04 de Maio de 2007 - 14h:59

Tamanho do texto A - A+

Banco lucra em ritmo menor até março

Por: DCI

Com a queda de juros e a diminuição da rentabilidade das operações de crédito, os bancos apresentarão um ritmo de crescimento de seus lucros menor que no ano passado. De acordo com relatório divulgado pela corretora do banco ABN Amro Real, a comparação do primeiro trimestre deste ano com o ano passado vai apresentar índices de avanço menores que os registrados em 2006 na comparação com 2005. Bradesco, Itaú, e Unibanco devem apresentar um lucro total de R$ 4,211 bilhões entre janeiro e março deste ano, contra R$ 3,550 bilhões no mesmo período do ano passado, um aumento de 18,6%. Já na comparação entre 2006 e 2005, quando o lucro das três instituições foi de R$ 2,701 bilhões, o crescimento foi de 31,4%.
 
Bradesco e Itaú tinham crescido, em 2006,
 cerca de 25% em relação ao primeiro trimestre. Caso os resultados deste ano se confirmem, o incremento dos lucros serão de cerca de 18,5%. As projeções são de que o Bradesco apresente resultado de R$ 1,794 bilhão, e o Itaú de R$ 1,766 bilhão. O Unibanco, depois de apresentar crescimento de quase 30% nos três primeiros meses do ano passado, deve apresentar um avanço de 25% este ano, com lucro de R$ 651 milhões. A Nossa Caixa deve registrar um lucro de R$ 230 milhões, contra R$ 174 milhões do ano passado, um índice de crescimento de 32%. No ano passado, o banco estatal paulista praticamente dobrou o seu lucro em relação a 2005.
 
O Banco do Brasil é o único dos bancos que negociam ação na Bolsa de Valores de São Paulo que apresenta resultado muito melhor que no ano passado. Entre janeiro e março de 2006, o lucro total do banco foi de R$ 2,3 bilhões. Este resultado foi inflado pela receita adicional de R$ 1,9 bilhão em crédito tributário. Sem isso, o lucro foi de R$ 938 milhões. Neste ano, a projeção feita pelo Real é de R$ 1,460 bilhão, um avanço real de 55% no lucro.

Carteira de ações

Por conta disso, enquanto as ações do Banco do Brasil estão sendo recomendadas por algumas corretoras, as do Itaú, Bradesco e Unibanco nem sempre recebem a mesma classificação. O Unibanco colocou os papéis do BB como Top Pick no mês de maio. “O banco divulgará seus resultados do 1º trimestre em 15 de maio e pode surpreender positivamente o mercado. Esperamos provisionamento mais baixo, crescimento ainda forte da carteira de crédito, embalado pelo crédito consignado, e forte expansão nas receitas de serviço. O consenso do mercado ainda não reflete estes fatores positivos, o que pode levar à alta da ação após a divulgação do resultado”, afirma o Unibanco em seu relatório de mercado.

Em compensação, no mesmo relatório, o Unibanco anuncia uma diminuição no nível de alocação em papéis do setor — inclusive os do seu banco — , passando do nível “Neutro” para “Underweight”, por conta das perspectivas de resultados ruins no primeiro trimestre. Em outro relatório, o Unibanco justifica sua postura com o crescimento do crédito mais fraco que no restante do ano e também uma expansão dos gastos com funcionários.

Já o relatório do Real apresenta um tom mais otimista. Fatores como maior participação do crédito nos ativos e ganhos consistentes com tarifas são alguns dos fatores que farão com que o setor continue tendo bons resultados no longo prazo. Na classificação da corretora do ABN Amro Real, os papéis de Itaú, Bradesco e Banco do Brasil são recomendados como Alta Performance, e Unibanco e Nossa Caixa como Performance de Mercado.

Para Roberto Knoepfelmacher, analista da GAS Investimentos, que atua como gestora de fundos, os bancos podem até ter resultados piores neste primeiro trimestre, mas continuarão sendo rentáveis no longo prazo. “O setor bancário brasileiro tem um dos maiores índices de rentabilidade sobre patrimônio líquido do mundo, e no longo prazo, ele deve apresentar uma queda. Mas isso será compensado pelo aumento no volume de crédito”.

O analista acredita que os bancos têm condições, no longo prazo, de manter um nível razoável de crescimento nos lucros. “Há condições para que o setor registre aumento médio de 10% a 15% ao ano”, afirma Knoepfelmacher. “Acredito que, pela situação que os bancos atingiram, não devem crescer menos de 10% ao ano”.

Para Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), é natural que o índice percentual de crescimento dos lucros diminua, com o aumento da base de comparação. “Mas eles continuarão com ganhos consistentes, principalmente por conta do aumento na base de crédito”.

Para o economista, apesar do bom desempenho esperado para o Banco do Brasil, o aumento da competição pode atingir negativamente os bancos públicos. “Na verdade, se eles não tivessem mudado de postura, se não tivessem promovido um nível de profissionalização, já estariam com sérios problemas para continuar no mercado”, afirma Oliveira.

Ele lembra que Banco do Brasil e Nossa Caixa tinham uma situação confortável até alguns anos atrás. “Eles atuavam muito forte na tesouraria, o que garantia resultados sem muita competição. A Nossa Caixa já teve 67% dos seus ativos aplicados em títulos. Hoje a situação está muito diferente, e eles precisam se atualizar”.

Oliveira acredita ainda que o setor ainda vai sofrer algumas mudanças. “Caso aconteça a venda do ABN Amro Real para alguma grande instituição que atua no Brasil, nós teremos aumento na concentração, o que é negativo para o tomador de crédito, mas positivo para os envolvidos no negócio”, afirma o economista.
VOLTAR IMPRIMIR