18 de Junho de 2009 - 11h:37

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Grupo mato-grossense abre negociação com os credores

Segundo empresário, a crise nos negócios teve origem ainda na safra 04/05, e se alastrou

Por: Diário de Cuiabá - Marcondes Maciel

Com cerca de 60 mil hectares de arroz, soja e milho plantados na safra 2008/09, o Grupo Guimarães – que acaba de ter seu pedido de recuperação deferido pela Justiça de Lucas do Rio Verde, no médio norte estadual, – abriu ontem negociações com cinco bancos e a fabricante de máquinas e tratores Massey Ferguson. O grupo, com investimentos no comércio de revenda de tratores e na produção de grãos, tem 900 credores e um passivo de R$ 290 milhões. No total, cinco empresas - as algodoeiras Rio Verde e Nova Prata, a Fazenda Boa Esperança e as revendas de máquinas e implementos agrícolas Guimasa e Guimaq – e mais nove produtores ligados ao grupo ganharam prazo de 60 para apresentar um plano de pagamentos aos credores e 180 dias para finalizar o processo de recuperação judicial, com a amortização de todos débitos em até 20 anos.

Ontem pela manhã, o controlador do conglomerado, Orcival Guimarães, esteve reunido com representantes de instituições de crédito na sede da ERS Consultoria, em Cuiabá. “Nossos credores, inicialmente, apoiaram nossa decisão de pedir recuperação e acreditamos que em breve todas as dívidas serão sanadas”, disse, preferindo não revelar os nomes. A maior parte das dívidas está concentrada nos bancos Daycoval, Santander, Indusval, De Lage Lander, Rabobank e Banco do Brasil.

Guimarães negociou também com a concessionária de máquinas agrícolas Massey Ferguson, que continuará atendendo o mercado, inclusive no tocante a garantias e assistência técnica.

Os débitos de R$ 23 milhões com a Massey Ferguson já estariam equacionados, segundo Guimarães. “A empresa fez um acordo com a fábrica, que garantiu apoio ao plano de recuperação e a continuidade da parceria com o grupo”, informou o advogado Euclides Ribeiro Júnior. A garantia teria sido dada pela gerente da MF, Dayse Razente. “A Massey Ferguson, inclusive, já colocou à disposição o site da ERS convidando todos os credores a entrarem em contato com a nossa consultoria e iniciarem as negociações”, acrescentou o advogado.

Foram incluídos no processo de recuperação judicial seis revendas de máquinas da Massey Ferguson em Rondonópolis, Primavera do Leste, Paranatinga, Lucas do Rio Verde, Sorriso e Rio Verde, três fazendas com 28 mil hectares, uma algodoeira e um confinamento de gado com capacidade para 73 mil bois.

Há ainda um passivo de R$ 20 milhões com a fabricante de equipamentos Jacto, além de dívidas com indústrias de defensivos agrícolas e a trading Noble. “Amanhã vamos nos reunir com representantes da Jacto para negociar. Quero deixar claro que todas as dívidas que assumimos com nossos fornecedores serão honradas”, assegurou o empresário.

Ele reconhece que a recuperação judicial não é uma boa para o mercado. “Mas, não tomo esta atitude por maldade. É por necessidade mesmo, pois quero preservar o meu nome e da minha família. Quero continuar sendo o mesmo Orcival e sair dessa o mais rápido possível”.

HISTÓRIA - O grupo controlado por Orcival Guimarães iniciou suas atividades em 1981, em Rondonópolis (210 quilômetros ao sul de Cuiabá), sua primeira revenda de máquinas agrícolas. Abriu sua primeira filial em Primavera do Leste no ano de 1989, outra filial em 1992 em Sorriso, e logo após, em 1993, em Lucas do Rio Verde. Em 1995, decidiu abrir a Guimasa Máquinas Agrícolas, voltada apenas para máquinas usadas. A empresa aproveitou o momento e passou a atuar também na produção de soja, milho e algodão.

Em 1999, o grupo inaugurou em Lucas do Rio Verde a Algodoeira Rio Verde e, em 2002, em Sorriso, a Algodoreira Nova Prata Ltda, a fim de beneficiar o algodão retirado da sua própria produção.

Em 2004 em razão da volatilidade do câmbio e das commodities, o grupo começou a entrar em crise. No mesmo ano a empresa plantou com dólar a R$ 3,80 e colheu em 2005 a R$ 3,20. O mesmo aconteceu em 2006 e em 2007, quando o plantio foi feito com dólar a R$ 2,20 e venda a R$ 1,60.

Em 2005, inadimplência de seus clientes aumentou ainda mais, fazendo com que suas empresas e os produtores rurais do grupo recorressem aos bancos e às factorings, “pagando juros exorbitantes”. Em 2008 e 2009, com a crise financeira mundial, que afetou principalmente o setor agrícola, o Grupo Guimarães viu as vendas no setor maquinário caírem brutalmente. Além disso, a dificuldade na obtenção de crédito, bem como o alto custo da produção, dificultaram ainda mais as atividades do grupo, levando o conglomerado a pedir recuperação judicial.

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