Não queremos, com isso, afirmar que outro mundo não seja possível, ou desencorajar mudanças. Muito pelo contrário. Inúmeras pesquisas mostram que é viável atuar de forma ambientalmente responsável sem deixar de ser competitivo.
Claro que ninguém está falando, definitivamente, em sacrificar o faturamento dos negócios em nome de uma causa nobre. Longe disso. Assumir, verdadeiramente, uma postura mais "verde" na realidade é estar de acordo com um discurso que ganha força na atualidade e uma ideologia que conquista mais adeptos a cada dia.
E qualquer um com o mínimo de conhecimento sobre mercado sabe que estar alinhado com os anseios do cliente, ainda que latentes, é uma das principais regras para se dar bem nesse jogo. Trocadilhos à parte, há muitas notas verdes mundo afora, ansiosas para serem gastas com organizações atentas a tais demandas.
Prova disso são os números revelados por uma pesquisa do Instituto Akatu sobre a percepção dos consumidores brasileiros com relação à responsabilidade social nas empresas. Segundo o levantamento, que ouviu moradores de 12 regiões metropolitanas do País, nos últimos quatro anos o número de pessoas que adotaram hábitos consistentes de consumo consciente aumentou em 5%. Embora em termos percentuais o número possa parecer pequeno, na prática são cerca de 500 mil brasileiros que passaram a valorizar empresas com práticas sustentáveis.
Outro ponto da pesquisa que merece destaque é a percepção de que consumidores que desenvolvem um grau mais elevado de consciência em seu consumo tendem a preservar esse comportamento. Ou seja, ao contrário do que muitos dizem, o consumo consciente não é uma moda passageira. Essa postura mais atenta por parte da população veio para ficar e tende a se expandir.
Esse fenômeno não é privilégio do Brasil. Um outro levantamento realizado pela consultoria Kantar Worldpanel nas 16 maiores cidades da América Latina mostrou que 76% dos consumidores estariam dispostos a pagar mais caro por produtos ambientalmente responsáveis.
O desenvolvimento de novas tecnologias com o objetivo de tornar os processos mais sustentáveis, as chamadas greenovations, são exemplo claro e atual de que ganhos financeiros e ambientais não precisam ficar eternamente em lados opostos do balcão.
É cada vez mais comum encontrar companhias que se dedicam a elaborar novas formas de trabalhar a fim de melhorar seu desempenho sustentável e, de quebra, aumentar os lucros. Maneiras inovadoras de obtenção de energia alternativa, reutilização de resíduos, redução do desperdício de combustíveis, melhoria dos processos agrícolas e de produção de alimentos, utilização de materiais mais eficientes na construção civil e criação de sistemas de conservação de energia melhores são só algumas das ações desenvolvidas hoje por corporações ao redor do mundo com o objetivo de reduzir indicadores como a pegada carbônica, por exemplo.
Mais do que trabalhar de forma ambientalmente responsável, a existência de projetos como esses prova que é possível alinhar-se ideologicamente a uma sociedade que reconhece a necessidade de "esverdear" a economia, sem colocar em risco a saúde financeira das instituições.
O aparecimento dessa terceira via representa uma mudança importante nos paradigmas que norteiam os negócios na atualidade. Trabalhar de forma sustentável tem deixado de ser uma exigência de ambientalistas e se mostrado um bom negócio.
Estamos todos ligados. As diretrizes que norteiam o modo de produzir são um reflexo da sociedade sobre a qual elas se apoiam. A sociedade é um reflexo das pessoas que a compõem. As pessoas estão mudando. Diante disso, quanto antes as corporações reconhecerem esse novo cenário que se configura, maior margem de manobra terão para assumir um papel privilegiado na disputa por fatias mais generosas do mercado. O bonde da história já está passando. Não perca a oportunidade de participar desse futuro.