23 de Maio de 2007 - 12h:57

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Empresas discutem mudanças nas demonstrações contábeis

A CVM realizará uma audiência pública para discutir a adequação das normas contábeis usados na divulgação dos resultados das empresas brasileiras ao conjunto de normas internacionais.

Por: DCI

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) realizará uma audiência pública para discutir a adequação das normas contábeis usados na divulgação dos resultados das empresas brasileiras às normas da International Accounting Standard Board (IASB), conjunto de normas internacionais. Atualmente, apenas 33 empresas brasileiras, que vendem ações na Bolsa de Valores de Nova York , já fazem balanços de acordo com as normas norte-americanas, o USGaap, que são muito parecidas com as regras internacionais. As empresas que fazem parte do Novo Mercado e do Nível 2 de Governança Corporativa da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) também já apresentam seus resultados nos padrões estabelecidos pelo IASB.

Entre os resultados dos anos de 2007 até 2009, as empresas terão a opção de apresentar seus balanços baseados neste conjunto de normas. A partir de 2010, a CVM vai exigir das empresas de capital aberto que suas demonstrações financeiras sigam os padrões internacionais.

De acordo com especialistas, o principal benefício destas mudanças é o menor custo de captação no mercado externo. “Com o balanço seguindo as normas internacionais, as empresas brasileiras conseguem diminuir a percepção de risco por parte dos banqueiros estrangeiros, pois conseguem entender melhor os números. Com isso, os juros das operações de captação no exterior caem”, afirma Ana Maria Elorrieta , diretora técnica do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon).

Para a professora Edilene Santana Santos , da Fundação Getulio Vargas (FGV), até mesmo o preço das ações das empresas brasileiras vendidas no exterior será afetado por estas mudanças. “Atualmente, os investidores internacionais acabam exigindo um deságio para comprar ações de uma companhia que não publica seus resultados de acordo com IASB. Esta será uma mudança significativa para as empresas brasileiras”, afirma a professora.

Em comunicado, a CVM justifica a realização desta audiência para discutir as demonstrações financeiras consolidadas das empresas. “A adoção dessa norma contribui para que as empresas e o mercado de capitais brasileiro estejam adequadamente inseridos nos mercados externos. Para isso, faz-se necessário que o órgão regulador promova, dentro de sua competência, a convergência do padrão contábil brasileiro com o internacional”.

O principal problema que as empresas devem enfrentar é a falta de profissionais com conhecimento das normas internacionais. “Algumas empresas vão ter que começar todo este processo do zero. Para conseguir chegar ao final dele, as companhias vão precisar de contadores especializados, que tenham um bom conhecimento das normas internacionais”, afirma Elorrieta.

Já a professora Edilene chama a atenção para os custos adicionais que estas empresas terão. “Por precisarem de profissionais com maior nível de capacitação, é claro que haverá um gasto maior de recursos. São poucos os profissionais brasileiros que conhecem a fundo as normas internacionais. É uma falha inclusive das universidades, que acabam não enfatizando o assunto da maneira como deveriam”.

Normas americanas

Outro benefício que as companhias brasileiras terão com a convergência normativa é a maior facilidade para entrar no mercado de capitais norte-americano. “As normas do USGaap são muito parecidas com as da IASB. Portanto, as empresas brasileiras que quiserem entrar no mercado dos Estados Unidos seriam melhor recebidas pelos investidores. Além disso, evitaria o custo de fazer dois balanços por resultado”, dia a professora Edilene.

A Securities and Exchange Commission (SEC), o equivalente à CVM, nos Estados Unidos, pretende permitir que as companhias norte-americanas e estrangeiras instaladas no país possam utilizar as normas contábeis internacionais para fazer seus balanços. Com isso, ficaria mais fácil a adoção, na prática, de um conjunto de normas global, aproximando o US GAAP do International Financial Reporting Standards (IFRS). O mercado ficou surpreso com a intenção, pois a iniciativa provocaria mudanças nas práticas adotadas há décadas pelas empresas que estão no país.

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