27 de Dezembro de 2010 - 13h:25

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Falência cai entre empresas de micro e pequeno

Por: Folha de São Paulo

A participação das MPEs (micro e das pequenas empresas) em pedidos e decretos de falência caiu de 2005 a 2010. Há cinco anos, elas representavam 86,5% dos pedidos e, hoje, somam 63%.

Em números absolutos, as falências requeridas de MPEs passaram de 8.260 em 2005 para 1.145 de janeiro a novembro deste ano.

Já as execuções de falência de empresas desse porte caíram de 95,1% para 89,5% segundo levantamento da Folha baseado em números da Serasa Experian.

Uma das explicações, de acordo com Carlos Henrique de Almeida, assessor econômico da Serasa Experian, é que antes da Lei de Recuperação e Falências, em vigor desde 2005, os credores podiam entrar com pedido de falência para dívidas de qualquer valor.

Hoje, o instrumento só pode ser usado para valores acima de 40 salários mínimos.

A lei também introduziu a figura da recuperação judicial, em substituição à concordata. Antes, a empresa tinha dois anos para se ajustar, e as condições eram determinadas por um juiz.

Na recuperação judicial, o tempo é aquele necessário para o negócio se reorganizar, e as condições são aprovadas com os credores.

Ainda assim, outras saídas devem ser estudadas antes da recuperação judicial, pelos altos custos que impõem com notificações em jornais, advogados e administrador judicial, considera Eduardo Lemos, diretor-presidente da TMA Brasil (associação voltada à recuperação financeira corporativa).

Uma das que buscaram alternativas foi a Liqui, indústria da cadeia automotiva.

Apesar da queda do faturamento médio mensal de R$ 600 mil em 2008 para R$ 80 mil de janeiro a maio de 2009, a diretoria manteve funcionários e operações.

O resultado foi um endividamento de R$ 3 milhões.

A empresa reorganizou sua administração e renegociou as dívidas. Mesmo assim, afirma o sócio Renato Cot, 52, "alguns bancos não quiseram conversar".

Renegociação de dívida é entrave

Exigências levam empresas a se reestruturarem sem recorrer à Lei de Recuperação e Falências

A Lei de Recuperação e Falências beneficiou as micro e pequenas empresas, mas especialistas apontam que ainda há ajustes a serem feitos.

Um exemplo é que ela exige certidões negativas de débitos tributários (ou seja, impostos pagos em dia) no caso de recuperação judicial.

"Muitas vezes, contudo, os empresários precisam entrar com a solicitação justamente para pagar impostos", aponta o advogado Thomas Felsberg, especializado em recuperação de empresas e reestruturação financeira.

Outros obstáculos para empresas que enfrentam problemas financeiros são os impostos pelos bancos.

Há instituições que só refinanciam empréstimos no caso de inadimplência.

A Fisio Estética, clínica de Uberlândia (MG) com 20 funcionários, queria renegociar parte de sua dívida de R$ 500 mil com uma instituição, mas enfrentou essa barreira.

Conseguiu, contudo, reestruturar parte do valor acumulado em 2008 com os demais fornecedores.

O problema começou por falta de controle financeiro centralizado -os dados estavam em três bases diferentes. "Só percebemos quando ficamos sem fluxo de caixa", conta o sócio Marco Aurélio Marques Batista, 36.

REESTRUTURAÇÃO

Nesse caso, não houve necessidade de recuperação judicial. A empresa unificou contas em software específico. Hoje, a dívida é de R$ 300 mil e deve ser liquidada em cinco anos, calcula Batista.

A situação é similar à do Clube Atlético Indiano, de São Paulo, que tem deficit de R$ 280 mil, boa parte em consequência da crise de 2008.

"Itens de lazer foram cortados na época", afirma o vice-presidente comercial Osvaldo Nunes de Souza, 47.

A reorganização também foi suficiente para saldar as obrigações. Souza calcula que já em 2011 haverá R$ 210 mil extras em caixa.

Uma das iniciativas foi o parcelamento das dívidas, principalmente com bancos. O cheque especial estava em R$ 120 mil. Com mais dinheiro em caixa, Souza investiu em pintura do clube e em modernização da academia.

Os sócios foram isentos do pagamento do título e o número dobrou de 600 em 2008 para 1.200 hoje.

Com as mensalidades de R$ 150 (individual) e R$ 230 (família) somadas ao aluguel das instalações para eventos e ao estacionamento, o faturamento mensal cresceu de R$ 100 mil para R$ 300 mil.

Avaliação pode antecipar perda de produtividade

Enxergar problemas quando eles ainda são potenciais é o ideal, na avaliação de especialistas. Dessa forma, dizem, é possível prever dificuldades e reajustar a trajetória para evitar prejuízo.

Esse estudo deve ser realizado a partir de uma análise do desempenho financeiro e operacional, como fez a Cremer, de produtos médicos e hospitalares, em 2008.

A empresa vivia um momento lucrativo em 2008, mas os resultados mostravam que poderia perder eficiência com o tempo.

Enquanto a receita bruta cresceu 15,9% de 2007 para 2008, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos e amortizações, que mede a eficiência e a produtividade da empresa) teve redução de 4,7%.

O trabalho foi mapear produtos com maiores margens de lucro, diz o diretor-presidente Alexandre Borges, 37.

O resultado foi a redução do portfólio de 5.000 itens para 2.000 e o aumento de 36,5% no Ebitda de 2008 para 2009.(JV)

LEGISLAÇÃO

PROJETO MUDA REGRAS DE LEI DE FALÊNCIAS

Tramita na Câmara dos Deputados o PLP nº 591/ 2010, que altera a Lei de Falências para micro e pequenas empresas. Ele limita o valor das parcelas renegociadas de dívidas tributárias a 0,3% do faturamento bruto e põe MPEs atrás apenas de créditos trabalhistas na fila de credores.

Empresários mudam foco para não perder mercado

Atender clientela diferente é estratégia para reverter queda de receita

Perdas financeiras e redução de margem de lucro podem ser um sinal para que a empresa dê uma guinada.

Foi o que aconteceu com a Digisystem, prestadora de serviços de suporte para equipamentos de informática, que viu seu número de clientes cair em 2006.

A chave para continuar lucrativa foi mudar o foco para projetos e gestão de serviços de tecnologia da informação.

Com a estratégia, o faturamento aumentou de R$ 7 milhões, na época, para R$ 22 milhões em 2010, segundo o sócio Claudio Torck, 46.

De acordo com especialistas consultados pela Folha, a falta de visão de mercado e a pouca flexibilidade para mudanças são duas barreiras para que a empresa tenha bom posicionamento no mercado. A falta de controles financeiros rígidos também figura entre as principais falhas dos empresários.

Essa foi a razão que levou a Zoomp, de moda jovem, a enfrentar dificuldades entre 2007 e 2008. Sem caixa, a marca deixou de participar de importantes eventos de sua área na época.

"Gastava-se muito com fornecedores, havia a ideia de que isso garantia a qualidade", explica Carlos Valmer, um dos gestores.

Em março de 2009, foi decretada a falência da companhia, revertida em setembro do mesmo ano por ser considerada improcedente.

MENOS CREDORES

A tática para se reerguer incluiu um plano de recuperação judicial, apresentado aos mais de 700 credores.

Pelo projeto, que está em curso, houve redução de custos e do quadro de funcionários (de 450 para 170).

Os credores caíram para 300, e a venda da fábrica, que deve ser finalizada nos próximos meses, ajudará a quitar boa parte das dívidas.

A grife continuará com oito lojas próprias e seis franquias, mas o foco será o atacado, por multimarcas -hoje a Zoomp está em 550 delas e quer chegar a 800 em 2011.

Novos mercados são arma de estrangeiros para driblar crise

A crise de 2008 exigiu adaptações das empresas estrangeiras. Muitas conseguiram passar pela dificuldade com ampliação, como a CakeLove, dos EUA.

Naquele ano, a doçaria precisou demitir e reduzir o menu, diz o fundador, Warren Brown. Mas não abriu mão do crescimento -acaba de abrir a sétima loja.

A alemã Pixomondo, de efeitos especiais, desembarcou no Canadá, na China, nos EUA e no Reino Unido.

Para o fundador, Thilo Kuther, focar novos mercados deu fôlego extra à empresa.

A jornalista JORDANA VIOTTO viajou a Round Rock a convite da Dell

PASSO A PASSO PARA SAIR DA CRISE

CONTROLE

Faça planejamentos financeiro, operacional e administrativo

Estabeleça processos para todas as operações

Compartilhe decisões com a diretoria

Evite otimismo com negócios, especialmente em épocas de crescimento acentuado

Tente fazer provisão para compra de equipamentos e demais investimentos

Se precisar buscar linhas de crédito, procure as especiais para micro e pequenas empresas

Na impossibilidade de obter financiamentos especiais e precisar tomar empréstimos, busque aqueles com juros de menos de 2% ao mês

SINAIS DE PROBLEMAS

Aumento do lucro não acompanha o do faturamento

Custo operacional alto

Falta de conhecimento sobre itens do balanço financeiro, como faturamento e lucro

Falta de planejamento e de controle

Disputa entre sócios

Crescimento da concorrência superior ao da empresa

Produtos perdem competitividade no mercado

Alta rotatividade de pessoal

Falta de dinheiro em caixa

PARA PAGAR DÍVIDAS

Renegocie dívidas com fornecedores e credores

Procure saber se há ativos que podem ser vendidos para liquidar dívidas

Antes de pensar em recuperação judicial, consulte um especialista para buscar alternativas

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