Com um movimento agressivo ao longo do primeiro semestre deste ano, o Agrogalaxy triplicou o valor do patrimônio líquido do seu Fundo de Investimentos nas Cadeias Produtivas do Agronegócio focado em direitos creditórios do setor (Fiagro-FIDC). O montante saiu de R$ 335 milhões em janeiro para mais R$ 1 bilhão em julho.
Após o pedido de recuperação judicial (RJ) da companhia apresentado ontem, que abalou os mercados de finanças privadas e do agronegócio ontem, ainda é incerto o impacto no Fiagro Agrogalaxy Fornecedores. O aporte mais recente, de R$ 400 milhões em maio, não teve o investidor revelado. Anteriormente, os R$ 650 milhões eram investimentos de family offices e bancos, principalmente. A companhia detém participação minoritária no fundo.
Embora, tecnicamente, o dinheiro não seja emprestado à Agrogalaxy mas aos agricultores, como forma de antecipar recebíveis na compra de insumos, a companhia tem responsabilidades sobre as operações. Essa é uma forma de dar mais garantias e atratividade ao fundo. Na captação de R$ 400 milhões, em maio, por exemplo, o investidor exigiu que a rede de revendas assumisse obrigações relativas às cotas.
Não estão claras quais são essas obrigações, nem o alcance delas, mas o risco do dinheiro dos investidores está atrelado ao Agrogalaxy. O fundo foi estruturado pela agfintech TerraMagna. Por isso, o Fiagro Agrogalaxy Fornecedores pode sofrer com os últimos movimentos da companhia. O pedido de RJ nubla ainda mais o cenário para os investidores.
Um executivo experiente no mercado de capitais disse que o futuro do fundo depende das bases em que ele foi constituído. “Se estiver bem formalizado, com a compra de recebíveis performados, não terá problemas”, disse. Consultada, a TerraMagna não respondeu.
O momento de dificuldade financeira, que culminou com o pedido de recuperação judicial, deve reduzir significativamente as vendas da companhia na ponta. Com isso, o montante de R$ 1 bilhão do Fiagro-FIDC talvez não seja necessário.
Uma das reações prováveis dos investidores é buscar liquidação antecipada. Assim que receberem dos produtores, não emprestam mais por meio da Agrogalaxy porque tem risco de perda da eficiência operacional da companhia. “É uma relação de dependência, e uma RJ assusta”, disse José Artur Sanches, consultor da Markestrat.
Segundo ele, o susto não deve levar à retirada imediata de dinheiro dos investidores, mas pode haver uma busca maior por diversificação do risco. “Sair um pouco do mercado” do agronegócio e “buscar lugares mais seguros” podem ser opções nesse momento.
Tudo sobre o Agrogalaxy
Por outro lado, pondera o consultor, se o Agrogalaxy quiser continuar em operação, vai precisar de dinheiro. Com crédito restrito em bancos, a captação via mercado de capitais pode ser a saída. Mas a empresa não poderia ser emissora de novos fundos, por conta de impedimento da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Como esse é um episódio inédito, de uma grande empresa detentora de fundo que pede RJ, há dúvidas de como serão os próximos passos do ente regulatório.
“O maior impacto da RJ é que muito investidores estão em dúvida se conseguirão resgatar seus investimentos e em quais proporções isso irá acontecer. Com isso, eles tendem a tirar um pouco o pé de novos investimentos até a situação se resolver”, explicou Sanches.
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