02 de Maio de 2011 - 12h:47

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Grupo Independência reverte a crise e poderá retomar atividade em 90 dias

Por: A Crítica de Campo Grande

O Grupo independência, que já figurou no mercado como o 2º maior frigorífico exportador brasileiro, começa a reverter o quadro de crise aguda que vinha enfrentando desde 2008 e poderá retomar suas atividades empresariais a partir do segundo semestre deste ano.

A informação começou a ser veiculada entre consultores e empresários do setor após o termino da Assembléia Geral de Credores, realizada no último dia 3 de março, na qual foi aprovado novo plano de recuperação judicial da empresa, com a alienação das unidades produtivas do Independência por meio de processo competitivo.

Isso significa, em outras palavras, que o Grupo entrou na fase definitiva de superação da crise que vem enfrentando desde 2009 e poderá ser ofertada aos interessados em adquirir a empresa e colocá-la novamente em pleno funcionamento.

Depois da publicação da homologação do acordo da Assembléia Geral de Credores do Independência, no último dia 19 de abril, pelo juizado da 1ª Vara de Cajamar (SP), município que fica a 40 km de São Paulo e abriga o centro administrativo da empresa, abriu-se as condições legais para que dentro de 90 dias o Grupo fique apto a receber propostas de aquisição e, assim, voltar a atuar no mercado da carne.

Essa reviravolta no processo de recuperação do Independência vem sendo acompanhada pelos principais agentes econômicos do Brasil e do mercado de commodities de vários países.

De acordo com levantamentos realizados junto a entidades de classe do setor produtivo o Grupo saiu da crise devendo para 1442 pecuaristas e 2340 fornecedores. Até o momento, 1025 produtores (71%) receberam suas dívidas e 2340 fornecedores (89%) tiveram seus débitos liquidados pela empresa.

De acordo com o ex-presidente da Famasul e representante da entidade na Assembléia dos Devedores, em Mato Grosso do Sul, Leo Brito, em entrevista a um site da Capital, 75% dos produtores sul-mato-grossenses receberam suas dívidas .

Agora, as negociações se voltam para os principais credores do Grupo, que pertencem ao setor financeiro (bancos nacionais e internacionais), representando a maior parte das dívidas, cujo pagamento deverá ser equacionado na próxima Assembléia Geral de Credores, cuja data de realização deve acontecer até o final de julho.

Nesta reunião, serão convocados os credores finais do Independência para fechar o processo de recuperação judicial da empresa. O administrador nomeado pelo judiciário para presidir a Assembléia Geral é o advogado paulista Fernando Chad. Nesta ocasião, haverá oportunidade para se apresentar propostas de aquisição da empresa, as quais serão submetidas à apreciação e votação dos credores, conforme determina a Lei de Recuperação e Falências.

Com isso o Grupo Independência se recoloca no mercado, ativando seus frigoríficos e curtumes, saldando as dívidas ao longo do tempo, de maneira escalonada e progressiva.

De acordo com consultores especializados no setor de o Independência encontra-se em condições de operacionalidade, podendo recuperar-se plenamente nos próximos anos.

Frigorífico foi vítima da crise econômica mundial de 2008

Quando o Grupo Independência “quebrou” em 2009, criando uma onda de crise no setor pecuário brasileiro, que atingiu vários setores da economia, notadamente pecuaristas e empresas fornecedoras, levantou-se inúmeros questionamentos sobre as razões que deram origem ao processo semi-falimentar da empresa.

Várias empresas do setor, tais como Margen, Quatro Marcos, Arantes, já estavam em processo de recuperação judicial. Os efeitos desta crise provocaram a “quebra” de mais de 12 grandes frigoríficos, sendo o Mataboi (MG) o último afetado no início deste ano.

Outras empresas, tão tradicionais quanto o Independência, como Sadia e Bertin, também sofreram com a crise e foram incorporadas por outros Grupos. Ou seja: a crise mundial ocorrida há dois anos balançou o mercado de maneira inédita na história e até hoje mantém algumas feridas abertas no mercado.

Assim, passada a fase aguda das dificuldades do Grupo Independência, analistas e economistas do setor produtivo tem se debruçado sobre as várias conseqüências da crise financeira internacional de 2008, enfocando a necessidade de retomada dos investimentos, com o pressuposto de que é péssimo fechar empresas; o melhor negócio é recuperá-las.

Muitos consultores afirmam que se o Grupo Independência tivesse na sua estrutura corporativa um banco dificilmente enfrentaria uma crise nas proporções que enfrentou.

O setor financeiro, com apoio dos governos FHC e Lula, criou uma rede de proteção que impedia a quebra bancária, o mesmo não ocorrendo com o setor empresarial. O caso recente mais emblemático é o Banco Panamericano do empresário Sílvio Santos.

O questionamento que até hoje se faz é como uma empresa que desde 1977 vinha atuando no mercado de carnes com grande sucesso e, ao longo de 30 anos, cresceu vertiginosamente, chegando a ser o 2º maior frigorífico brasileiro, e um dos mais importantes exportadores mundiais, desmoronou na esteira da crise financeira de 2008, crise, aliás, que os maiores especialistas e estudiosos do planeta não previram?

Os números do Grupo Independência sempre foram robustos:, 11,8 mil abates diários, 12,6 mil cabeças desossadas por dia, processamento de 10 mil peles , unidades frigoríficas em 6 Estados e 1 no Paraguai, mais de 11 mil funcionários ( 4 mil só em MS), enfim, um negócio de vulto com forte impacto social e econômico.

A imprevisibilidade da crise internacional de 2008 causou a quebra de grandes bancos e empresas por causa dos subprimes e derivativos americanos e gerou efeitos cascatas em todo mundo, atingindo inúmeros setores e atividades econômicas.

O Independência terminou, assim, sendo mais uma vítima dos efeitos colaterais da crise, o que levou ao fechamento de suas unidades frigoríficas, além da demissão de milhares de empregados, num processo prejudicial para a economia de Mato Grosso do Sul e do País.

No balanço geral desse processo, vários analistas apontam os caminhos que levaram o Grupo Independência à derrocada, atualmente em recuperação judicial. O primeiro fator foi que a crise impactou fortemente a desvalorização do real em relação ao dólar, elevando as dívidas da empresa para 1,3 bilhões em junho de 2008 para R$ 3 bilhões em fevereiro de 2009. Pelo mesmo motivo, o Grupo perdeu R$ 270 milhões com derivativos contratados para hedge das exportações. a combinação desses fatores com o impacto da crise no setor bancário, que retirou rapidamente as linhas de crédito da empresa levou a uma rápida piora de sua situação econômico-financeira.

Outro ponto crucial, foi uma brusca inversão no ritmo das exportações de carne (fonte de mais de 50% das receitas do Independência). Nos doze meses que correram entre 2008 e 2009 houve uma baixa da ordem de 54% nos negócios de carne importada, o que impactou negativamente nas contas da empresa.

Para piorar o quadro, houve uma significava depreciação da moeda brasileira em relação ao dólar, criando uma situação altamente desfavorável, provocando uma combinação perversa de queda nas vendas internas, retração do mercado externo e suspensão de créditos e descontos de títulos (notes).

Assim, devido às complexidades conjunturais, o Grupo se viu abruptamente sem capital de giro para fazer frente aos compromissos assumidos no mercado. Com isso, somando os fatores como desvalorização cambial, quebra dos derivativos, elevado nível de inadimplência de clientes externos e interno e – mais importante - sem alternativas de captação no mercado financeiro brasileiro, o Independência se viu obrigado a suspender o pagamento de empréstimos e financiamentos e, paulatinamente, desativar seus sistems de abates, dispensando seus milhares de funcionários.

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