (Very High Polarization) brasileiro. Listada na bolsa de valores da Índia, a empresa realizou uma captação no mercado de US$ 1,24 bilhão (R$ 2,24 bilhões) no dia 19.

O grupo indiano pretende criar uma plataforma global de açúcar e álcool e reduzir sua dependência da Índia. Nos últimos dois anos, o país foi o principal responsável pela forte alta dos preços do açúcar no mercado internacional, como reflexo da quebra da safra de cana. A expectativa é de que o país volte a recuperar sua produção somente a partir do novo ciclo de produção de cana, a partir de outubro deste ano.

No Brasil, a crise do setor sucroalcooleiro começou um ano antes da que foi deflagrada no mercado internacional. Muitos projetos de novas usinas, que estavam em andamento, tiveram de ser engavetados. A própria Equipav tinha planos para erguer duas novas usinas - uma em Goiás e outra no Mato Grosso do Sul. Esses dois projetos foram abortados por causa da crise e os acionistas da empresa tiveram de sair em busca de sócios para evitar um pedido de recuperação judicial. Cerca de 50 unidades foram colocadas à venda desde 2008. Dos grandes negócios realizados no período estão os ativos da Equipav, Moema, Nova América e Santelisa Vale.

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