04 de Abril de 2011 - 13h:01

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Acomodação deve ocorrer no 2º semestre

Após expansão de 7,5% no ano passado, País deve encerrar 2011 com crescimento de 4%, segundo pesquisa do Banco Central com economistas

Por: Raquel Landim - O Estado de S.Paulo

Ainda não há sinais concretos de desaceleração, mas os especialistas acreditam que a economia brasileira vai passar por uma acomodação, principalmente a partir do segundo semestre do ano. Segundo a pesquisa Focus, realizada mensalmente pelo Banco Central (BC), o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer 4% este ano, bem abaixo dos 7,5% do ano passado.

Para os especialistas, a economia não deve sofrer uma freada, mas uma desaceleração leve. Esse movimento será provocado pela alta de juros, pelas medidas adotadas a partir de dezembro pelo BC para conter o crédito, e pela disposição do governo de cortar os gastos para conter a inflação.

"No primeiro trimestre, o PIB vai crescer a uma taxa mais acelerada, mas há sinais de acomodação gradual. A acomodação já aparece em setores mais associados ao crédito", diz Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco. "A desaceleração tende a ficar mais clara quando atingir vários setores ".

Na opinião de Flávio Serrano, economista sênior do Banco Espírito Santo (BES), o segundo semestre do ano tende a ser mais fraco, graças aos efeitos da política de corte de gastos públicos. Para os especialistas, a tendência é que as medidas de contenção do crédito também "maturem" nessa época. "Há a expectativa de que o governo adote mais medidas nessa linha", diz.

Para Júlio Callegari, economista do banco J.P. Morgan, o PIB deve ter um crescimento de 4% este ano, mas, na margem, a economia pode até acelerar um pouco, porque a maior queda ocorreu no fim de 2010. "O consumo pode ser reduzido com as medidas do governo, mas não será suficiente para afetar toda a economia", diz.

Mônica de Bolle, da Galanto Consultoria, afirma que uma desaceleração do crescimento do PIB de 7,5% em 2010 para 4% este ano "pode parecer muito grande, mas na prática as pessoas vão sentir pouco", pois, em sua avaliação, a sensação de bem-estar vai seguir forte. Ela também não acredita em um retrocesso no mercado de trabalho.

Indústria. A indústria está contribuindo para manter a aceleração da economia no primeiro trimestre, apesar das medidas adotadas pelo Banco Central para conter a inflação.

Depois de patinar em 2010, o setor industrial voltou a se recuperar nos três primeiros meses do ano. A produção industrial cresceu 1,9% em fevereiro, a maior expansão desde março de 2010, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "Um pedaço da aceleração vem da própria indústria", diz Callegari.

O economista do J.P. Morgan enumera alguns fatores que favoreceram a indústria recentemente: o ajuste dos estoques excessivos, que abriu espaço para mais produção; a maturação dos investimentos realizados, que permitiu elevar a capacidade; e a recuperação da economia global que deu fôlego para as exportações.

No setor de aço, por exemplo, o consumo recuou 9,3% no primeiro trimestre, mas a indústria nacional vendeu 20% a mais que no mesmo período de 2010, porque ocupou espaço dos importados.

As vendas do produto por dia útil atingiram o recorde de 18,9 mil toneladas em fevereiro, superando os 18,6 mil de junho do ano passado. "Houve uma antecipação das compras por causa dos aumentos de preço do aço em março", pondera Carlos Loureiro, presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda).

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