10 de Maio de 2011 - 10h:26

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Para segurar os preços, governo facilita importações

Por: Eliane Oliveira - O Globo

Às voltas com o risco de a meta de inflação (4,5%, com margem de dois pontos para cima e para baixo) estourar o teto em 2011 e não convergir ao centro em 2012, o governo já recorre às importações para evitar altas ainda mais elevadas de preços em geral, mesmo reconhecendo que sua escolha pode impor sacrifícios ao crescimento da economia e à obtenção de superávits na balança comercial. O exemplo mais recente é o do algodão, produto que teve a alíquota zero prorrogada por 30 dias na semana passada, para evitar reajustes no mercado interno de tecidos e vestuário, provocadas pela escassez do produto.

Outros itens a terem importações facilitadas são porcas e parafusos usados pela Zona Franca de Manaus (AM). O governo vai acabar com a licença prévia para os produtos entrarem no país, o que implicará redução de custos. O aço também pode ter a tarifa reduzida, caso os preços pressionem as indústrias que dependem do insumo para produzir. No entanto, essa perspectiva ainda se constitui em mera ameaça, tendo em vista que, mesmo tributados entre 12% e 14%, os produtos siderúrgicos entram facilmente no Brasil, devido à valorização do real frente ao dólar.

- As indústrias nacionais pedem proteção, mas, para que se cumpra a meta de inflação, não é possível deixar o câmbio de lado - disse uma fonte.

Embora o Ministério da Fazenda use a queda dos preços das commodities como indicação de que a inflação vai cair, especialistas afirmam que o Brasil, grande fornecedor de soja, minério de ferro e petróleo, não tem qualquer controle sobre as cotações desses itens, fundamentais para a balança comercial brasileira.

- O movimento de queda de preços de commodities foi muito forte na semana passada, mas é pouco provável que essa tendência se materialize, pois a economia mundial e a demanda dos emergentes continuam em crescimento - disse o economista José Júlio Senna, da MCM.

Pressão agora é maior dos produtos industrializados

O consultor Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, também acredita que, dificilmente, a tendência de queda das cotações das commodities deve se confirmar. Assim, considera possível que o governo dê preferência a incentivos às importações, ou deixe o câmbio como está.

- O que estamos sentindo agora é uma inflação de demanda, que também decorre de 30 milhões de novos consumidores no mercado brasileiro, além de chineses e indianos - afirmou Barral.

O economista Fábio Silveira, da RC Consultores, avalia que, se depender das commodities, a inflação vai ceder no segundo trimestre deste ano. Mas a situação não é tão simples, observa.

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