29 de Abril de 2010 - 12h:13

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Demanda por crédito cresce dentro do varejo

Por: DCI

Com o crescimento da classe C, que já responde por cerca de 50% da renda do País, e o bom momento da economia, a procura por crédito tanto por parte de empresas e redes varejistas quanto por parte dos consumidores deve aumentar. As instituições financeiras estão cada vez mais interessadas nesses públicos e devem ampliar a capilaridade no varejo por meio do estímulo ao uso de cartões de crédito. O desafio é buscar novas maneiras de facilitar o acesso ao crédito e saber melhor o que seus clientes querem, principalmente as pequenas e médias empresas, que ainda têm maior dificuldade de obter financiamentos.

A Nossa Caixa Desenvolvimento, por exemplo, braço da Nossa Caixa que foca micro e pequenas empresas, prevê crescimento e pretende atingir R$ 1 bilhão em operações de crédito para empresas no Estado de São Paulo este ano, sendo que hoje tem R$ 270 milhões em crédito já aprovado. De acordo com Milton Santos, presidente da Nossa Caixa Desenvolvimento, há 1,8 milhão de microempresas  em São Paulo, e o foco da agência são cerca de 36 mil empresas com faturamento de R$ 240 mil a R$ 100 milhões por ano, sendo que a procura por crédito nessa faixa tem crescido cada vez mais. “Todas as nossas linhas de crédito são voltadas para pequenos comerciantes e pequenas indústrias, e a demanda tem aumentado à medida que  ficamos mais conhecidos no mercado”, diz.

Ele afirma que as empresas buscam recursos principalmente para expansão, ampliação e instalação de novas linhas de produção e compra de equipamentos, por exemplo. “Elas, porém, têm  muita dificuldade de fornecer informações e de fazer balanços” que auxiliem na hora de obter um financiamento, reforça Santos.

Hilgo Gonçalves, presidente do Losango, que faz parte do Grupo HSBC e atua em parceria com o varejo oferecendo crédito pessoal e soluções financeiras, citou o exemplo de Ricardo Nunes, fundador da rede Ricardo Eletro, agora parte da Máquina de Vendas, depois da fusão com a Insinuante, que começou com um pequeno ponto-de-venda há 20 anos  e cresceu com crédito e atendendo às classes mais baixas. “Estivemos com ele desde o início, e agora ele é o segundo maior varejista do País”, disse, durante o Congresso Consumidor
Moderno de Crédito e Cobrança e Meios de Pagamento (CCMCC), que começou ontem em São Paulo.

Para Gonçalves, também há falta de informações não só das pequenas empresas, mas também dos novos consumidores que elas estão atendendo agora. “Nós estimulamos o varejista a conhecer melhor o seu cliente e a nos passar essas informações”, afirmou. O executivo reforça que o problema não é só a taxa Selic e os juros, mas a taxa de inadimplência, que acredita que pode reduzir ainda mais com a implementação do cadastro positivo. “Nos países em que já há cadastro positivo, dá-se uma redução de até 40% da inadimplência”, diz.

O presidente da Losango ainda destacou a necessidade de o varejo olhar quem toma crédito e avaliar melhor a necessidade do capital e se terá condições de pagar a longo prazo, mas destacou que o setor cresce acima da média do mercado. “Trabalhamos com 23 mil empresas no Brasil e vemos que o varejo cresce muito mais, 25% por ano. Mesmo com a crise econômica tivemos crescimento de 5% do nosso market share e queda da inadimplência”, disse.

Cartões

Uma das formas encontradas para distribuir o crédito no País foi o cartão de crédito, sendo que a cada dez cartões emitidos, sete são para essa nova classe média brasileira, de acordo com Marcos Magalhães, diretor do Itaú Unibanco. Com a ascensão desta classe, a tendência é de que o mercado se ajuste para atender esse público.

A classe média cresceu cerca de 40% nos últimos anos, representando hoje mais de 50% da população brasileira, são 92 milhões de pessoas, crescimento que, segundo Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco, ocorreu  devido ao aumento do emprego formal e da renda do trabalhador. Assim ainda se explica o alto crescimento no varejo, que é a porta de entrada para esses novos consumidores.

Entre os supermercadistas, por exemplo,  as vendas com esse mecanismo aumentaram 25,2% em 2009 em relação ao ano de 2008, dado fornecido pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras), que comemora o alto nível de vendas: 17,9% maiores que as de 2008. Outro fator a ser observado é a questão dos cartões private label, que hoje perdem espaço para  cartões de bancos que, associados aos lojistas, conseguem fornecer mais serviços ao consumidor, que com um mesmo cartão consegue fazer compras no supermercado e no shopping, por exemplo.

Segundo Ivo Veitas, diretor executivo da Hipercard, uma das maiores operadoras de cartão de crédito do Brasil e que pertence ao grupo Itaú Unibanco, há 571 milhões de cartões emitidos no Brasil, e a previsão é de que se chegue a 628 milhões de cartões este ano.

De 2000 a 2009, o número de cartões emitidos  cresceu 431%. Mas o executivo, que também participou do evento, lembra que no Brasil foi privilegiada a universalização de cartões enquanto a lucratividade por ponto-de-venda é uma das menores do mundo.

Hoje, 61% das pessoas de classe A e B possuem cartão de crédito e 38% têm algum cartão de loja;  na classe C, os números caem:  38% têm cartão de crédito e 26% portam algum cartão de rede varejista. Nas classes D e E, a proporção é de 20% e 15% de cartão de crédito e de loja, respectivamente; a distribuição, porém,  pode mudar com o crescimento das classes mais baixas.

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