14 de Abril de 2011 - 15h:52

Tamanho do texto A - A+

Frigorífico deve R$ 360 milhões e tenta negociar com credores

Por: Olhar Direto

O Frigorífico Mataboi assumiu publicamente nesta quarta-feira (13), durante reunião com credores, promovida pelo Sindicato dos Produtores Rurais de Rondonópolis, a dívida de 360 milhões de reais, sendo 20 milhões aos credores da planta de Rondonópolis, que paralisou o abate no município com pedido de recuperação judicial, impetrado no final do último mês. Representando o frigorífico, o consultor Andrei Cota, da Elimar Consultoria e Desenvolvimento Empresarial, especialista em gerenciamento de crise, apresentou os passos do processo jurídico que envolve a recuperação judicial.

Amparado pela lei, o Mataboi em 30 dias fará a comunicação dos créditos a cada um dos credores por meio de correspondência. Se o valor estiver errado, caberá ao credor contestar, caso contrário, será mantida a quantia apresentada pelo frigorífico. Em 60 dias, será oficializada uma proposta de pagamento, que será discutida em Assembléia Geral dos Credores, a ser realizada em Araguari (MG), cidade que abriga a matriz do frigorífico e, que deverá acontecer 150 dias a contar do pedido de recuperação judicial.
Com base em casos semelhantes, Andrei esboçou uma possibilidade de proposta.

Em tese, se houver consenso dos credores na montagem da massa credora, a ser votada na Assembléia, os credores de até R$ 10 mil, possivelmente receberão em até 30 dias. Até 25 mil o pagamento será em seis parcelas; até 100 mil em 12 parcelas e, quem tiver créditos acima de 100 mil, a dívida será parcelada em 36 meses.

O fatiamento da dívida gerou grande descontentamento entre os presentes, que contestaram a idoneidade da empresa, já que mesmo passando por dificuldades financeiras, como informado pelo consultor, tem como objetivo, dentro do processo de recuperação, manter o abate na suas plantas para ajudar na liquidação das dívidas.

"Eu garanto aos senhores que o dinheiro do frigorífico não foi desviado pelos sócios para a compra de lanchas, de casas de praia e outras coisas. O que arrasou as contas do Mataboi e de dezenas de pequenos e médios frigoríficos brasileiros foram os juros e a dificuldade em obter financiamentos. Um dos sócios do grupo, que tem o pai como um dos fundadores, é o maior credor do Mataboi hoje. Ele é pecuarista assim como os senhores. Temos uma estratégia de retomada e precisamos da compreensão dos senhores, porque a falência é muito pior que a recuperação judicial", ponderou o representante do frigorífico.

Segundo Andrei, mesmo com garantia patrimonial, o frigorífico não conseguiu recursos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento – BNDES e a carga tributária imposta ao setor, aliada a concorrência desleal, levaram à paralisação do abate em duas plantas e o corte em mais 70% do abate nas duas plantas restantes do Mataboi no país.

Indignado com a situação, o pequeno produtor do Assentamento Primavera, Celso Ola, com crédito de R$ 21 mil junto ao frigorífico desabafou: "Vocês tiraram a roupa dos meus filhos, a botina dos pés deles e o chapéu que protegia a minha cabeça do sol. Só não tiraram a nossa comida porque eu planto, caso contrário, teriam arruinado minha vida".

Credor de 300 mil reais, o pecuarista Célio Corrêa, que reside em Araçatuba, completou a fala de Celso. "Ouvir relatos assim embargam a voz de qualquer um. Eu também tenho muito a receber e sei que o único caminho é a recuperação judicial. Não defendo aqui o Mataboi, mas sei que o frigorífico, assim como os dezesseis frigoríficos que já fecharam as plantas no Estado, são vítimas de um cartel, de bandidos que usam o dinheiro público e fazem concorrência desleal para continuarem dominando o mercado e trabalhando conforme eles querem. Precisamos nos unir, fazer uma mesa de negociação junto ao Sindicato Rural e mostrar a força que temos na Assembléia Geral em Araguari. Além do dinheiro, temos que tirar uma lição de tudo isso", pontuou.

Enquanto o Mataboi não envia os valores dos créditos aos pecuaristas, o Sindicato Rural de Rondonópolis dará seqüência a conferência de créditos dos produtores junto à matriz do frigorífico e a montagem do processo coletivo.

"A lição dessa reunião é de que unidos os credores terão mais força. O Sindicato está aí para apoiar a todos e prestar esclarecimentos jurídicos sobre o caso. Apenas com a maioria ou a totalidade dos credores vamos conseguir um bom resultado", defendeu o presidente do Sindicato Rural de Rondonópolis, Miguel Weber, que mediou a reunião nesta quarta.

Os credores que tiverem interesse em ingressar nessa ação coletiva devem entrar em contato com o Sindicato Rural pelo número (66) 3423-2990 ou se dirigir à sede da entidade, situada na Rua Otávio Pitaluga, altos da Vila Aurora. Para o atendimento dos interessados, o Sindicato disponibilizou uma equipe de assessores jurídicos de segunda a sexta-feira, em horário comercial. As informações são da assessoria do Sindicato Rural de Rondonópolis.

VOLTAR IMPRIMIR