05 de Janeiro de 2010 - 15h:23

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Embargo da Rússia aos EUA pode beneficiar frango brasileiro

Por: Agência Estado

A decisão da Rússia de suspender a importação de aves com presença de cloro pode favorecer o Brasil, com maior espaço para o frango nacional no disputado mercado de carnes. A medida, em vigor desde o dia 1º, afeta diretamente as exportações de frango dos Estados Unidos, que já haviam sofrido, em dezembro, um corte de aproximadamente 20% na cota de importação que a Rússia destinava àquele país. A Rússia é o maior importador mundial de carne de frango e o principal comprador das aves norte-americanas.

O presidente executivo da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef), Francisco Turra, disse, em entrevista à Agência Estado, que o Brasil é o grande beneficiado com a restrição. "Se a decisão for realmente aplicada, os Estados Unidos estariam fora desse mercado, e apenas o Brasil tem hoje capacidade para aumentar suas exportações e atender a essa demanda", assegura. Segundo ele, devido às condições climáticas no País, a indústria dispensa o uso do cloro na defesa sanitária. Já os Estados Unidos, mais expostos a doenças como a gripe aviária, teriam grande dificuldade em abrir mão da substância.

Em 2010, os Estados Unidos teriam direito a exportar 600 mil toneladas de frango para a Rússia sem tarifas de importação. O volume corresponde a mais de 75% da cota não-tarifária de importação russa de aves para este ano, de 780 mil toneladas.

Ao contrário dos Estados Unidos, o Brasil não dispõe de uma cota não-tarifária própria para exportar frango para a Rússia. Em 2010, o País disputa com outros exportadores uma fatia de apenas 35 mil toneladas. As exportações fora dessa cota sofrem uma taxação de 95%. Com isso, o Brasil vem perdendo participação no mercado russo. "Há alguns anos, exportávamos mais de 200 mil toneladas para a Rússia. Esse volume caiu para 150 mil em 2008 e para aproximadamente 75 mil toneladas em 2009", diz Turra. Ao todo, o Brasil exportou cerca de 3,7 milhões de toneladas de carne de frango no ano passado, estima o presidente da Abef.

"Para o Brasil, que é o maior exportador do mundo, essa pode ser uma boa oportunidade para ampliar sua participação no mercado russo. E o aumento de market share é muito importante nesse momento em que a Rússia vem reduzindo as compras externas, devido aos investimentos para aumentar a produção doméstica", comentou o analista especializado no setor de alimentos Rafael Cintra, da Link Investimentos, em relatório divulgado hoje. Os russos, que tentam se tornar autossuficientes na produção de aves e suínos, vêm reduzindo progressivamente sua cota anual de importações. O volume, que foi de 1 milhão de toneladas em 2008, deve cair para 550 mil toneladas em 2012.

Turra afirma que os participantes do setor ainda estão cautelosos em relação aos benefícios que o Brasil pode colher com o embargo russo. "A decisão de proibir o frango com cloro já era para ter valido no passado, e foi adiada. Resta saber se, desta vez, ela será mesmo irrevogável", indaga. "É preciso lembrar que os Estados Unidos são um parceiro estratégico para a ambição russa de entrar na OMC (Organização Mundial do Comércio)", pondera. No próximo dia 19, representantes do Ministério da Agricultura e da indústria de carnes do País vão se encontrar com membros do governo russo na Alemanha. "Vamos reiterar nosso pleito de ter uma cota para o Brasil. Dessa vez, estamos otimistas", afirma Turra.

Se por um lado a decisão pode estimular as exportações a partir do Brasil, beneficiando empresas como BRF-Brasil Foods e Marfrig Alimentos, por outro consiste em uma notícia negativa para a JBS Friboi, que acabou de finalizar a compra do controle da segunda maior processadora de frango dos Estados Unidos, a Pilgrim's Pride. A empresa norte-americana se recupera após passar meses em recuperação judicial.

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