26 de Dezembro de 2008 - 19h:10

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Os riscos da aplicação em fundos de previdência privada

Por: Valor Econômico - Liao Yu Chieh

Fim de ano é tempo de receber o 13º e repetir as promessas sobre poupar mais. Mas também é época de os bancos inundarem seus clientes de informações sobre as necessidades e vantagens da previdência privada visando captar recursos em PGBL e VGBL. No artigo publicado em agosto de 2008 nesta mesma seção, detalhei algumas vantagens tributárias e sucessórias destes produtos, que se popularizam a cada dia. Entretanto, poucas reportagens pontuam os riscos que o investidor corre ao aplicar nos planos de previdência. Vamos analisar alguns deles:

- Risco de mercado: similar aos demais produtos de investimento, relaciona-se a potenciais perdas decorrentes de oscilações em variáveis econômicas e financeiras, como taxas de juros, câmbio e preços de ações. Na atual conjuntura, temos sentido na pele as conseqüências do mau gerenciamento deste fator de risco. Em planos de previdência, o balanceamento entre renda fixa e variável deve ser adequado ao perfil do aplicador e ao prazo de investimento para evitar surpresas e volatilidade inesperada. 

- Risco de liquidez: em resumo, um investimento é considerado de alta liquidez quando é fácil convertê-lo em dinheiro vivo pelo seu valor justo a qualquer momento. Quem aplica em previdência privada precisa ter consciência que o investimento é de longo prazo e baixa liquidez. As circulares Susep 338 e 339 determinam que, na fase de acumulação, a carência mínima entre resgates seja de 60 dias. Em outras palavras, feito um resgate, o próximo só poderá ser solicitado depois de no mínimo dois meses, sem exceção. Então, fique atento às carências descritas no regulamento de cada plano. Na fase de pagamento do benefício mensal, não existe resgate extra ou adiantamento, então uma necessidade pontual superior ao benefício não será suprida pelo plano. 

Como a previdência privada tem menor liquidez que outros investimentos (poupança, CDB e fundos DI), nunca podemos depender dela para recursos emergenciais ou gastos extras. Sempre precisamos ter outra aplicação à mão como um colchão de liquidez. 

- Risco de crédito da carteira de investimento: assim como um fundo de investimento tradicional, quem investe em PGBL e VGBL também corre o risco de crédito dos ativos (títulos públicos ou privados) da carteira durante a acumulação dos recursos. A experiência, o critério e a política de aprovação de crédito do gestor pesam bastante nessa hora. 

- Risco de crédito da seguradora: este sem dúvida é o risco mais desconhecido por quem investe em previdência privada. Vamos fazer um paralelo com fundo de investimento para esclarecer este ponto. 

Ao investir num fundo, o cotista é detentor de uma fração dos ativos do fundo. Na eventual quebra do distribuidor (normalmente um banco) ou do administrador/gestor (asset manager) os ativos ainda pertencem aos cotistas. Substitui-se a instituição que quebrou e a vida segue. 

Já os ativos adquiridos com investimentos na previdência privada pertencem à seguradora, ou seja, você transfere o seu recurso à seguradora, e esta compra quotas de fundos que rentabilizarão o dinheiro. Recuperar o seu dinheiro caso a seguradora quebre significa entrar na massa falida da mesma. Portanto, a solidez da instituição seguradora (e tomar cuidado para não se confundir com o banco que distribui os planos na agência) é de suma importância. Um fator mitigante deste risco é a reserva técnica da seguradora, cujo saldo é continuamente acompanhado pela Susep. 

A legislação já permite a venda de planos "blindados", que significa que o investidor é o próprio cotista do fundo de investimento especialmente constituído, mas até agora poucas (ou nenhuma) seguradora os lançou no mercado. 

Enfim, todo produto de investimento possui uma relação de risco e retorno inerente às suas características. Tendo clareza dos riscos que você está correndo, fica mais fácil ponderar os benefícios e decidir se vale investir, sobretudo em época de crise de confiança em algumas instituições. 

Para não achar que sou contra investir em previdência, declaro que eu aplico regularmente e recomendo a todos. A legislação brasileira avançou muito quanto à regulamentação e fiscalização dos planos de previdência, mas a consciência sobre os riscos é importante na hora de escolher o plano ideal e a seguradora que gerenciará a sua aposentadoria por vários e vários anos. 

Liao Yu Chieh é professor do Ibmec São Paulo, profissional do mercado e possui a certificação Certified Financial Planner 

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